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Visibilidade Intersexo: Saúde mental, autonomia e luta por inclusão 

leticia david psicologa

Ser uma pessoa intersexo é muito mais comum do que muitos pensam. Imagina crescer e  perceber que o seu corpo não se encaixa nas definições tradicionais de “masculino” ou  “feminino”. Para milhões ao redor do mundo, essa é uma realidade que envolve desafios  únicos, especialmente em relação à saúde mental e à autonomia.  

 

Quem são as Pessoas Intersexo? 

Pessoas intersexo nascem com características físicas que não correspondem ao que é  convencionalmente esperado para o sexo masculino ou feminino. Isso não é uma condição rara – é algo que afecta cerca de 1 em cada 2.000 pessoas. E, no entanto, por falta de informação, elas enfrentam estigma e discriminação. No passado (e até hoje, em muitos casos), é comum que bebés intersexo passem por cirurgias e tratamentos para “adequá-los” a  uma das categorias de género, muitas vezes sem o seu consentimento. 

Esta imposição de normas pode criar uma série de conflitos internos e traumas que duram toda a vida. Imagine como seria crescer sem entender porque é “diferente” ou sem saber que  existem outras pessoas como você. Para a saúde mental, isso significa enfrentar desafios como  ansiedade, depressão e baixa auto-estima. 

 

O efeito do estigma e da pressão social 

Muitos jovens intersexo passam por experiências de bullying e exclusão, tanto na escola  quanto em casa. Essa pressão constante para “escolher um lado” e a falta de aceitação pode  fazer com que se sintam solitários e incompreendidos. Na terapia, frequentemente  encontramos jovens e adultos que carregam esses sentimentos desde a infância, o que afeta  as suas relações e a visão que têm de si mesmos. 

Além disso, o estigma não se limita ao espaço físico. Na era das redes sociais, jovens intersexo  podem ser vítimas de cyberbullying e ataques online, o que amplia o impacto emocional e  agrava a sensação de vulnerabilidade. 

 

Contributos e dicas de uma Psicóloga para apoiar a comunidade intersexo 

Como psicóloga, acredito que pequenas mudanças no nosso quotidiano podem fazer uma  grande diferença para pessoas intersexo. Aqui estão algumas sugestões práticas para quem  procura entender melhor e apoiar: 

  1. Educação é o Primeiro Passo 

Informe-se sobre o que significa ser intersexo e as questões que envolvem esta experiência.  Ler sobre o tema, procurar documentários e ouvir histórias pessoais são ótimas formas de  aumentar a empatia e a compreensão. Se é profissional de saúde, procure formação e  ferramentas para abordar a realidade intersexo de forma acolhedora. 

  1. Respeitar e Valorizar a Autonomia 

Para a saúde mental, é essencial que as pessoas intersexo sintam que têm o controlo sobre os  seus corpos e as suas identidades. Isso significa respeitar as suas escolhas de género e as 

características físicas que possuem. Ao lidar com uma pessoa intersexo, jamais presuma que  ela precisa de “correcções”. Em vez disso, esteja disponível para ouvi-la e apoiar as suas  decisões. 

  1. Criar e Participar de Redes de Suporte 

O isolamento é um grande fator de risco para a saúde mental de pessoas intersexo. Encorajar a  participação em grupos de apoio e encontros comunitários, como os promovidos por  organizações LGBTQIA+, é fundamental para criar um senso de pertença. Grupos de apoio,  tanto presenciais quanto online, oferecem a oportunidade de trocar experiências e criar laços  de solidariedade, fortalecendo a resiliência emocional. 

  1. Procurar Terapias que Acolham a Diversidade 

Para profissionais, é essencial oferecer terapias que validem a experiência intersexo e que  ajudem na superação de traumas e no fortalecimento da identidade. A Terapia Focada na  Compaixão, por exemplo, pode ser muito útil para trabalhar a autocompaixão e lidar com o  estigma internalizado. Como psicóloga, eu sempre recomendo que as pessoas encontrem  terapeutas que respeitem as suas vivências e criem um espaço seguro para explorar questões  de identidade e aceitação. 

 

Criando uma sociedade mais inclusiva 

A luta por visibilidade e aceitação das pessoas intersexo ainda está em curso. É preciso  continuar a incentivar o debate, promovendo políticas públicas que respeitem a autonomia  dessas pessoas e educando a sociedade sobre as suas vivências. Que o Dia Internacional da  Visibilidade Intersexo seja uma lembrança de que há muito a ser feito, mas também uma  celebração das conquistas e da força desta comunidade. 

Promover a saúde mental é também promover a autonomia e o respeito. Cada um de nós tem  um papel nesta mudança: seja educando-se, apoiando as políticas inclusivas, ou simplesmente  ouvindo e respeitando. Juntos, podemos construir uma sociedade em que todos, independentemente das suas características, possam viver com orgulho e sem medo. 

 

Letícia David, Psicóloga