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Lúcia e Vera eram amigas, conheciam-se há muitos anos, até que um lado mais romântico tomou conta de ambas. 

No seguimento da sua relação, consideraram que o casamento seria o passo a dar a seguir, principalmente para realizar o sonho de Vera e acautelar algumas questões legais, que protegeriam a sua família no futuro. 

Enquanto procuravam uma quinta para celebrarem o seu matrimónio, depararam-se com perguntas como: “Que giro, são amigas e querem casar no mesmo dia?” – questões que surgem pontualmente, aqui e ali, partindo-se do pressuposto de que duas mulheres juntas serão amigas, quanto muito primas, mas não um casal. Felizmente, apesar destes percalços, a boda aconteceu e belíssimas fotos exemplificam a sua felicidade. O reverso da moeda surge quando decidem engravidar e são confrontadas com a enorme lista de espera que existe nos centros de procriação medicamente assistida (PMA), do serviço nacional de saúde. Valeu-lhes a clínica IVI, em Lisboa, tendo recorrido às suas próprias economias para realizar uma inseminação artificial. O acaso, o destino, ou um fado contente, permitiu-lhes engravidar à primeira, se bem que, na fase inicial da gravidez de Vera, Lúcia descobriu um cancro agressivo na mama.

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Apesar de todas as complicações causadas pela saúde de Lúcia, o casal mostrou uma resiliência inspiradora, principalmente quando estiveram num programa da TVI, a partilhar a sua história, o que as levou a criar a página “o.nossodiario”, no Instagram, para responderem ao apoio que iam recebendo, bem como para poder ajudar outras mulheres que estivessem a atravessar momentos semelhantes.

 

Este casal de mulheres desmistifica a palavra “lésbica” e por isso abrem uma janela para a sua vida familiar, com o objectivo de contribuir para a normalização da sua relação afectiva, partilhando os momentos que vivem com a sua bebé Matilde. Alertam-nos, ainda, para a necessidade de se actualizarem os documentos oficiais da segurança social e do registo civil, nos quais, ainda, surgem a palavra “pai”, sendo que funcionários e funcionárias não estão tão sensibilizados para os casais de mulheres. Neste caso em particular, e em muitos outros, uma da mães tem sempre de escrever o seu nome no espaço reservado ao “pai”. Vera e Lúcia sublinham a urgência de se alterarem estes documentos, recorrendo, nomeadamente, ao uso da palavra “filiação”, indo ao encontro dos tempos que vivemos, visto que o alargamento da PMA foi aprovado a 13 de Maio de 2016.

Longe de uma perfeição que é, para todas nós, utópica, Lúcia, Vera e Matilde inspiram a sociedade portuguesa e mostram que, apesar das limitações que possam surgir, é possível vencer a lesbofobia, formar uma família (casando-se ou não) e gerar bebés. Esta família representa tantas outras que, ao dia de hoje, são reconhecidas legalmente e celebram o facto de poderem existir e multiplicar os cravos vermelhos, que simbolizam o amor de todas nós em cada uma das suas pétalas.

 

Márcia Lima Soares