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"Carol" de Todd Haynes: Haverá beleza na solidão? (com vídeo)

Crítica: 4,5 estrelas

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O filme “Carol” (2015) de Todd Haynes estreia em Portugal depois de no ano passado ter sido seleccionado para o Festival de Cinema de Cannes, de ter saído da Croisette com o prémio de melhor actriz, entregue a Rooney Mara, de lhe ter sido entregue a Queer Palm e de ser um dos filmes da actual temporada de prémios. Recebeu seis nomeações aos Óscares, cinco para os Golden Globes, nove para os BAFTAs e muitas mais. A realização de Haynes, a fotografia de Edward Lachman, a banda sonora de Carter Burwell e as interpretações de Cate Blanchet e Rooney Mara têm sido bastante elogiadas.

Baseado num dos romances mais aclamados de Patricia Highsmith, “O Preço do Sal”, ou simplesmente “Carol”. Todo este hype (ou propaganda ou marketing, se preferirem) fazem com que o filme estreie com expectativas muito altas. É sempre preferível ver um filme sem as termos, mas às vezes é impossível. E é isso que acontece com esta película. É imprescindível ir vê-lo, mas a excitação deverá ficar do lado de fora da sala.

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Todd Haynes regressa aos seus temas habituais: os anos 1950, a homossexualidade e o questionamento das regras sociais. Therese Belivet (Rooney Mara), uma empregada de um grande armazém, conhece Carol Aird (Cate Blanchett), uma mulher mais velha que se encontra a viver um momento conturbado no seu casamento. As duas tornam-se amigas, com o tempo, a ligação torna-se mais íntima, e a amizade converte-se em paixão. Mas quando a relação se torna evidente, o marido de Carol retalia pondo em causa a sua competência enquanto mãe, exigindo a guarda total da filha de ambos. É então que Carol, desesperada, desafia Therese a fazer uma longa viagem…

O filme começa e a primeira imagem que se vê é a tampa de respiração do metro, ao fundo ouve-se o barulho das pessoas a saírem da composição em passo apressado. Começam os acordes da banda sonora e vemos uma personagem sozinha a caminhar na rua por entre pessoas. E assim do nada, sem darmos conta, estamos dentro dum quadro de Edward Hopper. A cor, a luz, as pessoas, tudo faz lembrar o trabalho do pintor realista americano. E a solidão. Sobretudo, o que se vê é a solidão. A solidão daquelas duas mulheres que se amam. Mas será que realmente se amam?

Depois do visionamento do filme, uma outra pessoa que também já o tinha visto, referiu-se ao filme como sendo superficial. É aí que se encontram algumas das suas poucas fragilidades. E é por isso que se percebe que não tenha sido nomeado aos Óscares para Melhor Filme e Melhor Realizador, apesar de toda a campanha que teve.

A solidão por vezes domina o filme. A solidão do classicismo de Haynes, ou a de cada um dos personagens, tanto do par de protagonistas, como a do marido ou a da melhor amiga. Essa solidão tende a prender a película a regras e normas, impedindo-a de se libertar e ser quem ela própria é. Esta situação é contraditória, visto as personagens lutarem avidamente para se libertarem das amarras e das convenções sociais que as enjaulam na norma imposta pelos demais. Mas tudo isto é extremamente injusto quando estamos perante a beleza que é este filme.

4,5 estrelas em 5

 

Luís Veríssimo