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Chicos: Conhece os autores do projecto que oferece várias reflexões sobre o universo gay

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Com dois meses de existência “Chicos” está nas bocas do mundo. A ousadia de dois jovens empreendedores brasileiros Fábio Lamounier e Rodrigo Ladeira deu forma a um projecto que conquistou vários fãs desde o primeiro minuto. O ensaio do casal de namorados Filippe e Marlon na Avenida Paulista (São Paulo) repercutiu em diversões países e surpreendeu os próprios autores. “Chicos” desnuda o Corpo e a Alma e oferece várias reflexões sobre o universo gay. Por vezes há, para o leitor, uma identificação com as histórias retratadas. Não existe um padrão. A diversidade de corpos, vivências é a mais-valia deste projecto que tenta retratar o universo gay em todas as suas vertentes. Alguns amam, outros nem por isso, mas é impossível ficar indiferente. Antes de visitar o portal leia a conversa com os dois autores do projecto.

dezanove: Como foi o processo de criação do projecto “Chicos”?

Fábio Lamounier e Rodrigo Ladeira: O projecto surgiu duma vontade nossa de produzir algo que fosse relacionado à nossa sexualidade e corpo. Ambos somos gays e nos assumimos na mesma época, e sempre escutamos experiências similares e diferentes de outros amigos também homossexuais. Acompanhamos outros trabalhos e revistas com este mesmo tema, mas todas são internacionais. Sentimos falta de uma que fosse realizada no Brasil, ainda que tivesse um carácter internacional, então resolvemos iniciar o projecto.

 

É fácil encontrar pessoas disponíveis para participar no projecto?

No início do projecto era um pouco mais difícil - por este mesmo motivo que começamos com amigos e conhecidos. Aos poucos o “Chicos” foi tomando forma e ficando mais conhecido, e novas pessoas se sentindo à vontade em participar. Agora temos vários voluntários cada vez mais distantes do nosso círculo social, o que é fantástico. Assim podemos retratar realidades diferentes das que estamos cercados diariamente.

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Tem sido mais fácil desnudar corpos ou almas?

É uma pergunta difícil de responder, pois, na maioria das vezes, quando cada participante se desnuda das roupas e das próprias histórias, ele está desnudando a alma também. Para alguns estar nu é um acto político, e o depoimento que se segue é exactamente sobre isto. Há outros personagens que têm uma liberdade e um desejo maior em exibir as suas formas e este corpo se evidencia um pouco mais que o depoimento - mas no final das contas, o corpo também fala dessa característica, então eles sempre vêm juntos: o corpo e a alma.

 

As entrevistas não são padronizadas. Algumas pessoas falam das suas vivências pessoais ou familiares, outras da sua sexualidade, complexos… Como conduzem cada conversa e escolhem qual a questão importante que deve ser focada?

Geralmente conversamos antes com todos os participantes, já os preparamos sobre as perguntas e deixamos no ar se eles possuem algo ou um caso que gostariam de nos contar. Há participantes que já vêm com o 'texto' que vão dizer pronto, outros vamos extraindo à medida que vamos perguntando - sobre assumir-se para si mesmo e família, preconceitos sofridos, construção de identidade, medos, conquistas, sexualidade e sexo, e por aí vai caminhando. Escolhemos extrair talvez o que nos chame a atenção ou nos toque, no sentido de não termos explorado antes no depoimento de outra pessoa o mesmo assunto, por exemplo.

 

Penso que o processo de identificação é muito importante para o projecto. Fazem questão de ter diferentes corpos e personalidades. Devem ser quebrados certos preconceitos que existem dentro da comunidade gay. Todos são seres humanos complexos, interessantes e com a mesma capacidade de amar.

Trabalhamos em 'duas frentes', podemos dizer assim: o corpo e o depoimento. Muitas pessoas podem se identificar com o corpo de outra (seja por ser ou já ter sido similar, de tamanho, cor, etc.), mas não necessariamente com o que ela diz - e vice-versa. Queremos explorar as variadas formas que essa equação pode nos proporcionar, das relações pessoais com o próprio corpo e o discurso/depoimento que cada um carrega por dentro. O processo de identificação do leitor passa por esse caminho do subjectivo. No final, é como você mesmo colocou: todos são humanos, nos seus defeitos e qualidades, e com a mesma capacidade de amar.

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Alguma vez sentiram receio que o projecto fosse rejeitado por abordar duas questões ainda polémicas (nudez e homossexualidade/bissexualidade) na nossa sociedade?

Sentimos que inicialmente seria rejeitado por grupos religiosos extremistas e conservadores de modo geral - por se tratarem de dois assuntos que lhes seriam polémicos. Talvez o que nos tenha pegado de surpresa seja a reação de dentro da própria comunidade gay. Entre apoio e rejeição, tivemos grupos que reclamam não se sentirem representados pela imagem e depoimento dos que estão no site, ou que a presença de corpos ditos 'padronizados' inibam a presença de outros. É como respondi anteriormente, os caminhos de identificação são subjectivos, e não necessariamente iremos nos identificar com os que estão ali presentes. O objectivo do projeto não é pura e unicamente a representatividade de todo e qualquer corpo, género, depoimento - até porquê é algo impossível. Somos por demais múltiplos e complexos para conseguirmos ser representados por inteiro e por um único personagem. Desta mesma forma, a vivência e experiência da sexualidade também é algo pessoal. Estamos explorando em histórias e experiências individuais estes corpos e estes discursos, que podem ou não ter um carácter colectivo. 

 

Qual tem sido a receptividade do público?

Têm variado entre rejeição e aprovação - grande parte delas, de dentro da própria comunidade gay. Mas a aprovação maior vem dos participantes e conhecidos, que vivenciam o processo de desnudar-se. Muitos nunca posaram nus antes. 

 

O ensaio do casal Filippe e Marlon na Avenida Paulista deu uma visibilidade enorme ao projecto. Vocês foram notícia em diversos países, incluindo Portugal. Como reagiram a isso? Algum dia pensaram que a internet poderia ter este poder?

 Já há mais ou menos cinco anos trabalhámos com vídeos voltados para a internet. Sempre tivemos alguns casos de grande repercussão, mas nunca nesse ponto. Acreditamos que o acto em si que o casal se propôs a fazer e nos convidou para registrar seja algo que desperte o interesse das pessoas. Talvez esse seja um dos motivos principais para tantas partilhas.
Para nós, quando vimos que estávamos a ser lidos em Portugal, EUA, Israel e Alemanha, foi uma grande surpresa. Ficamos impressionados. Não tínhamos controlo algum sobre o que as pessoas partilhavam nem o que opinavam sobre nosso projecto. Muitos misturaram o objectivo do casal ao fazer o acto e o objectivo do projecto, mas com o tempo fomos explicando. Acredito que hoje as pessoas compreendem um pouco melhor sobre o que é o projecto Chicos.

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Como imaginam a evolução do Chicos? 

Estamos em fase de experimentação. Iremos entrar com trabalho de colaboradores em breve, que irá dar uma maior diversidade nos depoimentos, personagens e nas imagens. Queremos mais para a frente fazer um livro, tornando grande parte destas histórias impressas.

 

Para visitar “Chicos” aceda ao site www.chicos.cc

Também pode seguir este projecto no Facebook e Instagram

 

Entrevista realizada por Carlos Maia