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600 casos de homens vítimas de abusos sexuais pediram ajuda à Quebrar o Silêncio

quebrar o silencio abuso sexual

A Quebrar o Silêncio voltou a registar um aumento nos pedidos de ajuda e nos seis anos de existência contabilizou cerca de 600 casos de homens vítimas de abusos sexuais. A associação celebra o seu sexto aniversário hoje, 19 de Janeiro, e para assinalar a data apresenta novos dados. Em 2022, 127 homens e rapazes vítimas de abuso sexual procuraram a associação, com uma média de 10,5 novos casos por mês. Janeiro e Setembro foram os meses com a maior procura, tendo a associação registado 18 novos pedidos em cada um destes meses.

Em 2022, no total foram registados 209 pedidos de apoio: 

  • 127 de homens e rapazes vítimas de abuso sexual;

  • 54 de familiares e pessoas amigas de homens sobreviventes;

  • 19 de mulheres vítimas de violência sexual;

  • 4 de homens vítimas de violência doméstica;

  • 5 casos cuja informação é incompleta.

No total dos seis anos de existência, a Quebrar o Silêncio registou 594 pedidos de ajuda de homens e rapazes vitimas de violência sexual. “À medida que trabalhamos para aumentar a visibilidade da Quebrar o Silêncio, recebemos mais pedidos de apoio de homens e rapazes que foram vítimas de violência sexual e que agora sentem segurança para nos contactar. São homens que vêem as suas vidas afectadas pelo abuso sexual a nível pessoal, social e profissional. Muitos relatam problemas em estabelecer relações de confiança com os outros, dificuldade em relaxar, estando permanentemente em alerta, baixa auto-estima e assertividade, níveis altos de ansiedade e problemas na sua vida íntima e sexual”, indica Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio. 

“No entanto, é preciso clarificar que este sofrimento nem sempre é visível para as outras pessoas, como os familiares destes homens, amigos ou colegas. Ou seja, muitos destes homens vivem as suas vidas sem que as pessoas se apercebem da sua dor, camuflando, a muito custo, o seu sofrimento dos outros. É como se usassem uma máscara que não pode ser removida. A sociedade ainda não evoluiu para aceitar a realidade de que um em cada seis homens é vítima de abuso sexual e, por isso, estes homens não sentem a segurança necessária para partilhar as suas histórias. A maioria demora mais de 20 anos até ser capaz de fazê-lo”, complementa Ângelo Fernandes.

 

Homens e rapazes sobreviventes sem perfil

Dos 127 homens e rapazes que procuraram apoio em 2022, a média de idades é de 36 anos. O sobrevivente mais novo tinha 16 anos e o mais velho 67 anos. “Apesar de o tempo de silêncio ser, em média, mais de 20 anos, cada vez mais vemos jovens vítimas a procurar o nosso apoio. Isto é extremamente positivo, pois permite que façamos uma intervenção mais cedo. Independentemente da idade, há algo em comum a estes homens: para a maior parte é a primeira vez que partilham a sua história de abuso com alguém e também é a primeira vez que procuram apoio”, explica o presidente da Quebrar o Silêncio.

O número de pedidos de homens vitimados em idade adulta também aumentou. “A maioria dos casos ocorre na infância. No entanto, registamos, cada vez mais, casos de abuso em idade adulta e em vários contextos, como na intimidade, entre casais, saídas nocturnas ou mesmo no contexto da saúde. Para estes homens há um conjunto de outros obstáculos à procura de apoio, nomeadamente o estigma muito grande relativamente aos homens adultos que são vítimas de violência sexual. Persistem ideias erradas, como por exemplo, que um homem adulto não pode ser abusado sexualmente pois tem a obrigação de se defender e de evitar o abuso. Estas crenças estão erradas e promovem o silêncio destes homens”, defende Ângelo Fernandes.

Quanto ao perfil dos homens vítimas de abuso sexual, este não existe. “Temos homens com doutoramentos, outros com o 9º ano de escolaridade, homens casados, solteiros e divorciados, uns sem filhos, outros já com netos. Uns estão empregados, alguns são donos do seu próprio negócio, outros estão em situação de desemprego. Ou seja, não há um perfil social destes homens. Apenas sabemos que são os amigos, colegas, maridos, pais e familiares de todos nós“, garante Ângelo Fernandes.

 

Programação para 2023

Para 2023 a Quebrar o Silêncio tem vários projectos pensados, nomeadamente a publicação de um guia para a comunicação social. “Em 2023 vamos lançar um guia para os órgãos da comunicação social, para auxiliar na escrita de notícias sobre violência sexual e também com orientações para entrevistar vítimas de abuso sexual. O objectivo deste guia é ser um recurso para a escrita de notícias e de outros conteúdos noticiosos relacionados com a violência sexual. Esperamos lançar o guia em Março. O lançamento será acompanhado por um workshop gratuito para jornalistas e profissionais que trabalhem em órgãos noticiosos”, esclarece Ângelo Fernandes.

A formação de profissionais continua a ser um dos objectivos principais da associação Quebrar o Silêncio. “Ao longo destes seis anos temos investido, cada vez mais, na formação de profissionais, nomeadamente das áreas da enfermagem, medicina, serviço social e psicologia. Observamos que há uma necessidade de consolidar conhecimentos a nível das definições de consentimento, violência sexual, sexo e relações sexuais, trauma e outras questões relacionadas com estas matérias. Por isso, queremos contribuir para a solidificação destes termos e conteúdos”, avança o presidente da Quebrar o Silêncio.

Durante o ano de 2023, a Quebrar o Silêncio planeia realizar mais workshops de prevenção do abuso sexual de crianças, dirigido aos pais, mães e pessoas cuidadores. Está também planeada a segunda edição do evento “Jornadas sobre violência sexual”, que pretende ser uma acção complementar à formação que a Quebrar o Silêncio realiza para profissionais.