praia 19

A palavra “mariconço” é um insulto ou pode ser usada no quotidiano? (com vídeo)

 

“Quando digo às minhas filhas que não sejam maricas, não estou a pedir-lhes que não sejam homossexuais masculinos. Elas sabem, aliás, que, se quiserem ser homossexuais masculinos, o pai não se opõe.” Ricardo Araújo Pereira voltou ao significado das palavras “mariconço” e “maricas”, numa crónica publicada na edição desta semana da revista Visão.

 

O debate tem alimentado as redes sociais nos últimos dias após uma entrevista do humorista ao jornal I, há uma semana, onde falava sobre a questão do politicamente correcto e a dificuldade de usar, actualmente, certos termos em contexto de humor. “Os pessoas hoje tendem a interpretar as palavras literalmente. Assim como acham que o Cartão do Cidadão é só homens. Fazem interpretações literais”, justificou Ricardo Araújo Pereira, ao mesmo tempo de considerava difícil voltar a fazer nos dias de hoje um sketch sobre os aspectos físicos como o do “coxo”, “marreco” e “mariconço”, que criou nos primeiros anos do Gato Fedorento, na SIC Radical.

As críticas têm surgido de vários quadrantes. Em tom irónico, Fernanda Câncio escreveu no Diário de Notícias que “urge criar um movimento para a recuperação de termos tão lindos como ‘escarumba’, ‘judiaria’ e ‘ciganagem’”. O ex-presidente da ILGA Portugal, Paulo Côrte-Real, também fez o reparo às palavras do humorista no blogue Jugular: “Conhecendo a dinâmica dos crimes de ódio como conheço, também conheço a sua ligação aos insultos. É também por isso que para mim é importante que os insultos sejam controlados, há liberdades fundamentais em causa. E que as pessoas percebam o impacto que esses insultos têm, para que possam controlá-los”. Como Ricardo Araújo Pereira tem sido o apresentador dos Prémios Arco-Íris, promovidos anualmente pela associação LGBT, Côrte-Real aproveita para deixar o recado: “Espero que este ano nos Prémios, supondo que a tua adesão se mantenha, haja boas piadas do Ricardo Araújo Pereira não sobre o Arroja ou sobre o Trump, mas sobre o Ricardo Araújo Pereira.”

Também o escritor e crítico literário Eduardo Pitta questionou no blogue Da Literatura: “Ricardo Araújo Pereira lamenta não poder achincalhar os mariconços. Eu não sei o que é um mariconço. Será uma bicha de call center? Um entertainer? Lamento pelo Ricardo, homem culto e inteligente, de quem gosto, mas assim não vamos lá. A sorte dele é ser o Ricardo, caso contrário teríamos meio mundo a dizer dele o que Mafoma não disse do toucinho”. No mesmo post Eduardo Pitta relembra que em inglês o termo queer é usado com orgulho. “E não há forma de traduzir queer senão por bicha”, aponta.

Já o director-executivo do jornal I, Vítor Raínho, apontou a mira à esquerda e à vontade de legislar: “Para o politicamente correcto para o qual a sociedade portuguesa tem caminhado, sob a batuta da esquerda bem pensante, simples provocações passaram a ter um significado maléfico.”

 

12 Comentários

  • Horácio Pena

    Não há pachorra já! Nem, também para RAP’s. A vida deve ser mais exigente que o humor e o gozo. Os humoristas não sabem estar de passagem. Querem perpetuar-se, estilhaçam-se e perdem a graça. Arrastam-se… sem piada.

  • João Miguel Gomes Delgado

    A liberdade de uns acaba quando está põem em causa a liberdade do outro, e neste aspecto Paulo Côrte-Real diz referis isto muito bem quando diz
    “Acho que tu e eu gostamos da liberdade de expressão. Mas acho que, por isso mesmo, concordarás comigo: a primeira liberdade de expressão é a da identidade. De cada vez que uma pessoa não sobrevive, mas também de cada vez que uma pessoa sobrevive controlando cada gesto ou cada palavra, de cada vez que uma pessoa é forçada a negar-se, é essa liberdade de expressão que está em causa. A primeira.”

  • Anónimo

    Se um “humorista” não consegue fazer “piadas” sem recorrer a discurso de ódio, então não é lá muito bom “humorista” em primeiro lugar…

  • Anónimo

    Eu, sendo gay com 58 anos de idade, deixei de ter paciência para estas “paneleiradas” do politicamente correcto.
    Quando o Joaquim Monchique faz as peças da “bicha antiga”, toda à gente acha piada sem sequer perceber que é um achincalhamento brutal.
    Pelo Facebook pululam posts em que o insulto mor é chamar gay a alguem.
    Preocupem-se com o que interessa.

  • Francisco

    Nunca gostei especialmente do RAP. Sempre o achei um vaidoso inteligente (porque o é) falsamente modesto. Também não aprecio muito as pessoas que acham que, de cada vez que abrem a boca, têm de ser “engraçadinhos”, mesmo quando invocam a pretensa necessidade de desconstruir tabus, aspirando a protagonistas de uma espécie de pioneirismo intelectual heroico e revolucionário. As palavras têm um carga simbólica não despicienda. Muitas vezes, as intervenções particularizantes como as de RAP (pelo uso daquelas palavras específicas) reforçam a lógica geral e cristalizam as particularidades que, supostamente, pretendem exorcizar. Chama-se a isto o “dilema da diferença”: ao invés de salvar distâncias, o cultivo da diferença consolida-as.

  • Anónimo

    Quando escreve termos como “politicamente correcto”, percebe-se que não tem argumentos.

  • Anónimo

    Quando implica com o termo “politicamente correcto”, percebe-se que não tem argumentos.

  • Anónimo

    “Politicamente correcto” é um chavão utilizado pela extrema-direita para se referir a qualquer pessoa que não seja uma besta preconceituosa. Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.

  • Anónimo

    Ativistas radicais, já não ha liberdade de expressão, há coisas bem mais preocupantes de que um humorista utilize a palavra “mariconço”…
    radicáis, tudo o que é excessivo não é nem bom, nem saudável…
    Deveriam deixar claro a vontade de controlar o discurso de um indivíduo, o que é uma forma de opressão.

  • Amigo

    Sempre haverão resistências quando as pessoas – geralmente por falta de coragem e resiliência – abrem mão de serem elas mesmas! Assim como há profissionais que abrem escritórios ou consultórios, sem terem amplo conhecimento técnico da profissão em que são diplomados, assim o é, na relação a dois: se o homem já se “atormenta” quando ocorre não estar tendo uma vida conjugal “prazerosa” com esposa ou namorada, imagina estando com outro homem já excitado por ele e ele ali sem puder dar “reciprocidade”; via de regra é mais “comum” duas mulheres terem orgasmo juntas, do que dois homens (geralmente sentem-se mais “cobrados” em ter libido quando é bissexual com homossexual)!