A representante da Austrália no Festival Eurovisão 2018 concedeu uma entrevista ao site dezanove.pt onde fala de coração aberto sobre a sua relação de proximidade e apoio às pessoas LGBT. Jessica Mauboy vai defender “We Got Love” na segunda semi-final, marcada para dia 10 de Maio, no Pavilhão Altice Arena, em Lisboa.
dezanove: Tem tido muitos seguidores na comunidade gay e lésbica ao longo da sua carreira – desde o beijo em palco ao ícone gay Ricky Martin à atuação no “Mardi Gras” na Austrália para sensibilizar o público e aumentar o diálogo sobre o HIV. Quão importantes são para si os seus fãs LGBTQI?
Jessica Mauboy: Eu vivo mesmo ao pé de Oxford Street em Sydney – o coração da comunidade LGBTQI de Sydney – é uma parte maravilhosa da cidade e muitos dos meus amigos mais próximos são membros muito ativos da comunidade – essa é a minha “máfia”. A comunidade indígena na Austrália sempre sentiu uma profunda compreensão e empatia com as comunidades gay, o que constitui um impulso igualmente importante para a igualdade e os direitos legais.
A comunidade indígena na Austrália sempre sentiu uma profunda compreensão e empatia com as comunidades gay, o que constitui um impulso igualmente importante para a igualdade e os direitos legais.
Quando a Austrália legalizou o casamento gay em 2017, eu conduzi pela Oxford Street com as janelas abertas gritando de alegria. Já atuei oficialmente duas vezes no “Mardi Gras” em Sidney – uma vez na festa principal logo após o desfile e outra na incrível “Harbour Party” na costa de Sidney – dois dos momentos de que mais me orgulho. Mas eu participo todos os anos e torço sempre com mais força pela minha cidade natal, Darwin, e também pelas “Sister Girls” das ilhas Tiwi – procure-as na Internet – elas são as pessoas mais inspiradoras que poderá conhecer.
Já atuei oficialmente duas vezes no “Mardi Gras” em Sidney … dois dos momentos de que mais me orgulho.
Um dos pontos altos do “Mardi Gras” este ano foi, para mim, a exibição do filme “Black Divaz”. “Black Divaz” é um documentário incrível que dá uma visão verdadeira e poderosa da vidas das drag queens indígenas. Procure e veja-o! É sobre duas culturas corajosas que se unem num só corpo. Compreendendo isso, entenderá o que é a verdadeira coragem… e muito sobre a forma como eu cresci.
O meu melhor amigo no mundo inteiro, Jonny, é um dos principais membros da comunidade aborígine gay de Sydney e inspira-me todos os dias.
A Eurovisão é, sem dúvida, um dos maiores eventos LGBTQI do mundo, com imensos seguidores LGBTQI. A sua atuação em 2014, no intervalo do festival, foi a primeira por parte de uma artista não-europeia e, neste ano, os números das audiências deverão ultrapassar os 300 milhões de espectadores (com a transmissão nos EUA e China). O que sente sobre isso?
Privilegiada e esperançosa em poder inspirar e continuar a ajudar o mundo a transformar-se num lugar de maior aceitação e tolerância. A Eurovisão é um mundo MARAVILHOSO – é um mundo de diversidade, diferença e grande aceitação de que as “diferenças” podem conviver juntas num palco … é uma excelente metáfora.
Eu escrevi “We Got Love” especificamente para a Eurovisão. É uma música sobre o espírito da Eurovisão e também sobre como o amor, em qualquer matiz do arco-íris é, em última análise, a maior dádiva para nós próprios e para os outros.
A sua canção, “We Got Love”, é uma música cativante com um vídeoclipe incrível. Certamente que o tema terá sucesso, mas o que podemos esperar de si em palco?
As pessoas tem uma perceção da Eurovisão como uma ENORME e sofisticada produção – no entanto, como Portugal demonstrou tão bem no ano passado, – tem tudo a ver com o “coração”. Eu quero que a minha atuação seja eu mesma e o público juntos. Quero criar um um sentido de comunidade – um sentimento de pertença – sei que todos na comunidade LBGTQI entenderão a importância e poder disso.
Por fim, qual é a coisa que mais a entusiasma para quando regressar a Lisboa em Maio?
Vir a Lisboa para filmar o “Postal” [para a Eurovisão] foi uma revelação. Lisboa é uma bela cidade, rica em história, com um profundo amor pela arte e, em particular, pela música. É possível sentir isso por toda a parte… é uma cidade que realmente mexe consigo.
Tenho conseguido conhecer tanta coisa – como são feitos os maravilhosos instrumentos do fado, restaurantes fantásticos, algumas paisagens de ficar de boca aberta (têm de ir onde está a grande bandeira portuguesa [topo do Parque Eduardo VII], e ter a vista da cidade inteira – uau!). O próximo acontecimento que me deixa muito entusiasmada é a minha atuação na Festa dos Fãs australianos no SkyBar – “alimento-me” de cores e luz, e quero absorver alguns dos famosos fins de tarde e terraços de Portugal enquanto aí estiver.