Ficar muito tempo dentro do armário hoje pode ser uma questão de escolha, pelo menos em alguns contextos brasileiros. Entendo que tem gente que precisa estar lá dentro pra poder viver em paz com a família e até pra manter certo conforto. É um pouco triste, mas tudo bem, é como uma amiga sempre diz: “cada um sabe o tamanho do seu armário”. Sair dele é libertador. Falo por experiência própria. Mas que bom que hoje temos a opção de sair ou não dele.
Fico pensando no passado, em como essa dinâmica de ser quem você é, sendo gay, era bizarra. A gente simplesmente não podia sair do armário porque não podíamos ser gays. A sua família te expulsava de casa com 13, 14 anos, até mais cedo. Ainda acontece, claro. Menos, mas acontece. Alguns nem conseguiam empregos por isso, não podiam declarar sua sexualidade porque isso poderia impactar diversas áreas da vida. Eram tidos como doentes, iam parar em pocilgas, sendo forçados a tomar uma caralhada de droga numa tentativa desumana de reversão sexual. A tal da “cura gay”, antes de tentarem com oração, era com drogas pesadas, choques elétricos, lobotomia e uma série de experimentos violentos. Isso quando não era prisão perpétua ou execução mesmo. Não servíamos pra nada, nascemos com defeito, éramos descartáveis.
No começo da adolescência, quando fui entendendo quem eu era nesse mundo, essas questões eram mais latentes. Hoje eu sei que não se deve cobrar de ninguém que se saia do armário, por mais libertador que a gente saiba que é. Mas também é complicado ouvir de alguns gays, que hoje podem ter essa opção, que podem fazer diversas coisas que em outras épocas não poderiam, deslegitimar uma comunidade inteira que luta por igualdade, pelo fim da violência motivada por homofobia. A gente precisa ser grato por ter havido tanta movimentação de grupos que vieram antes e abriram esses espaços pra gente poder ser mais livre. Não podemos achar que só porque a gente chegou agora e as coisas estão assim, um pouco melhores, elas sempre foram assim. Houve muito sangue derramado, ainda há, pra tudo isso estar melhor para alguns.
Sinto que estamos em outra fase enquanto movimento. Estamos disputando narrativas na esfera cultural mais do que nunca. Esse debate todo sobre masculinidade, por exemplo, mexe com as estruturas dos homens. De todos eles. Dos gays, dos héteros, dos homens trans. Tá cheio de gay achando que ser homem é não ter qualquer traço de feminilidade. Existe machismo entre os gays, de um nível terrivelmente assustador. O que é contraditório, porque sempre nos disseram que não somos homens o suficiente só por gostarmos de rapazes, mesmo que sejamos gays “que nem parecem gays”.
Essa coisa de ser gay ou hétero hoje é uma discussão sobre masculinidade, eu fico retorcendo o olho sempre que ouço, mas é uma discussão que precisa ser feita. Sendo gay ou hétero, somos homens, ninguém deixa de ser homem por gostar de homem ou de mulher. O que muda é a maneira como o “ser masculino” muda pra gente. Nos disseram a vida toda que ser homem era, entre outras coisas, ser hétero. Mas sendo gays quebramos essa “lógica”, mas, pasmem, continuamos sendo homens. E eu nem estou falando de ter um pau dentro da calça.
Essas “armadilhas de gênero” estão aparecendo em todos os lugares. É bom que a gente questione o que é ser homem dentro dessa sociedade. Tenho feito essa pergunta para os homens que eu conheço: O que é ser homem para você?
William Galvão, tem 29 anos é jornalista e ativista em S. Paulo, Brasil
Um Comentário
Amigo
Para mim ser homem é mais inerente ao gênero! Uma vez um amigo que na faixa de seus 30 anos, parecia ter necessidade de estar perto de mulheres, “gentil” com elas, mas com viés sutil de “sedutor”, por volta dos 44 anos, rosto emagrecido e até usando barba (nesse caso, presumo, para que as rugas não pudessem ser avistadas), acabou me penetrando (consentido claro) e, depois naquela hora pós “intimidade” me fez a pergunta: você é carinhoso com todos (homens e mulheres)?; porque os traços fisicos teus (bigode, pelos e voz grossa), nunca havia imaginado que irias me proporcionar o prazer que acabei sentindo há pouco! Sorri e disse: nunca havia pensado em procriar, logo a beleza masculina e a virilidade do cara sempre me despertaram atração, embora reconheça a beleza e o charme femininos! A diferença entre nós é que passasse a fase mais fértil da tua vida, como que buscando gerar descendentes, numa época em que mulheres, há décadas, vem focando na profissão em que a gestação é tardia ou protelada! Finalizei dizendo que ele havia entrado na fase de “transição”: me penetrado para manter – na visão dele – o “papel” do Homem, mas que se agradei a ele “na cama”, viria ele mais a frente me pedir que fizesse oral e, chegando até a controlar na alimentação e na ingestão de bebida, por saber que faço dieta e o semêm traz incluso a metabolização do que a gente se alimenta!