As Nações Unidas declararam o dia 27 de Janeiro como o “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” para marcar o aniversário da libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. E embora o maior número dos encarcerados e assassinados pelos Nazis fossem Judeus, também se contam entre as vítimas gays e lésbicas.
Durante o Holocausto, homens gay, e em menor número lésbicas, foram presos pelos Nazis juntamente com Judeus, Ciganos, Testemunhas de Jeová e uma grande variedade de grupos incluindo padres e opositores políticos.
Após o final da guerra os homossexuais foram tratados de modo bem diferente das outras vítimas. Nanette Fodell, porta-voz do Museu do Holocausto em Dallas (EUA), fez um paralelo entre o Holocausto e os recentes acontecimentos que têm afectado a comunidade LGBT, declarando que o Holocausto começou com o bullying de crianças Judias nas escolas, e acrescentou: “o bullying transformou-se em genocídio.”
A lei que criminalizava a homossexualidade na Alemanha, conhecida como Parágrafo 175 foi publicada em 1871, mas raramente era aplicada durante a época da República de Weimar, transformando Berlim numa das cidades onde os gays se sentiam melhor. No entanto, após a ascensão do Terceiro Reich, o Parágrafo 175 começou a ser cumprido e permaneceu nos livros mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial.
O Museu do Holocausto em Washington estima que cerca de 100.000 homossexuais tenham sido presos na Alemanha e nos países mais tarde ocupados pelos Nazis, como a Áustria, a ex-Checoslováquia e a Polónia.
Os Nazis faziam distinção entre os homossexuais com comportamento “aprendido” e os “incorrigíveis”. Enquanto que estes últimos eram enviados para os campos de concentração, os ditos de “comportamento aprendido” eram enviados para o exército, normalmente para as linhas da frente ou em missões suicida. Os que eram enviados para os campos também tinha uma esperança de vida bastante curta, acabado por sucumbir à fome, brutalidade física ou trabalhos forçados.
Por seu turno, enquanto os prisioneiros Judeus usavam um triângulo amarelo, os homens gay usavam um cor-de-rosa e os grupos insociáveis, dos quais faziam parte as lésbicas, usavam um triângulo preto. Mais tarde surgiram relatos dos maus tratamentos a que os prisioneiros que usavam triângulos cor-de-rosa estavam sujeitos não só pelos guardas, mas por outros prisioneiros.
Muitos dos homossexuais que foram libertados dos campos de concentração voltaram a ser presos para ao abrigo da lei do Parágrafo 175. A pena para a homossexualidade era de dois anos na cadeia e o tempo passado nos campos não contavam para o cumprimento da sentença.
No final da Guerra, a Alemanha Ocidental começou a pagar compensações aos prisioneiros que passaram tempo nos campos, no entanto, em 1956 o Governo alemão declarou que as pessoas presas por homossexualidade não eram elegíveis para tal.
A homossexualidade foi descriminalizada na Alemanha de Leste (RDA) em 1968 e na Alemanha Ocidental (RFA) em 1969, mas a lei do Parágrafo 175 não foi expurgada até 1994. Só em 2002 é que o Governo Alemão garantiu perdão oficial aos presos por homossexualidade.
Lúcia Vieira
3 Comentários
Ricardo Duarte
Pequeno promonor. Os Judeus não usavam um triângulo amarelo mas dois sobrepostos e ao contrário formando a estrela de Daviad.
Gonçalo
Bom artigo. Obrigado pela informação*
Lúcia Vieira
Olá Ricardo! Obrigada pelo teu comentário.
Na verdade, havia um sistema bastante complicado de identificação de prisioneiros nos campos de concentração. Eu não entrei em pormenores no artigo por razões de espaço, mas para mais informação sugiro que consultes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Triangulos_ do_Holocausto
onde poderás ver todos os simbolos, mas só para teres uma ideia:
– Dois triângulos amarelos sobrepostos – Judeu
– Triângulo vermelho sobreposto num amarelo – prisioneiro politico Judeu
– Triângulo verde invertido sobre um amarelo – Judeu “criminoso habitual”
– Triângulo roxo invertido sobreposto num amarelo – Testemunha de Jeová de descendência Judaica.
– Triângulo cor-de-rosa invertido sobreposto num amarelo – Judeu homosexual
– Triângulo preto sobreposto num amarelo – Judeus “insociáveis” (lesbicas, p. ex.
– Triângulo amarelo invertido sobreposto num preto – mulher Ariana acusada de miscigenação.
Se os prisioneiros não fossem Judeus, usavam apenas um triângulo, por exemplo:
Triângulo Azul: imigrantes – usados, por exemplo, pelos prisioneiros Espanhóis que se exilaram em França a seguir à derrota na revolução Espanhola, e que mais tarde foram deportados para a Alemanha considerados como apátridas.
Além do código das cores , alguns subgrupos tinham o complemento de uma letra localizada no centro do triângulo, para especificar prefixo do país de origem do prisioneiro.