Sou natural desta grande aldeia, com infelizmente tão parcos valores de igualdade. Era óbvio desde a pré-escola que futebol não era a minha praia, não pelo desporto em si, joguei algumas vezes com amigos próximos e com os meus primos, todos rapazes e fi-lo de livre vontade e diverti-me muito como qualquer outra criança, mas rapidamente essa alegria no futebol acabou.
O que não me divertia no futebol eram os insultos, o corriqueiro “paneleiro de merda” tinha um impacto de culpa em mim muito antes de conscientemente saber a minha orientação sexual. Não entendia e não gostava dos insultos homofóbicos e sexistas sempre associados a esta prática desportiva. A verdade absoluta na aldeia era e é infelizmente dividida em três ensinamentos ainda hoje perpetuados:
- para seres um homem a sério tens de gostar de futebol.
- Tens de insultar o clube adversário como “paneleiros de merda”
- sobretudo fazer ver as mulheres que aquele espaço social não é um lugar delas ridicularizando quando elas dão a sua opinião desportiva.
Em última instância chama o clube adversário de “meninas” para perceberem quanto estão abaixo nos valores sociais. Foi este o contexto em que cresci e em que ainda trabalho e considero importante defini-lo antes de explicar o que se passa na minha aldeia, em Torres Vedras. Sim, não me enganei, aldeia, se o município de Torres Vedras não é capaz de se pronunciar publicamente em defesa da integridade física dos seus habitantes que parece ser um
crime de ódio de homofobia, não parece com certeza uma cidade, muito menos um concelho. Perdão, aldeia é demais, eu sou do Ameal orgulhosamente e jamais intento em comparar a minha aldeia com aquilo que parece ser tamanha cobardia como a que presencio hoje por parte dos órgãos soberanos da câmara municipal de Torres Vedras perante os últimos acontecimentos, aldeia, esse espírito verdadeiramente comunitário e de entre ajuda é uma classificação muito nobre para a inactividade camarária no que diz respeito à segurança e bem estar dos habitantes de Torres Vedras. Parece-me óbvio que um organismo camarário se pronuncie em defesa de um acto de violência homofóbica sendo este órgão nos seus estatutos e programas políticos pela igualdade, no entanto tal não aconteceu. Bandeiras LGBTQIA+ continuam a ser hasteadas de lado e marchas continuam a ser executadas fora da cidade, mas dentro do concelho sem divulgação mediante exigências de agendas políticas europeias. Está na altura de assumir o seu posicionamento inequívoco na defesa dos direitos humanos. Confesso em última instância lamentavelmente preferir viver no anonimato da capital enquanto torriense de gema perante as entrelinhas homofóbicas do concelho de Torres Vedras que agora parecem ser confirmadas perante o silêncio mediante os conflitos existenciais. Deixo uma pergunta directa a quem de direito: Quantos mais torrienses necessitarão de se refugiar na capital perante tal silenciamento? Aguardo uma resposta e para quem aguarda também que assine a petição em baixo:
https://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT122560
Dário Pacheco