No passado dia 2 de Junho, a propósito do assassinato de Conceição Figueiredo, em Oliveira do Bairro, a amada dos portugueses, Cristina Ferreira, mete os pés pelas mãos, afirmando no programa matinal da TVI, Dois às 10, que a vítima de tão brutal assassinato se “havia posto a jeito”. E eu pergunto, Cristina Ferreira, a jeito de quê???
A televisão generalista em Portugal é daqueles caos inomináveis. Temos Manuéis Luís Gouchas a cuspir na comunidade que o acolheu enquanto pessoa queer; pivots de telejornais a serem tendenciosos, levando ao colo partidos de extrema direita; horário nobre preenchido com programação que estupidifica o povo. Se tivesse nascido hoje, pensaria por certo viver nos anos do Estado Novo: fado, futebol e Fátima. É muito isto e é triste. Valem-se das fraquezas dos menos instruídos para lhes lavarem o cérebro e os fazerem pensar assim ou assado, consoante a cor política do canal.
Sou homem, estou vivo, mas já passei por duas situações de abuso sexual. A culpa foi minha? Claro que não. Se as pessoas não percebem que “não é não”, algo há de muito doente e podre na nossa sociedade.
Antes de escrever, decidi passar os olhos pelas manchetes dos jornais e redes sociais, confesso que fiquei chocado. Uma pessoa como Cristina Ferreira poderia utilizar o seu lugar privilegiado para pedir desculpa e colocar-se do lado da razão, ao lado de quem foi brutalmente assassinado. Ao invés disso, faz-se de vítima, diz que a imprensa se aproveitou da sua infeliz frase, fora do contexto, para a queimar em praça pública… Um bocadinho de humildade não faz mal a ninguém.
No meio desta história, deixo as minhas sinceras condolências à família de Conceição Figueiredo e as minhas lágrimas a tudo o que foi impedida de viver. Ninguém se põe a jeito para situações de violência. Quem assim pensa, deve ser cancelado quanto antes, ao invés de continuar a ser uma influenciadora de mentalidades.
Quanto a si, Cristina Ferreira, só lamento a sua falta de sensibilidade e de noção. Sou filho de pais operários, todo o trabalho é digno e nenhum é vergonha alguma… Mas, a senhora, só perdeu a noção e a credibilidade. Dizem que a educação vem de casa, mas a sua está completamente deturpada, face às alarvidades que diz. Um pedido de desculpas, ao invés de fazer-se de vítima, faria de si a melhor da televisão portuguesa. Com a atitude que teve, face ao ocorrido, só desejo, de coração, que saiba deveras o lugar das estacas. Quem cospe no prato onde come, não merece respeito nem tempo de antena. Ainda assim, não lhe desejo mal… Contudo, a humildade é algo tão bonito.
Ricardo Falcato