O Ministério da Saúde não vai adoptar as medidas contra a exclusão de homossexuais e bissexuais na doação de sangue, adianta a edição de hoje do Jornal de Notícias. Recorde-se que a Assembleia da República aprovou a 8 de Abril o diploma do Bloco de Esquerda que iria permitir que homossexuais e os bissexuais pudessem doar sangue. O diploma recomendava ao Governo a “adopção de medidas que visem combater a actual discriminação dos homossexuais e bissexuais nos serviços de recolha de sangue”. Fonte do Ministério da Saúde confirmou durante o dia de hoje à agência Lusa que a situação continuava inalterada, isto é, que homens que tenham sexo com outros homens não são, logo na fase de triagem, impedidos de doar sangue.
Durante uma visita a Barcelos, a ministra da tutela, Ana Jorge afirmou que “não há nenhuma discriminação do ponto de vista da orientação sexual” dos dadores de sangue. “Aquilo que está definido como boas práticas é que não há nenhuma discriminação do ponto de vista da orientação sexual. Aquilo que há é, de facto, um rigor grande em relação àquilo que são os comportamentos das pessoas que possam pôr em risco a vida das pessoas a quem se vai dar o sangue, independentemente de serem homo ou heterossexuais”, completou.
Já no início de Junho o deputado bloquista José Soeiro tinha questionado o governo sobre a concretização e aplicação da resolução aprovada pela Assembleia da República. Mas, até agora, ainda não obteve resposta. A proposta do Bloco recebeu em Abril os votos favoráveis das bancadas do BE, PCP, PEV, PS e PSD. O CDS-PP absteve-se com excepção do deputado João Rebelo que votou a favor. Ainda na bancada do partido de Paulo Portas, Teresa Caeiro e João Almeida apresentaram declarações de voto. Na bancada do PS, a deputada independente Teresa Venda absteve-se.
Reacção das associações LGBT
Entretanto, onze colectivos ligados aos direitos LGBT subscreveram um comunicado conjunto em que pedem que se ponha fim a este “folhetim”. “Não percebemos nem aceitamos que tal volte a acontecer. Já são demasiados anos em volta deste folhetim interminável que só acentua o preconceito e a desigualdade em volta das pessoas LGBT. Não se pode, por um lado, aprovar medidas que visem a promoção da igualdade e, por outro, perpetuar uma discriminação sem qualquer fundamento que põe de lado milhares de potenciais dadores quando existe sempre necessidade de sangue. Os avanços e recuos verificados nesta matéria somente contribuem para o aumento do estigma em relação às pessoas homossexuais que em nada favorece uma sociedade que se quer livre, inclusiva e democrática”, pode ler-se no comunicado. Os responsáveis referem ainda que “deverão ser os comportamentos de risco a determinar a exclusão da doação de sangue, sejam homens ou mulheres, homossexuais ou heterossexuais e não outro qualquer factor arbitrário e discriminatório que parte de pressupostos estereotipados”.
“A homossexualidade não é sinónimo de comportamentos de risco, tal como a heterossexualidade não é garantia da sua ausência! Quantas vezes teremos que o dizer?”, rematam. O documento foi assinado pela ATTAC, Ilga Portugal, Médicos pela Escolha, Não te prives, Panteras Rosa, Poly Portugal, Portugal Gay, SOS Racismo, UMAR a que se somaram a rede ex aequo e a AMPLOS.
A polémica do Verão de 2009
No Verão do ano passado a discriminação foi relançada depois de Gabriel Olim, presidente do Instituto Português do Sangue dizer em entrevista ao jornal I que “quando uma pessoa se apresenta assumidamente como homossexual e quer dar sangue, eu interpreto como uma provocação. Quem quer vir dar sangue não vem com esta atitude”, referindo ainda que os homossexuais que pretendam dar sangue estão “deliberadamente [a] querer introduzir no circuito sangue contaminado”. A Associação ILGA Portugal considerou então que “a necessidade urgente de rever os critérios discriminatórios de pré-selecção do sangue para garantir que estes são incisivos em vez de reflectirem sobre generalizações baseadas no preconceito e que contribuem, simultaneamente, para a estigmatização dos homens homossexuais”.
8 Comentários
Tweets that mention dezanove – notícias e cultura LGBT em português » Blog Archive » Afinal gays portugueses não vão poder doar sangue -- Topsy.com
[…] This post was mentioned on Twitter by dezanove.pt, Joana Moita. Joana Moita said: RT @dezanovept: Afinal gays portugueses não vão poder doar sangue http://tinyurl.com/28tke36 […]
anónimo
E pergunto eu. Quando se dá sangue, não é feito qualquer tipo de controlo do mesmo? As pessoas recebem sangue sem que sejam verificados todos os critérios?
Este tipo de notícias, bem como quaisquer outras referentes à permanência de 6 meses com o mesmo parceiro sexual (um dos critérios de selecção de dadores) obrigam-nos a pensar que uma pessoa não a liberdade de se proteger. Errado!
É triste quando promulgam a necessidade de doar sangue e por motivos mesquinhos se excluem possíveis dadores. E depois queixam-se que há falta de solidariedade em Portugal.
Rui
Claro que podem dar… Basta mentir. Eu dou. Eu minto. é isto que o M. da S. quer…
LGBT Point
Pois mas mentir não é solução se fosse, então milhões de pessoas mentem quando vão doar sangue, pois quando se é hetero não se fazem as mesmas perguntas? Eu nunca doei sangue, já que a minha orientação sexual não serve para ajudar as pessoas, eu pura e simplesmente não vou, tenho pena pois muitas pessoas precisam mas não as custas de mentir acerca da minha condição. 🙁
dezanove – notícias e cultura LGBT em português » Blog Archive » Elza Pais admite discriminação no questionário do IPS
[…] não é nova, já gerou um grupo na rede social Facebook a exigir a demissão do IPS e foi reacendida no final do mês de Julho, quando o Jornal de Notícias avançou que o Ministério da Saúde afinal não iria adoptar medidas […]
Sérgio Carvalho
Eu não dou. Não querem o meu sangue? Melhor, mais fica para mim.
Ricardo
Sou dador de sangue no instituto do sangue perto da quinta do covelo no Porto.
Nunca lá me foi feito nenhum questionário escrito nem verbal sobre a minha orientação sexual e já abordei os técnicos sobre esta questão ao que me responderam, como é óbvio, que tanto um homosexual como um heterosexual pode ter comportamentos de risco, que são aliás questionados sem descriminação de sexualidade.
Obviamente que depois de um questionário aprovado todo o sangue recolhido é analisado e segue todos os parâmetros de segurança até chegar ao receptor.
Aconselho qualquer homosexual que queira fazer uma doação a dirigir-se ao instituto do sangue e a preencher o questionário conscientemente, de certeza que será bem tratado.
E não é preciso mentir, sou dador de sangue apesar de já ter visto negada a possibilidade de doar sangue por várias razões: por ter tido uma parceira nova (é necessário o periodo de janela para uma possível infecção do hiv se revelar nas análises) ou até por fumar uns charritos de quando em vez, ou por ter feito uma operação (mais um periodo de janela).
o que se pretente com estes “periodos de janela” é evitar uma doação e posteriores análises que são feitas a DST e outras doenças. Todo o processo de recolha e análises é muito caro e parece-me bem se se conseguir isolar as alturas na vida de uma pessoa em que uma doação possa vir a resultar numa doação para o lixo. Com os períodos de janela consegue-se reduzir o custo das unidades de sangue que são fornecidas para os hospitais o que pode um dia ser bom para qualquer um de nós.
Bellini
Não é verdade o que diz.
Fui dador durante muito tempo, porque fui mentindo, mas qdo achei que não fazia sentido continuar a mentir e depois de 8 anos de uma relação, achei que não deveria mentir e foi-me recusa e continua a ser recusado, pois qdo uma vez passado anos de me ter sido recusado, dando os meus dados, verificaram que já me tinha sido recusado (e sabiam pq ) e não aceitam!
Revolta-me esta situação e sinto-me com vergonha deste país que pensa assim.