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“Tentamos ser discretas para evitar episódios de confronto pouco saudável”

Directas e sucintas, J e L, vivem e trabalham na Grande Lisboa. A sua relação é assumida para o seu núcleo mais importante: a família e os amigos. De resto não o fazem de forma pública, e tão pouco no trabalho, onde defendem que ser lésbica não tem de fazer parte da apresentação. A não ser que perguntem directamente, mas fará isso sentido? Vamos ficar a saber abaixo:

 

dezanove: Como e há quanto tempo se conheceram? Assinalam de alguma forma a data desse aniversário?

J e L: Conhecemo-nos há quatro anos e meio através de um amigo comum. Tentamos sempre que o dia do nosso aniversário tenha um momento especial em que consigamos estar as duas juntas sem nada a distrair-nos.

 

O que vos fez apaixonar?

J e L: Cruzámo-nos numa altura atribulada, no entanto, com o tempo conseguimos o equilíbrio necessário para namorarmos. A L. é uma pessoa com os pés bem assentes, aquele tipo de pessoas que nos dão um ninho e conforto. A J. é uma pessoa bem-disposta, receptiva a novas ideias e capaz de fazer conversa até com um lápis.

 

A falta de visibilidade pública na vossa relação é forçada ou uma opção vossa?

 Um pouco de ambas. Por um lado porque preferimos deixar à margem da nossa intimidade alguns sectores da nossa vida, como o profissional. E por intimidade não se entende só a relação amorosa mas também a familiar e a maioria dos aspectos da vida pessoal, aqui é opcional. Por outro lado, em alguns momentos, tentamos ser discretas para evitar episódios de confronto pouco saudável.

 

Como é a vossa relação com familiares e amigos?

Tranquila. É uma relação assumida quer para familiares quer para amigos.

 

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Algum familiar vosso insiste para arranjarem namorado?

Felizmente não. Cremos que sabem que essa não é uma opção a ter em conta!

 

Quando o contexto é o local de trabalho como abordam a vossa relação? Omitem, mentem?

No trabalho se formos questionadas directamente se namoramos respondemos afirmativamente. O que se passa é que são poucas – ou nenhumas – as pessoas que o fazem. Esperam que por sermos lésbicas isso faça parte da nossa apresentação: ”Olá, eu sou a Maria, tenho 28 anos e sou lésbica!”. Isso não acontece porque não faz sentido!

 

Como vêem a vossa relação daqui a um ano?

 “Apenas” com mais um ano, seguindo o rumo normal dos acontecimentos esperamos estar a viver juntas.

 

Já foram alvo de algum episódio de homofobia? Como lidaram com isso?

Sim, nos Armazéns do Chiado, em Lisboa. Um senhor ficou incomodado com as nossas manifestações públicas de afecto: “Vão fazer isso para casa”, disse. Tentámos chegar ao diálogo – já que essa é a mais útil ferramenta neste tipo de situações – no entanto, o dito senhor preferiu ir-se embora enquanto barafustava.

 

Na vossa opinião o que faz falta a Portugal no que respeita à igualdade para pessoas LGBT?

Faz falta a plenitude de direitos, como a adopção, e uma evolução de mentalidades. A segunda levará à primeira, cremos.

 

Como celebraram o Dia d@s Namorad@s? 

Como todos os casais ditos comuns: uma boa jantarada, uma noite fora de casa, escrevem-se algumas coisas mais lamechas, é mais um pretexto para olharmos e vermos a pessoa que está ao nosso lado.

9 Comentários

  • Pedro

    Que interessante que é saber que existe um casal (entre muitos) que não afirma a sua orientação sexual no trabalho, porque acham que não faz parte da identidade delas.
    No entanto, vivem rodeadas de pessoas heterossexuais que afirmam a sua heterossexualidade comentando a sua ida no dia anterior ao cinema com os/as respectivos/as, a suas aventuras românticas nas férias, os seus planos a dois no próximo jantar ou fim de semana, ou até as suas aventuras caseiras. E aposto que este casal não o faz, porque ainda não lhes vieram perguntar directamente se são lésbicas.

    Não é que a intimidade ou o modo como se relacionam me interesse muito. Mas não vejo exemplo nenhum nisto para ser destacado, a não ser a falta de visibilidade ainda existente, infelizmente, na sociedade.
    Porque elas têm medo de chamar a atenção ou confronto, quando o justo seria não o terem, porque ninguém chama a atenção ou confronta outrém quando diz que ama.

  • Ana Mafalda Rocha

    A abertura / visibilidade de cada um é da sua inteira escolha. Já chega de pensar que temos de ser todos visíveis pela causa. A nossa vida pessoal não é aberta a opinião em praça publica. Eu não me “escondo”, falo sobre a minha relação e sobre a minha namorada porque essa é a minha escolha. Não respeitar a escolha contrária é assumir a mesma posição que condenamos. Será assim tão diferente dizer “vão fazer isso pra casa” e dizer “façam mais isso na rua”?!

  • Sónia Faria

    Obviamente que não temos de ser todxs pela causa. No entanto, o importante de referir aqui e penso que foi nesse sentido que os comentários foram feitos: Deixa de ser uma “opção saudável” quando elas não o fazem para evitar confrontos ou por MEDO de confrontos.

    Se fosse uma simples opção, não teriam medo de nada. Assim como xs heterossexuais, muitxs também não falam simplesmente porque não querem ou não sentem que fala sentido e não por MEDO de confrontos. Essa é a diferença!

  • Rita

    É triste ver que ainda vivemos numa sociedade onde, andar de mãos dadas ou ter e dar afecto à pessoa que temos ao lado, gere comentários, ou olhares, mas o pior é mesmo o “meterem-se” porque sim, e entre duas raparigas as coisas complicam-se pois à sempre alguém que quer se colocar no meio.
    Espero que um dia este tipo de situações acabem pois todos tem o direito de amar e de o demonstrar sem medos, mas acima de tudo que o respeito seja palavra de ordem.