Bastaram dois meses para José António Saraiva (JAS) voltar a falar da comunidade LGBT na sua coluna de opinião no Jornal Sol. Depois de criticar as paradas gay, desta vez o director do semanário aponta baterias à “figura grotesca da mulher com barba”, uma das razões para a actual “crise” de “conceitos, balizas e regras de conduta”. Ao polémico artigo seguiu-se um convite, no mínimo, inusitado.
Sem nunca referir o nome de Conchita Wurst, artista que vem pela primeira vez a Portugal a convite da discoteca Trumps para uma actuação no Gossip Club (Lisboa) e que depois participará na final do programa Ídolos da SIC, o director do Sol afirma que “um dos problemas da nossa civilização é estar a perder as referências. Daí até exemplificar com questões como “Por que razão não poderei andar roto? Por que terei de andar com a fralda da camisa dentro das calças? Por que é que dois homens ou duas mulheres não podem casar-se?” é um passo. José António Saraiva acusa a “mulher barbuda” de nos baralhar “todas as referências” e de nos “confundir” intencionalmente.
No artigo do director do Sol escreve: “Até há pouco era consensual, por exemplo, que as pessoas deviam sair à rua lavadas, penteadas e vestidas com roupa limpa e decente. Só os vagabundos não o faziam. […] não passava pela cabeça de ninguém contestar esta evidência. Ora bem: hoje as calças compram-se manchadas e rotas, as camisas usam-se com a fralda de fora, certos penteados tentam imitar os cabelos despenteados. Há uma vontade notória de desafiar as regras.”
Em “As referências estão a desaparecer?“ Saraiva alerta para os perigos da quebra de regras e que tornam a vida em sociedade impossível. No artigo publicado esta quinta-feira, JAS vai mais longe e considera o “casamento gay é por natureza estéril” e a nossa democracia está a morrer. “Tudo é aceitável: mulheres com barba, legalização das drogas, casamento entre pessoas do mesmo sexo, músicas com apelos à violência, insultos ao Presidente da República, eu sei lá!” o director da publicação considera tudo isto “corrosivo e desagregador” e remata “estamos mais longe uns dos outros. Isto não pode acabar bem”.
Este Sábado, em resposta ao artigo de opinião publicado no Sol, Pedro Dias, sócio-gerente da discoteca Trumps e responsável pela vinda de Conchita a Portugal, desafiou publicamente JAS para um frente-a-frente com Conchita Wurst: “Tenho o prazer, […], a convidar o Senhor Arquitecto José António Saraiva, autor do editorial acima, para entrevistar esta figura “grotesca” no seu entender, ímpar no mundo do espectáculo, que já foi recebida pelas mais diversas entidades de calibre internacional, como por exemplo o Secretário-Geral da Nações Unidas, só para dar um exemplo.”
O responsável pela vinda da artista austríaca frisa que o convite é dirigido de forma pessoal e intransmissível ao arquitecto José António Saraiva: “Esta entrevista, caso aceite fazê-la pessoalmente (uma vez que o editorial é de V. Exa, o convite não é extensível a qualquer membro do seu staff), terá lugar no dia 22 de Agosto, em local e hora a combinar de forma privada, compatível com a apertada agenda de Miss Conchita Wurst, bastando contactar-me por e-mail para [email protected].”
Desde que apareceu, Conchita Wurst não primou pelo consenso. Uma das críticas mais célebres que lhes foi dirigida foi feita pelos líderes da Igreja Ortodoxa russa que classificaram a vitória da artista no festival da Eurovisão como “declínio moral do mundo e a imposição das normas culturais do Ocidente”. Pouco depois Rustem Adagamov, um conhecido blogger russo, publicou no Twitter o seguinte: “A Igreja Ortodoxa russa é categoricamente contra homens barbudos de saia”. À frase somou uma foto dos religiosos ortodoxos – todos barbudos – e com suas vestimentas típicas – saias. O tweet e a ironia tornaram-se rapidamente virais.
Vê o tweet em causa aqui:
РПЦ категорически против бородатых мужиков в платьях! pic.twitter.com/b1TLmsRI4s
— Рустем Адагамов (@adagamov) May 14, 2014
Paulo Monteiro
18 Comentários
João Santos
“estamos mais longe uns dos outros. Isto não pode acabar bem”
Muito provavelmente estão é todos a fugir para longe do JAS. Daí o sentimento de solidão! 😛
Enfim, deste “Sr.” nada me surpreende.
Carlos
Principal pergunta em que ninguém reparou: “Por que razão não poderei andar roto?” hahahaha
Sara
Brilhante proposta! Será que o arquitecto vai aceitar o convite? 😝
Jota
Ele pode andar roto à vontade, o problema dele é que mesmo roto, ninguém há-de querer ir para a cama com ele, daí que os comentários dele serem apenas um “ressabiadismo recalcado” daquela espécie em vias de extinção. ^^
Francisco
A melhor maneira de lidar com as sandices desta criatura é com humor. Sugiro Bruno Nogueira:
https://www.youtube.com/watch?v=2f_wprqp _AE
Samuel Alves
“Há uma vontade notória de desafiar as regras.”
Existe alguma regra que diga que não posso andar roto nas ruas ou?
Ruben
Hummm…. não sei se o JAS terá “tomates” para aceitar tal convite. Ainda é capaz de ficar um pouco excitado com a presença da bela Conchita Wurst e depois não se controla… Mas se houver acho que o famoso elevador da fnac do Chiado seriá um espaço interessante para se fazer este evento.
Pedro τέντωμα
JAS não refere Conchita e por muito óbvio que seja, não me parece acertado o convite do tal gerente e ainda é mais óbvio que o director do Sol se está a marimbar e nem lhe vai passar cartão.
Também não me parece correcto que o tal gerente descarregue comentários no Sol, a desancar JAS.
A comunidade gay portuguesa está atenta de mais à opinião de JAS e o Sol agradece os hits e as partilhas. No século XXI, o negócio dos jornais não está, como no XX, orientado para a venda do papel, está nos conteúdos multimédia que geram receitas publicitárias.
Já agora e seguindo a velha história do ovo e da galinha, a Conchita vem ao Ídolos e aproveita para ganhar mais uns trocos numa discoteca ou vem à discoteca e aproveita para ganhar uns trocos na TV?
Pedro Dias
Não vai haver. O desafio, como esperado, não foi aceite!
Anónimo
Provavlmente critica e depois curte mas sem barba mas travecas “femininas” mas com orgao masculino estes senhores sao deprimentes
Vitor
Mais do mesmo … Este “senhor” e as suas “Rebarbas” … lol
Rui Almeida
Fascismo em Portugal nos tempos que correm?? Ainda tem a lata de falar em Democracia? Democracia consiste na manifestação politica e social da liberdade de escolha, e, apesar da orientação sexual não seja uma escolha, é um direito… Alguém informe este senhor que, se quiser escrever barbaridades destas, que administre um Jornal na Coreia do Norte ou no Irão – lá são capazes de subscrever das opiniões deste senhor, e se não subscreverem, de certo são coagidos a fazê-lo… francamente, tenho vergonha em ser associado à mesma nacionalidade que esta coisa deplorável.
Filipe B.
.:Rui, a prova de que estamos efetivamente em democracia está aqui. na possibilidade daquela criatura ter dito o que disse e de nós estarmos aqui a comentar e a discutir o que ele disse. Por mais que uma opinião seja contrária ao que nõs defendemos não me parece que seja motivo suficiente para falarmos em fascismo.
a sua opinião como a minha, a nossa opinião, vale tanto como a dele. Não disse o que disse como titular de qualquer órgão de natureza publica, assim sendo o não concordar ou não gostar de uma opnião é muito diferente de fascismo. Talvez a informação que esteja em falta seja tão simplesmente esta: em democracia uma má opinião vale exactamente o mesmo que uma boa opinião. ;p
Quanto ao resto, bem não há resto… Não ha grande coisa a dizer para além do que já foi dito. ou melhor até ha. E apenas isto… Um pouco como a questão da opinião em democracia, o facto das referencias sociais actuais serem contrárias aquelas que defendemos não as torna em “não referencias”. E ainda bem que assim é. Isto apenas significa que a comunidade está a progredir, evoluir. Vamos a um exemplo prático… A civilização grega, que por sinal é considerada a mãe da civilização ocidental, distinguia os homens e separava-os entre cidadãos e todos os outros nos quais se incluiam escravos, metecos, mulheres. À luz do que era esta conceito, qual seria reação de um cidadão grego ao ver que hoje, qualquer cidadão, incluindo as mulheres podem votar? pergunta… Terá sido isto um retrocesso? Bom,se um grego daquela altura ressuscitasse e visse o que temos hoje talvez pensasse isso. Aos nossos olhos? Não! Aos nossos olhos não foi mais que uma evolução cultural natural…o que actualmente estamos a viver quanto aos direitos LGBT, não é nem mais nem menos do que aquilo que se passou noutras alturas respeitantes a outros valores. Sejam felizes:.
Tiago Serrano
A serio?!… gente grotesca são estes “cara de diabo” que nao sabem, o que é uma sociedade… nao sabem que somos todos diferentes, e todos iguais, uma sociedade, numa palavra: diversidade.pelo menos para mim…
Mas se o Srº JAS prefere ter uma “sociedade” uniformizada, formatada, “ditadurial” , ao estilo da coreia do norte… força… ele que va para lá. Para a coreia do norte, que nós ficamos bem! E se for preciso, eu pago o bilhete de ida… é só dizer! A ele, e a muitos mais…
Nao gostavam de ter de andar a lamber as botas ao Kim Jong-un?!
augusto
comentários moderados? uhmmm…estranho.
Anónimo
Eu com banqueiros corruptos, políticos fantoche, pobreza, miséria, tortura, maus tratos, guerras, abusos de poder e violência em geral ainda aguento, mas uma mulher com barba é que não!
Lu
Esta pessoa é mulher porque a Natureza assim ditou. E tem barba porque a Natureza assim ditou. E não a corta porque a sua religião assim o dita. Que dirá este senhor sobre ela?
http://www.huffingtonpost.com/entry/harn aam-kaur-bridal-photos_55943ad0e4b05fcdf 274c5c2
Amigo
“José António Saraiva acusa a “mulher barbuda” de nos baralhar “todas as referências” e de nos “confundir” intencionalmente.” E se esse brasileiro, peludo e com bigode, com pênis, sugerisse a ele penetração anal: ficaria ele “confuso”? Sou elogiado pelo carinho que tenho ao conversar e a sós com homem 🙂