Activista LGBT e dos direitos da população negra assassinada no Rio
A vereadora Marielle Franco, eleita pelo PSOL, foi assassinada a tiros no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, esta quarta-feira à noite.
Segundo a imprensa brasileira, Marielle Franco regressava do evento “Jovens negras movendo as estruturas”, que tinha decorrido no bairro da Lapa, quando o carro que a transportava em direcção a sua casa foi interceptado por outro veículo de onde saíram os tiros. Tanto a vereadora como o seu motorista morreram no local. Apenas a assessora sobreviveu ao ataque.
Marielle Franco, além de lésbica e activista dos direitos LGBT e da população negra, era apontada como um exemplo na sua comunidade. Oriunda da favela da Maré, tinha-se licenciado em Sociologia e era mestre em Administração Pública. Era também presidente da Comissão de Defesa da Mulher no município. Recentemente tinha integrado a Comissão da Câmara de Vereadores do Rio para acompanhar a intervenção federal na segurança pública da cidade. Marielle Franco opunha-se à presença do exército como força de manutenção da segurança na cidade.
O seu último post no Facebook foi, precisamente, uma transmissão em directo a partir do encontro “Jovens negras movendo as estruturas”. Também esta quarta-feira a vereadora recordou no seu mural que no ano passado tinham sido assassinadas 179 pessoas trans no Brasil.
Lisboa, Porto, Braga, Vila Real, Coimbra, Covilhã, Aveiro e Viana do Castelo com vigílias
Em Portugal, estão a ser convocadas várias concentrações em memória de Marielle Franco. Esta quinta-feira, 15 de Março, decorre uma concentração na Praça Luís de Camões, em Lisboa, a partir das 18h.
Haverá também na segunda-feira, dia 19 de Março, às 18h, na Praça Luís de Camões, em Lisboa, uma vigília. Nesse mesmo dia terá lugar uma concentração no Porto, no Consulado Geral do Brasil, a partir das 18h30. Em Braga a vigília está marcada para as 18h30 frente ao Chafariz da Avenida Central. Em Vila Real a vigília vai decorrer também na segunda-feira, às 18h30, no Largo do Pelourinho. Em Coimbra, será às 18h, nas Escadas Monumentais e na Covilhã, também às 18h, no Pelourinho. Em Aveiro a homenagem chama-se "Uma flor por Marielle", está marcada para as 18h30 na Praça Marquês de Pombal. Em Viana do Castelo a concentração está agendada para as 18h30, na Praça da República.
Reacções nos dois lados do Atlântico
Várias figuras públicas brasileiras e portuguesas já se manifestaram nas redes sociais.
Caetano Veloso, cantor
#MariellePresente #LutoPorMarielle
“Estou triste, tão triste / Estou muito triste / Por que será que existe o que quer que seja / O meu lábio não diz / O meu gesto não faz / Sinto o peito vazio e ainda assim farto / Estou triste, tão triste / E o lugar mais frio do rio é o meu quarto / Estou triste, tão triste / Estou muito triste / Por que será que existe o que quer que seja / O meu lábio não diz / O meu gesto não faz / Sinto o peito vazio e ainda assim farto / Estou triste, tão triste / E o lugar mais frio do rio é o meu quarto” / #CaetanoVeloso #JustiçaParaMarielle #NãoVãoSilenciarMarielle #342agora #342artes
Elza Soares, cantora
"Das poucas vezes que me falta a voz. Chocada. Horrorizada. Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais. Mulher, negra, lésbica, ativista, defensora dos direitos humanos. Marielle Franco, sua voz ecoará em nós. Gritemos."
Isabel Moreira, política
“Feminista, mulher, negra e lésbica. Executada por fascistas. Estamos tod@s de luto.” A deputada apelou ainda à participação na vigília de Lisboa no próximo dia 19 com um “Vamos.”
José Soeiro, político
"Mais uma notícia do horror que se vive no Brasil.
Toda a solidariedade."
"Segunda-feira, no Porto. Não nos calamos. Não nos resignamos. Não deixaremos de lutar. Não nos deixaremos intimidar. Não esqueceremos."
Raquel Varela, historiadora
"[…] A violência no Brasil só vai parar quando quem pode lutar contra ela se deixe de adaptar a ela.
Quando os brancos que vivem nos prédios-jaulas disserem Acabou! Basta! Talvez nesse dia não uma mas muitas Marielles sintam força para sair das favelas. Socialismo é isso, é dar coragem para que os mais frágeis sintam força, é lutar pelos mais pobres, dizer-lhes "estamos ao vosso lado". Não é exigir-lhes a toda a hora que façam sozinhos o que não podem fazer.
Marielle Franco, presente!"