Gosto de uma pessoa hetero – e agora?
O dating world é por si só um mundo imprevisível para todos. Sais com uma pessoa e às vezes fazem-te ghosting, ou descobres que têm uma vida dupla mais complexa que um 007, ou por outro lado está tudo a correr bem, a conexão está lá, tudo é perfeito, mas eis que da boca dele/dela sai o teu pior pesadelo - ela/ele diz-te que é hétero.
E com uma simples rajada de palavras, lá se vai o castelinho da Disney que se formava na tua cabeça.
Mas nada temas! Não há pesadelos que uma fada madrinha não possa resolver. Só temos primeiro de perceber como funciona a mente humana.
A categorização é um processo cerebral necessário à nossa sobrevivência. Nós rotulamos tudo, e tendemos a meter toda a informação em caixinhas. E fazemos isto, não porque nos apetece discriminar per se, mas porque precisamos de mentalmente separar aquilo que é benéfico para a nossa sobrevivência, daquilo que tem potencial para nos matar. E é por causa deste processo cerebral (super necessário), que tu sabes que comida podes ou não comer, e que mamíferos laranjas que rugem e vivem na selva são mamíferos a evitar. Sejam eles leões, ou o Trump.
Mas num mundo onde é cada vez mais fácil rotular e julgar, levando até ao limite do aceitável este processo mental, nós tendemos a esquecer a premissa principal por detrás do que significa amar. Esquecemo-nos que o amor não escolhe sexos, e que o amor não tem rótulos.
Num mundo onde é cada vez mais fácil rotular e julgar, levando até ao limite do aceitável este processo mental, nós tendemos a esquecer a premissa principal por detrás do que significa amar. Esquecemo-nos que o amor não escolhe sexos, e que o amor não tem rótulos.
“Ok, isso é tudo muito bonito” – pode alguém dizer-te – “… mas para namorar com alguém não basta só amor, também é preciso atracção! E um hétero nunca iria sentir isso por mim, porque não tem os mesmos gostos que eu”.
Tudo certo. Até um certo ponto…
Mencionado por Stephen Labossiere e ainda Jay Shetty, há três coisas que fazem o amor acontecer, e durar. Essas três coisas são a Conexão, Atracção e a Compatibilidade. E isto significa que o argumento em cima é válido… mas é, por si só, bastante limitativo. A Atracção pode ser sim um catalisador de amor, mas não é o único. O processo inverso também é possível, porque havendo amor, a atração também pode ser criada.
Há três coisas que fazem o amor acontecer, e durar. Essas três coisas são a Conexão, Atracção e a Compatibilidade.
E como podes então catalisar o amor e criar essa atracção? Com acesso às outras duas variáveis.
A Conexão diz respeito à ligação espiritual/emocional que tens com a outra pessoa, e é algo bastante intenso e instintivo que é sentido logo no primeiro contacto. Essa pessoa parece-te familiar? Sentes que existe uma ligação que vai para além da lógica ou palavras? Esta ligação não é sentida de forma física, porque nesse caso o nome seria Atracção/Química, e isso é normalmente aquilo que é mais comum sentirmos por alguém nos primeiros contactos – uma explosão de sensações físicas e vontades.
A Conexão é algo muito mais profundo e emocional. Não se manifesta de forma física, mas sim com um saber interno de que nos sentimos mesmo bem ao pé daquela pessoa, e que aquela “é” a nossa pessoa. E (atenção!) que este sentimento não é possessivo! Ele é emocionalmente neutro, e dá-nos uma sensação de paz junto a essa pessoa. Não é obsessivo, não é possessivo, ou algo que te faz pensar duas vezes. Apenas te dá PAZ!
E esta Conexão bem explorada em conjunto com a compatibilidade vai fazer milagres. Mas o que é então a Compatibilidade? Compatibilidade é ter duas pessoas a coexistir em harmonia ao longo do tempo apesar de serem duas pessoas com personalidades, vontades e necessidades diferentes. E essa harmonia nem sempre se manifesta independentemente da conexão que vos une. Para isto dar errado não tem de haver um problema na relação, pode ser simplesmente porque as vossas formas de estar e viver não são simplesmente compatíveis, e não trazem harmonia à relação. Isto significa que são muitas vezes necessários ajustes contínuos (de ambas as partes!) para que haja esse equilíbrio. Nunca esquecendo que o objectivo de uma relação é sempre o de adicionar algo. A adaptabilidade do casal não significa NUNCA negligenciar necessidades individuais.
O objectivo de uma relação é sempre o de adicionar algo. A adaptabilidade do casal não significa NUNCA negligenciar necessidades individuais.
E agora que desconstruímos o que pode criar o amor, deixo-te algumas dicas caso gostes de alguém de uma orientação sexual diferente da tua:
- Não desistas assim que o/a ouvires dizer que tem uma sexualidade diferente. Continua a explorar a conexão, e descobre se vocês são compatíveis. Explora esta descoberta com curiosidade e paciência ao longo do tempo. Não facas disto um calvário de inseguranças e de medos antigos;
- A Conexão quando é sentida por ti significa que é partilhada também pela outra pessoa. O mesmo não acontece (necessariamente) com a Atracção/Química;
- Permite-te perceber se queres realmente dedicar o teu tempo a uma pessoa que pode não saber bem ainda aquilo que quer, porque tu mereces alguém que goste de ti sem “ses” ou “talvez”; • Uma pessoa interessada faz-te perguntas, quer saber de ti, quer envolver-se mais na tua vida, quer passar tempo contigo, quer comunicar frequentemente contigo. Uma pessoa não interessada faz o oposto. Se assim for, está na altura de investires o teu tempo noutra pessoa.
E mais importante que tudo, lembra-te que o amor não é um pensamento. O amor é um sentimento vinculativo. O amor não escolhe sexualidades ou corpos, como viste nós chamamos a isso de “Atracção”. Amar é cuidar, respeitar, fazer rir, ajudar a pessoa a crescer, sem esperar nada em troca!
Se tratares alguém com esse amor e respeito, e se essa pessoa for a pessoa certa para ti, ela vai acabar por vir ao teu encontro. Porque quando a conexão existe e é real, nós reformulamos antigas crenças e construímos novas narrativas sobre quem somos, e aquilo que gostamos. Independentemente da orientação sexual.
E quando a conexão existe, e é real, as pessoas são naturalmente atraídas uma para a outra quase de forma automática para provar uma e outra vez que o amor não tem, nem nunca terá, regras ou rótulos.
O amor apenas É.
Sara Almeida, Psicóloga e Dating Coach