Raquel Freire: “Qual é a diferença entre a luta nos anos 80/90 sobre a despatologização dos homossexuais e a das pessoas trans?”
A cineasta e activista Raquel Freire filmou Eduarda Alice Santos e Lara Crespo, duas activistas trans, a propósito da morte de Gisberta Salce Júnior. Os vídeos recolhem os testemunhos das duas activistas sobre o assassinato que abalou a comunidade LGBT em 2006 e sobre o percurso dos direitos trans em Portugal.
Raquel Freire filmou Eduarda e Lara por terem sido “das primeiras activista trans que conheci”. A realizadora conta ao dezanove.pt que despertou “para a questão da discriminação de pessoas trans aquando da morte da Gisberta, pela violência, pelo que tinha acontecido e pela forma como tudo foi divulgado”, afirmando que lamenta “o facto de ter despertado por uma má razão, por uma morte tão trágica. A nossa Gisberta não foi apenas uma mulher trans porque foi ela que despertou Portugal”.
“Faz-me confusão como a comunidade LGBT continua a descriminar-se a ela mesma, quando as lutas são iguais. Qual é a diferença entre a luta nos anos 80/90 sobre a despatologização dos homossexuais e agora esta mesma luta das pessoas trans? É que se isto continuar a ser considerado um problema médico, vamos continuar sem ir à raiz da questão” aponta Raquel Freire, acrescentando que “são as pessoas trans as mais discriminadas, vivendo muitas vezes numa precariedade assustadora. A taxa de suicídio e homicídio de pessoas trans é assustadora, gritante! Estas pessoas sofrem demasiado e este sofrimento é causado pela sociedade transfóbica”. Para Raquel Freire, “não foi a água que matou a Gisberta, foi a transfobia da sociedade e o mais importante é não haver mais nenhuma Gisberta”.
Marta Santos