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Torres Vedras e o Carnaval mais LGBTfóbico português

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Antes de me apontarem as vossas espingardas, saibam que nasci e cresci em Torres Vedras, fui a quase todos os Carnavais desde 1987 e sei por experiência própria a resistência necessária para ir para o Túnel às 9h da manhã de Domingo tendo começado a festa na quinta-feira de manhã na Madeira Torres, que se prolonga até ao enterro do entrudo na quarta-feira da semana seguinte. É na qualidade de defensor acérrimo da festa e folia que denuncio que o Carnaval conhecido como o Carnaval mais português de Portugal é renomeado em 2025 para o Carnaval mais LGBTfóbico do país. Têm dúvidas? Vamos aos factos:

Em 2024, no interior do monumento constava uma foto alterada de Zézé Camarinha acompanhado de duas mulheres ao fundo na praia com o seguinte texto: “Put’a Cream, Renascentismo V2, no fim dos anos 2020 o género hétero quase se extinguiu devido às paranóias dos géneros. Tal só não aconteceu, porque se recuperou o ADN do Deus Macho Zézé Camarinha.”

zeze camarinha

Já era mau, comparar a identidade de género com doenças mentais e confundir género e orientação sexual, promovendo assim a desinformação, mas a tendência manteve-se para o ano seguinte. Em 2025 a questão LGBTQIA+ toma proporções muito diferentes no Carnaval de Torres Vedras, tal como se pode verificar na foto que inicia o artigo, ocupando cerca de 1/3 do espaço de todo o monumento.

Na mesma foto vemos também  os Generais do 25 de Abril em cima da comunidade LGBTQIA+ a segurar uma bomba que diz FP25. Para os mais atentos percebe-se bem a mensagem, mas se dúvidas houvesse vamos às descrições lá pregadas: (…) “lá no céu há quem possa resolver isto com um método antigo das FP25…” (…) Tal como se pode verificar em registo fotográfico abaixo.

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Em ambos, monumentos e memórias descritivas de 2024 e 2025, percebe-se a tendência de se disfarçar o ódio no meio da sátira. São textos e estatuetas que tentam fazer piada através do incitamento à violência a pessoas já marginalizadas. Isto não é sátira. A sátira é usada tradicionalmente contra figuras de poder em que se verifica uma inversão dos valores e dos papéis sociais. Isto não é sátira nem faz jus ao espírito do Carnaval de Torres Vedras. É simplesmente um espezinhar em cima de pessoas que são diariamente espezinhadas. 

Vivemos num contexto global, em que assistimos a um retrocesso geral no direito a viver de pessoas LGBTQIA+, mas não precisamos ir tão longe, lembrem-se que ainda não fez um ano que circula uma petição online por mais segurança para a comunidade LGBTQIA+ em Torres Vedras, no rescaldo de agressões físicas e verbais a um casal homossexual e do que parece ter sido motivado/potenciado pela orientação sexual dos visados. Se dúvidas houvessem, depois de um monumento no centro da cidade apoiado e autorizado pelo executivo da Câmara Municipal de Torres Vedras, promovido em parceria com a Promotorres, em que se grita por outras palavras “morte aos paneleiros!” parecem restar poucas dúvidas da validade, necessidade e urgência de assinarem esta petição. 

https://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT122560

 

O Carnaval de Torres Vedras conhecido em anos anteriores como o mais português de Portugal quebrou com a tradição, despiu-se da sátira e vestiu-se de ódio, mas a lei portuguesa por agora veste-se bem explícita e se dúvidas existem transcrevo-a:

(…) O crime de incitamento ao ódio e à violência encontra-se previsto no n.º 2 do artigo 240.º do Código Penal e é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos. (…) 


Dário Pacheco