Apesar de Portugal ser um dos poucos países do mundo que reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a forma como a comunidade gay masculina vive a sua orientação sexual ainda está longe da aceitação total. Segundo os resultados preliminares do estudo EMIS (The European MSM Internet Survey), a maioria dos homossexuais masculinos portugueses continua dentro do armário, uma situação bastante distante da que se verifica na generalidade dos países da Europa Ocidental e que só encontra paralelo com a Europa de Leste.
Dos 5.391 homens portugueses que participaram no estudo, 38,4 por cento afirmam estar “fora do armário”, um valor distante das maiorias que se registam na Alemanha (64,5 por cento), Espanha (65,1 por cento), Reino Unido (66,9 por cento), França (68,3 por cento), Bélgica (75,1 por cento) ou Holanda (81 por cento). Analisando apenas os países da Europa do Sul que integram a União Europeia, além de Espanha, apenas Itália (44,7 por cento) e Malta (51,2 por cento) apresentam valores mais animadores (44,7 por cento) que o caso português. Em contraste, 34,4 por cento dos gregos declaram ter saído do armário. Um número que cai para os 28,3 por cento no Chipre.
“Enormes diferenças podem ser encontradas em relação ao estar ‘fora do armário’. Mais de dois terços dos homens estavam ‘fora do armário’ no Reino Unido, França, Suécia, Noruega, Bélgica e Holanda. Menos de um quarto estavam ‘fora do armário’ na Bósnia, Macedónia, Moldávia, Sérvia, Roménia, Croácia, Turquia, Lituânia, Ucrânia e Bielorrússia”, pode ler-se nas conclusões preliminares a que o dezanove teve acesso.
7,8 por cento vivem com VIH
O EMIS é o maior estudo feito até hoje na Europa com homens que fazem sexo com homens (o que inclui homossexuais, bissexuais e homens que se declaram ser heterossexuais). Ao todo participaram 180 mil homens de 38 países. O questionário esteve disponível online em 25 línguas desde Junho até ao final de Agosto deste ano.
Os primeiros resultados indicam que 45,9 dos participantes portugueses fizeram o teste para o VIH nos últimos 12 meses, isto quando a média do estudo é de 34,6 por cento. “O rastreio de VIH no último ano foi mais comum em Espanha, Portugal, Bélgica, e França. Foi menos comum na Lituânia, Finlândia, Eslovénia, Croácia e Turquia”, referem as conclusões. Além disso, 7,8 por cento dos participantes portugueses vivem com VIH, quando a média europeia se situa nos 4,8 por cento.
“Menos de 2 por cento de todos os participantes (incluindo os que nunca fizeram o teste do VIH) foram diagnosticados com VIH na Bósnia, Eslováquia, Chipre, Bulgária, Turquia, Malta, Estónia e Bielorrússia. Inversamente, mais de 9 por cento de todos os participantes foram diagnosticados com VIH na Suíça, Reino Unido, França, Luxemburgo e Holanda”, indica o relatório preliminar. No entanto, os responsáveis referem que estes valores podem não reflectir a verdadeira proporção “uma vez que algumas infecções ainda não foram diagnosticadas e que a motivação dos homens que vivem com VIH para preencher o questionário do EMIS pode variar entre os países. Uma média de idade mais elevada em alguns países pode igualmente ter contribuído para uma maior percentagem de homens infectados pelo VIH”.
Uma boa notícia: 65,9 por cento dos portugueses sentem-se satisfeitos com a sua vida sexual. A média europeia situa-se nos 55,6 por cento. Os homens mais satisfeitos encontram-se em Espanha, Bélgica, Suíça, Holanda e França, que são também os países onde existem maiores percentagens de homens fora do armário. O relatório final do EMIS será divulgado em Setembro do próximo ano.
Rui Oliveira
4 Comentários
Ricardo Duarte
Gostaría de saber se estes índices (pregunto no caso português) têm algo a ver com a faixa etária? Pregunto porque parece-me (a olho nu e informalmente) que existe uma grande discrepância entre quem vive dentro e fora do armário, que tem a ver com a questão geracional. Creio que a percentagem de homens portugueses que vivem fora do armário é mais alta entre os mais novos do que os mais velhos. O que acham @s outr@s? Será possível fazer uma análise a esse nível?
Ricardo
caramelo
A questão “fora do armário” devia estar mais aprofundada. Uma coisa é estar fora do armário para toda a gente, outra é estar só para amigos, ou família ou colegas de trabalho. Seria importante detalhar. Creio que em Portugal as pessoas consideram-se fora do armário quando o estão para a família e amigos, mas na maioria dos casas continua a estar para os colegas de trabalho, p.ex… são poucas as pessoas completamente fora, capazes de irem à TV p.ex.
Ricardo Fuertes
Concordo que será interessante analisar estes e outros dados com mais pormenor. Além disso muitas respostas ainda não foram incluídas. Este relatório foi feito para dar algum feedback aos participantes e à comunidade em geral. Como há muitos dados só teremos o relatório final em Setembro de 2011. Até lá irão saindo alguns relatórios como este (relatórios parciais). Obrigado pelas sugestoes.
Ricardo Fuertes
GAT
(Parceiro português do Projecto EMIS)
Daniel
Os resultados destes estudos sao simplesmente indicativos. De notar que no que respeita á vida sexual, orientacao sexual e á própria aceitacao da orientacao seuxal, muitos LGBT continuam a nao ser honestos e logo os dados nao serao sempre os mais crediveis. Veremos se os censos 2011 trazem uma melhor e mais correct estatistica (numeros)! Portugal é um pais, pequeno, rural, saido de uma longa ditadura apenas há 40 anos e com um peso da religiao na cultura Portuguesa enorme e logo menos favoravel! Todos estes sao factores para que pessoas LGBT assim como outras minorias nao sejam completamente honestas relativamente a sua vida privada!