opinião

A morte (não) saiu à rua 

Os tempos estão a mudar… e para pior. Isso é visível quando assistimos ao crescimento  de partidos de extrema-direita, sem pudor no discurso, com tempo de antena  privilegiado e, consequentemente, contamos com 60 deputados do partido Chega. Para  além disso assistimos ainda à normalização do discurso e da manifestação de ódio nas  ruas sob a capa de defesa de direitos à priori assegurados. Falo na marcha do orgulho  heterossexual que se realizou no dia 10 de Junho no Porto, organizada pelo grupo 1143,  que aproveitou o mês de Junho (mês do orgulho LGBTQIA+) para espalhar o ódio e a  desinformação. Outro grupo extremista intitulado Blood and Honour desrespeitou  atrizes e agrediu um ator quando se preparavam para atuar no teatro A Barraca em  Lisboa. Este crescimento do ódio e intolerância leva-nos, ou deveria levar-nos a refletir  sobre o estado da nossa democracia e o atropelo que é feito aos valores democráticos  sob a bandeira da liberdade de expressão. 

É importante perceber o porquê de existir o mês do orgulho LGBTQIA+. Este mês não tem nada a ver com bandeiras, símbolos e rótulos, mas é uma forma de celebrar os  direitos conquistados e a liberdade de expressão sem o sentimento de culpa e de vergonha. É poder andar de mão dada com a nossa cara-metade na rua sem sermos vítimas de insultos e agressões, é poder usar as roupas que quisermos sem sofrermos  discriminação e sem sermos rotulados como aberrações, é podermos escolher quem  somos. No fundo é podermos ser livres. 

Acredito que a morte sai à rua quando os órgãos de comunicação social dão palco a partidos de extrema-direita e a grupos extremistas, fornecendo pouco enquadramento  sobre os acontecimentos. É como se uma fotografia pudesse ilustrar todo um filme. O resultado é que este tipo de informação deixa as pessoas mal informadas e suscetíveis à  desinformação.  

É necessário reforçar os valores do humanismo, reforçando o que nos torna mais humanos, promovendo a igualdade, a inclusão, o altruísmo e a empatia, para que a  morte não saia à rua nem hoje, nem nunca mais.  

Catarina Santos

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