A nova presidente da ILGA Portugal, Isabel Advirta, que assumiu agora funções, passa em revista alguns dos projectos que a associação tem em mão. “Temos sempre a preocupação de chegar a todo o país e projectos como a Linha LGBT, que acompanha a associação desde a sua fundação, são particularmente importantes por nos ajudarem a ser geograficamente transversais”, refere a responsável em entrevista.
dezanove: Que projectos pretende implementar de forma a reduzir as assimetrias entre o interior e as grandes cidades? A ILGA não é uma associação demasiado centrada em Lisboa?
Isabel Advirta: A ILGA é uma associação que tenta sobreviver e crescer num clima particularmente difícil, também em termos de financiamentos e apoio. Temos sempre a preocupação de chegar a todo o país e projectos como a Linha LGBT, que acompanha a associação desde a sua fundação, são particularmente importantes por nos ajudarem a ser geograficamente transversais. E procuramos permanentemente financiamentos e possibilidades de projectos e iniciativas descentralizadas. Por exemplo, em 2013 fizemos formação a Chefes de Núcleo dos NIAVE da GNR de todo o país para que possamos acompanhar a apresentação de queixas nos vários distritos e garantir que existe preparação adequada por parte destas chefias.
O pólo do Porto da ILGA encerrou por falta de financiamento. É possível que no curto-médio prazo volte a funcionar?
Esperamos ter boas notícias em breve.
O modelo de separação da Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa e do Arraial Pride, que têm ocorrido em dias diferentes, é para manter? Ou preferia que os dois eventos se realizassem no mesmo dia?
Sabemos que o dezanove.pt tem sistematicamente lutado por juntar os eventos no mesmo dia… Percebemos os argumentos, claro, mas na verdade, esta é uma questão complexa. Sempre quisemos que o Arraial Lisboa Pride, que organizamos desde 1997, aconteça no Sábado mais próximo do 28 de Junho. Este evento envolve toda a cidade e a CML (o que tem uma grande importância simbólica) na celebração do Orgulho LGBT. Quanto à Marcha do Orgulho LGBT, que é um outro momento importante de visibilidade e de reivindicação, organizamo-la em conjunto com outros colectivos e algumas associações desde o seu início em 2000 e a sua data foi, de facto, antecipada uma semana em 2009, por proposta de outros coletivos, proposta em relação à qual acabámos por aderir por nos parecer que era possível garantir mais tempo e mais visibilidade para ambos os eventos. Entretanto, como sabem, desenvolvemos a tarde do Arraial Lisboa Pride, que passou a atrair muitos públicos diferentes, nomeadamente com as actividades dedicadas a crianças – e que foi fundamental no plano político para marcarmos as questões da parentalidade e das famílias de forma sistemática.
E quanto às datas…
Quanto à data da Marcha, claro que ninguém vai querer agora pôr em causa todo o crescimento do Arraial Lisboa Pride, pelo que será mais difícil de conciliar do que era há cinco anos atrás. Seja como for, interessa-nos também pensar com a nossa nova equipa como fazer a Marcha do Orgulho LGBT crescer e, tal como conseguimos com o Arraial, chegar a novos públicos, eventualmente com mais associações e colectivos com representatividade mas principalmente com muitas mas mesmo muitas mais pessoas a marcharem connosco.
Para terminar, quantas pessoas colaboram com a ILGA actualmente? Desses colaboradores, quantos são remunerados? Qual o orçamento anual?
Quanto ao orçamento, uma grande fatia depende dos projectos financiados que temos em mãos, pelo que não é possível dar um valor médio fixo. Neste momento temos duas pessoas remuneradas a trabalhar connosco, embora contemos poder aumentar a equipa já em 2015, nomeadamente no âmbito de um novo projecto “Bleeding Love” sobre violência contra mulheres LB e T. Temos sentido um apoio crescente e uma vontade enorme de mais e mais pessoas se juntarem a nós. Ainda agora foram 26 novos voluntários a fazer a sessão de sensibilização de voluntários que tem marcado o ingresso na ILGA de tantas dezenas de pessoas nos últimos anos. Acabámos de eleger uma direcção com 10 pessoas, todas em regime de voluntariado, e a grande maioria das quais (sete, para ser precisa) nunca tinha desempenhado qualquer cargo dirigente na ILGA. Ou seja, acima de tudo continuamos a ser uma associação feita de muitas pessoas – voluntários e associados que se juntam a nós.
Um Comentário
Rui
Nao ha qualquer razao para que a ILGA desempenhe qualquer papel na organizacao do “Pride” de Lisboa. A ILGA é uma associação cujos objectivos nada têm a ver com a promoção de um grande evento gay em Lisboa.
O Arraial Pride nao é um evento gay. Se fosse, uma parte significativa dos espacos LGBT de Lisboa participariam. Note-se que menos de 20% dos espacos de Lisboa participaram no Arraial de 2014.
Isto é natural, visto a ILGA continuar a insistir em cobrar valores exobitantes (começando nos 700EUR) para ter um espaço no arraial. Além disso, a ILGA obriga os espaços a comprarem o seu stock de bebidas à própria ILGA! No último ano, apesar dos valores exorbitantes cobrados, a organização da ILGA resultou em: 1) falta de máquinas de pressão para cerveja; 2) cortes constantes de electricidade e 3) falta de gelo (que também tinha que ser comprado à ILGA).
A ILGA não faz qualquer esforço de interacção com os espaços LGBT de Lisboa, para assegurar que o arraial seja um evento pride. O resultado disso é que restaurantes chineses conseguirem um espaço no Arraial, mas o Construction, o Trumps ou o Tr3s não estarem presentes.
Em 2014, o cartaz para o palco do Arraial foi apenas revelado UMA SEMANA! antes do Arraial. Nenhum agente económico vai ter interesse em investir num evento destes quando não se sabe quem vai estar em palco.
Grandes eventos LGBT podem atrair milhares para a cidade de Lisboa e contribuir para a economia local. Isto só se consegue deixando os agentes económicos que têm expertise nesta área organizarem o Pride de Lisboa.
Com todo o respeito, a ILGA têm que se limitar ao que faz bem e se retirar da organização destes eventos.
Podem não concordar comigo, mas garanto que, mais tarde ou mais cedo, os espaços LGBT irão gradualmente organizando eventos cada vez maiores (veja-se o Lisbon Bear Pride do Tr3s ou a We Party do Construction), acabando por deixar o Arraial para os “públicos diferentes” como um Picnic do Continente para o qual caminha.