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Edie Läpore: “Fui a primeira "drag" a ter um single original”

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Memoriza este nome: Edie Läpore. Trata-se de uma das mais novas revelações da noite gay lisboeta. Possuidora de um visual camaleónico, já tem no currículo actuações nas festas Rabbit Hole, no Trumps, no Arraial Pride e na Conga. No campo da moda, já marcou presença na Lisbon Fashion Week. Lançou há algumas semanas o seu primeiro tema: Starquake.  Com apenas 21 anos é determinada, frontal e não ficará certamente por aqui. A sua primeira entrevista é ao dezanove.pt:

Edie Lapore por Inês Costa Monteiro.jpg 

dezanove: Como definirias a Edie Läpore?

Edie Läpore: Definir-me-ia como uma Vampira from the space. Eu não me defino como modelo, andrógina, drag queen, cantora... Mas ao mesmo tempo tenho um pouco disso tudo em mim. Como é óbvio tenho uma vida para além dos palcos e festas. Quando estou fora dos palcos e festas não sou uma pessoa de sair muito. Gosto de estar por casa, ouvir música, ver filmes, estar com amigos em ambientes mais recatados e onde ninguém me conheça. Sou uma pessoa extremamente preguiçosa!

 

Edie Läpore

Fala-nos um pouco mais de ti. Qual o teu background, onde nasceste, a tua idade, o que estudaste, onde trabalhas, para além de exerceres a tua arte (se for o caso), onde vives…

Nasci em Lisboa e tenho 21 anos. Estudei Design de Comunicação, de momento vivo apenas da minha arte. Apesar de passar a maior parte do tempo em Lisboa e ser aqui que trabalho, vivo em Vila Franca de Xira.

 

Quando começaste a tua carreira? Fala-nos das presenças (nas várias áreas: discos, moda, etc.) que tens feito.

Comecei aos 17 anos. Participei na Rabbit Hole, pequenas festas privadas em bares, o Trumps – foi sem dúvida o local onde mais trabalhei em Lisboa, fiz duas participações no Arraial – uma vez ao lado das Bonnie & Clyde – estava com um macacão florido laranja, sim era eu. Essa noite foi uma loucura! No ano passado participei na Moda Lisboa, desfilei para a Olga Noronha. Entretanto desliguei-me um pouco do mundo da moda. Tenho convites, mas sinceramente estou numa altura que tenho de perceber se é um bom trabalho para mim, porque muitas pessoas não pagam e não posso mesmo. Só se for um amigo meu ou uma festa privada até posso ir, mas se fosse a aceitar todos os convites que recebo tinha muito trabalho, mas muitas vezes o cachet é pouco ou não existe.

Depende do trabalho, claro que não vou dizer que não aceito este tipo de trabalhos. Respondo sempre, mas neste momento é disto que eu vivo. É o meu meio de sustento e é assim que eu compro as minhas coisas. Em Portugal as pessoas gostam muito de borlas, então na moda noto muito isso. As pessoas que não me conhecem pensam que sou uma pessoa distante, fria e que eu não vou falar com as pessoas, nada disso. Mesmo trabalhar à noite é difícil, porque nem toda a gente tem a sorte de ter um trabalho fixo e às vezes não ganhas o suficiente para comprar coisas. E tudo custa dinheiro: as roupas, as perucas… isto são coisas caras. Às vezes quase que só trabalhas para pagar as coisas, tal como fiz com o meu single.

 

Edie Lapöre Conga dezanove Trumps.jpg

Quando procuras um local para exercer a tua arte: A tua idade é desvantagem ou uma vantagem nos dias de hoje? Porquê? Há falta de artistas drag mais novas?

Não creio que a minha idade seja desvantagem ou vantagem para arranjar trabalho, pois quando me contactam nunca me perguntam idade. Também não se pergunta a idade a uma senhora!

Sim, talvez haja falta de artistas drag mais novas, pois não conheço nenhuma que tenha a minha idade e a minha experiência, mas, por outro lado, acho que se houvesse mais não teriam emprego pois o mercado em Portugal é muito pequeno. Eu própria por vezes não tenho trabalho.

 

A tua idade confere-te uma maior aproximação com os teus fãs?

Acho que a minha idade não me aproxima aos meus fãs, pois tenho fãs de todas as idades. O que me confere mais aproximação é a relação que temos: Falo sempre com toda a gente, nunca recusei uma foto e se alguém disser o contrário é mentira! Sinceramente tenho muito contacto directo com os meus fãs. Posso não ser muito famosa nas redes sociais, mas sou nas ruas! Vivemos numa época de discriminação: ‘eu sou mais do que tu, tu és mais do que eu’ para ver quem pode mais, mas eu não sou mais do que ninguém, por isso, sempre que alguém perde tempo da sua vida para me vir elogiar o mínimo que eu posso fazer é responder e agradecer. Aliás, foi essa a educação que recebi.

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Quem são as tuas inspirações artísticas?

Amanda Lepore, Grace Jones, Pete Burns, Morticia Addams, Siouxsie e La Prohibida.

 

Como é ser artista drag em Portugal?

Sinceramente ser artista drag em Portugal é quase ter que pagar para trabalhar.

 

Como te identificas em termos de género?

Eu identifico-me como mulher e é assim que quero ser tratada. Prefiro não aprofundar mais esta questão, pois eu própria ainda tenho dúvidas sobre o meu género. Quem sabe se um dia não dê uma entrevista a falar sobre questões de género.

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Como surgiu a oportunidade de lançar o teu primeiro tema a solo?

Ter um single sempre foi algo que quis desde o início, mas para artistas independentes como eu não é nada fácil, até que um dia falei nisso a um amigo meu, o Roger Spy. Ele ajudou-me de imediato, foi ele que produziu Starquake. Quero que as pessoas saibam que eu tenho perfeita noção que não sou assim tão boa vocalmente. Há gente que pode gostar, outra que não. Há quem critique, mas acho que as pessoas querem ver coisas novas coisas, diferentes e estão fartas sempre das mesmas histórias. Os artistas devem ter algum carisma, imagem, não só uma voz. Os meus fãs não me vão ver cantar pela minha grande voz, pois tão pouco a tenho. Estou consciente do que tenho e do que não, mas eu tenho uma produção visual que outras não têm. Fui a primeira "drag" a ter um single original. Espero que as pessoas que vão criticar o meu projecto musical pensem o quanto custa tudo isto, desde captação de voz, estúdios, luzes... Fui eu que paguei tudo, euro a euro, cêntimo a cêntimo, do meu bolso. Para o dinheiro que tinha, foi o melhor que consegui. E estou satisfeita com o resultado final.

 

É tempo agora de ver e ouvir Starquake:

  

Fotos: Reprodução Facebook: Conga e Inês Costa Monteiro (foto 2)

Entrevista de Paulo Monteiro com Inês Costa Monteiro

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