Prémios dezanove: Os melhores e os piores de 2022
Quem protagonizou as histórias e os acontecimentos marcaram os Direitos LGBTIQA+ em Portugal e no mundo em 2022? Ao longo do último ano foram publicadas centenas de artigos, posts e comentários no nosso site e nas redes sociais. A actualidade e o ponto de encontro da comunidade LGBTIQA+ está aqui. Por isso, o site dezanove.pt volta a distinguir os melhores, mas também algumas desilusões.
Estas são as nossas escolhas da 13ª edição dos Prémios dezanove:
Pelas piores razões. O Mundial do Qatar chamou a atenção para o desrespeito dos direitos humanos no país e para os das pessoas LGBTI+ neste evento em particular.
Num ano em que foi cada vez mais visível a existência das equipas desportivas portuguesas LGBTI e inclusivas (como é o caso dos Douro Bats, Malta FC, a presença dos Dark Horses na Marcha de Lisboa e os Lisbon Foxes) fica o reforço que este desporto tem de ser um lugar de acolhimento e respeito pela diversidade, uma excelente oportunidade para o que Mundial do Qatar poderia ter sido, mas não foi.Quarenta anos volvidos desde a despenalização da homossexualidade com a publicação do Código Penal de 1982, académicos e activistas reuniram-se no ISCTE, em Lisboa, para partilharem as suas experiências e investigações. Desta conferência resultou uma evidência paradoxal: o enorme avanço de conhecimento, mas que deixou perfeitamente claro o quão pouco sabemos sobre a nossa História.
Com o fim de promover e defender a saúde de pessoas LGBTQI+, promover educação e literacia em saúde e combater discriminação, a recém-constituída Associação Anémona assumiu a missão e a luta no caminho da inclusividade, justiça social, segurança e cuidados de saúde das pessoas trans e não binárias em Portugal.
Eu sou VIH+ e visível. Pela primeira vez, em Portugal, 10 pessoas assumiram publicamente que vivem com VIH, que isso faz parte das suas vidas, mas que o VIH não as define. A campanha que ainda está em outdoors e mupis, foi noticiada pela comunicação social e ajudou a combater a desinformação e o preconceito. Ensinamentos que de pouco valeram no perpetuação do preconceito contra as pessoas LGBT+ aquando do surgimento do vírus do monkeypox.
Nesta categoria não vamos revelar a identidade do Gay Trintão à Deriva que nos acompanhou e deliciou em 2022. Uma grande legião de fãs segue com entusiasmo e empatia o autor das crónicas "Confissões de um gay trintão à deriva" publicadas no dezanove.pt e onde este reflecte sobre o seu quotidiano, aventuras e desventuras amorosas numa Lisboa que tem tanto de apetecível como cruel e solitária para quem não encontra sucessivamente o match perfeito.
Pedro Lopes e João Bernardes, autores e co-criadores do canal Cara Coroa, celebraram 10 anos de namoro e fazem-nos continuar a acreditar no amor. Seguidos por milhares de pessoas João e Pedro inspiram quem ama, procura amar e mesmo até quem está desiludido com o amor nos dias que correm. Que haja coragem para lutar pelo Amor!
Chegou a Portugal a omgyno, uma empresa internacional liderada por mulheres e que procura empoderar e dotar de conhecimento todas as mulheres reforçando os cuidados de saúde sexual e menstrual. Um trabalho meritório que demos a conhecer também aqui no dezanove.pt!
Pedro Penim conta a história (ficcional) de um ex-soldado da Guerra Colonial que, dialogando com os seus fantasmas, se vê confrontado com a decadência e a transformação do ideal de casa, de família, de país e do cânone da figura paterna. "Casa Portuguesa" é um retrato do que foi, do que é e do que poderá ser (ou não ser) a célula familiar patriarcal por excelência, a casa, tendo como pano de fundo os acontecimentos recentes da nossa democracia e revisitando a mais dolorosa das feridas abertas da nossa história, o Estado Novo. Com a presença em palco das incríveis Fado Bicha que, apesar de não terem triunfado com o primeiro lugar no Festival da Canção com "Povo Pequenino" em 2022 estão a triunfar nas salas de teatro do país.
Um filme de uma sensibilidade magistral que explora o desejo, o querer e a vontade de querer sair da nossa ilha (de (des)conforto). Lobo e Cão é um filme sublime de Cláudia Varejão que só peca por não ter chegado mais cedo às nossas vidas.
Programas como Big Brother são frequentemente apontados como de telelixo. A verdade é que constituem programas que alcançam faixas extensas da população portuguesa. Entre a iliteracia abundante e o pouco tempo disponível para procurar informação sobre temas relacionados com orientação sexual ou identidade de género, os exemplos de visibilidade bissexual de Liliana Almeida ou Vanessa Silva são importantes por chegarem onde outros exemplos não chegam, por desmistificarem o preconceito sobre quem amamos e temos a liberdade de amar em pleno século XXI.
Esta exposição patente no Museu do Aljube explorou as dinâmicas e tensões entre a repressão e as resistências de diversidade sexual e de género durante a ditadura e após a Revolução. Recolheu num só lugar um acervo de enorme importância e simbologia para o movimento LGBTI+ português. Numa palavra: imperdível.
Com "Passos no Escuro" o cantor Carluz Belo pretendeu "prestar tributo às vítimas de crimes homofóbicos, cujas histórias de amor ficaram por viver. É preciso cuidar destas feridas no nosso imaginário colectivo. Quis realizar o vídeo que eu próprio precisava de ter visto quando era adolescente".
"A braçadeira arco-íris lembra apenas que cada ser humano tem o direito de se apaixonar por quem quiser. Em relações adultas e consensuais tem o direito a ter relações sexuais e emocionais com quem quiser. Cada ser humano tem o direito de amar quem quiser“. Ainda relacionado com o Mundial do Qatar, Rodrigo Guedes Carvalho poderia não o ter feito, mas usou o seu lugar de destaque num dos principais espaços noticiosos do país para educar para a diversidade.
José Carlos Malato revela ser uma pessoa não binária. Malato assumiu-se como pessoa não-binária através de uma publicação colocada nas redes sociais. “A minha identidade de género e expressão de género não são limitadas ao masculino e feminino“, revelou a celebridade que apresenta programas de entretenimento na RTP.
A FOX LIFE pôs (parte do) o país a falar na sigla LGBTQIA+. Tratou-se de uma campanha de homenagem e de um compromisso com a promoção da literacia de identidade de género e combate à intolerância e ao preconceito, desenvolvida pela Fox Life e com a consultoria da ILGA Portugal, que deu a conhecer os vários termos relacionados com as nossas vidas à população em geral.
As Várias Desilusões do Ano. 2022 foi suficientemente rico para nos desiludir a quadriplicar, num ano em que estourou a guerra na Ucrânia, que afectou todo o mundo e volta a expor as fragilidades dos mais vulneráveis - e onde salientamos naturalmente a população queer.
Precariedade na empregabilidade das pessoas LGBTIQA+. Várias pessoas em Portugal vieram a público queixar-se do incumprimento dos direitos laborais a entidades que estiveram ligadas. Não sendo único, um dos casos mais mediáticos é o projecto Drag Taste que depois de se ter tornado num sucesso mundial acabou com queixas de assédio laboral que fizeram eco recente em vários meios internacionais.