A edição deste ano é incontornavelmente marcada pelas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril e pelas possibilidades de expressão artística abertas com a revolução. «Na certeza de que há sempre um antes e um depois, esta edição parte da voz, das vozes, para testar outras formas de estar em palco, de vivenciar a dança em vários espaços e formatos. Redefinimos limites do que a dança pode ser, reformatando como ela pode ser experienciada. Reescrevemos narrativas, desentranhando como elas podem, e por quem, ser partilhadas», afirmam os codiretores artísticos da Direcção de Artes Performativas da Ágora, Cristina Planas Leitão e Drew Klein.

Logo no dia 23 de Abril, Marco da Silva Ferreira apresenta no Rivoli Café Salão Pavão, em que se abre a pista de dança à expressão do desejo: «A batida da música de clubbing cria uma atmosfera noturna de celebração, onde os corpos são hímenes e os olhos são mãos. A velocidade e o entrelaçar de bailarines-dançarines-aves geram uma vertigem fugaz a este encontro, uma espiral acelerada que parece não ter fim, onde festa, expressão, espaço íntimo e realidade se entrelaçam sem pedir permissão».

Um dos pontos altos deste DDD é a performance The Macaroni Club, promovida pela The Cursed Assembly no Clube Fenianos Portuense. Procura-se recriar um dos encontros de “macaroni”, termo associado a «homens (efeminados) que se dedicam à beleza e à moda no século XVIII do mundo ocidental». O público é convidado a participar no espectáculo, assumindo, numa lógica de live action role play, a construção de uma personalidade performativa em interação com os macaroni da The Cursed Assembly. À noite, as dinâmicas em palco transferem-se, já em regime de festa, para o Rivoli Café.

Nos dias 28 e 29, o Rivoli acolhe Lounge (na foto) de Marga Alfeirão com Mariana Benenge, Myriam Lucas e Shaka Lion. O espectáculo define-se como um «dueto para dois corpos que se identificam com o feminino. Juntos, experimentam estados de descanso ativo e passivo. As intérpretes servem-se da presença uma da outra, para mergulharem mais a fundo em si mesmas e no clima». Os jogos e encontros de olhares entre as protagonistas e o público, bem como o desbravar dos sinais não verbais do desejo são elementos marcantes deste espectáculo.

Amanda Piña traz Exotica ao Teatro do Campo Alegre nos dias 4 e 5 de Maio. O espectáculo apresenta-se como um «ritual exuberante concebido como uma sessão espírita através da qual os bailarinos, enquanto antepassados, pessoas queer e mulheres negras do passado e do presente, ressurgem em palco e entram em diálogo com o olhar e a ancestralidade do público». Invocam-se figuras como La Sarabia, Nyota Inyoka, François Benga e Leila Bederkhan, artistas racializados que marcaram nos palcos do início do século XX o que se refere como a «brown history da dança europeia».

À semelhança do ano passado, o DDD recebe uma vogue night party, assumida por Mother Nala Revlon e Piny 007, do Vogue PT Chapter. A festa toma conta Pérola Negra, icónico espaço da noite do Porto, no dia 4 de Maio. Nessa tarde, haverá um workshop no Campus Paulo Cunha e Silva indicado a pessoas com nível avançado em Vogue Fem que pretendam desenvolver a técnica e o vocabulário pessoal nessa categoria.

Estes são apenas alguns destaques do vasto e variado programa da edição deste ano do DDD, que convidamos todos a explorar. Os espectáculos Salão Pavão e The Macaroni Club são de entrada gratuita mediante levantamento de bilhete no próprio dia da sessão.

Pedro Leitão

Foto: Mayra Wallraf