Os 50 Anos do 25 de Abril celebraram-se em todo o país e com ecos em várias partes do mundo. A Revolução dos Cravos, o Dia da Liberdade viveu-se em odes de celebração e muita emoção pelos locais por onde passou a revolução.
O resultado das recentes eleições legislativas em Portugal, com crescimento exponencial da representação eleitoral da extrema-direita, só surpreendeu quem não esteve com atenção nos últimos 20 anos, e nos últimos dez, ou quem coloca tanta fé numa sociedade e economia de mercado que confunde o regime actual com uma verdadeira democracia.
Há 50 anos, a 13 de Maio de 1974, poucas semanas após o 25 de Abril, o Movimento de Acção Homossexual Revolucionária, publicava o Manifesto «Liberdade para as Minorias Sexuais», de que o fundador da Opus Diversidades (ex-Opus Gay), António Serzedelo, era um dos subscritores.
Como Mulher vivi o Estado Novo com muitas regras e opressões ...era Mulher, que como todas as outras vivíamos em regime político ditatorial autocrático e corporativista de Estado.
A poucas semanas da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, aceitei falar sobre Liberdade, nomeadamente no que diz respeito à comunidade LGBT+. Este é também um tema crucial, não somente pelo acontecimento histórico em si, mas pelo facto de que enfrentamos eleições legislativas e a dúvida sobre como será a futura composição parlamentar faz soar vários alarmes.
O caminho das pessoas LGBTI+ tem sido longo. Longo e demorado. O 25 de Abril significou a oportunidade de se fazer uma mudança estrutural profunda na sociedade. Porém, apesar dos valores de Abril, sabemos hoje, que esse percurso tem sido difícil e resta-nos olhar para o passado para antever o que poderá ser o nosso futuro.
Confesso que estas eleições (para não falar no mundo em geral...) estão a deixar-me preocupado. Preocupado pela erosão progressiva dos grandes valores universais orientadores de esquerda: liberdade política, igualdade de oportunidades, justiça social e solidariedade. Valores humanistas que atravessaram e amadurecem ao longo de mais de 300 anos do pensamento político ocidental.
Sem História, não há memória. Foi este o mote que motivou a Exposição “Recorda, Conta, Celebra – Mês da História LGBTQI+” que, pelo segundo ano consecutivo, ocupa o espaço da Biblioteca Norte | Sul do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra durante todo o mês de Fevereiro.
Sem o 25 de Abril de 1974 não teria existido associativismo LGBTIQA+ em Portugal, mas este não encontrou de imediato as condições indispensáveis à sua implantação na sociedade portuguesa. A questão era demasiado “fracturante”, tanto para as direitas políticas extremamente conservadoras, como para a cultura revolucionária radicalizada predominantemente antifascista e anti-capitalista que tendia a desqualificar como burguesa e decadente a subcultura gay e lésbica que prosperava, por outro lado, muito ligada ao circuito de bares e aos espectáculos de transformismo.
Com o fim da ditadura no 25 de Abril de 1974, houve enormes alterações a nível político e social, no entanto, do ponto de vista de género não houve abertura suficiente para que isso tivesse tido algum impacto em mim quando era criança.
Gosto de distinguir dois sentidos para "25 de Abril". Um, mais genérico, abarca toda a experiência democrática pós-1974. Outro, mais restrito, refere-se ao período revolucionário e instável entre o 25 de Abril de 1974 e a dita "normalização" posterior ao 25 de Novembro de 1975. Quando penso no primeiro, sinto orgulho num país que conseguiu garantir legalmente todos os direitos políticos, cívicos e humanos (ainda que não todos os direitos sociais). Quando penso no segundo, vejo os sinais da dificuldade em colocar no debate político as questões de género e sexualidade.
As pessoas LGBTIQA+ sabem da sua história. Sabem que o dia 25 de Abril de 1974 foi o início de uma libertação demorada. Se é esse o ano que a associação dos psiquiatras americanos retira a homossexualidade da lista das patologias (a OMS retira em 1992), por cá, um manifesto de homossexuais é repudiado pelo general Galvão de Melo na televisão com estas palavras: “O 25 de Abril não se fez para as prostitutas e os homossexuais reinvindicarem”.
A propósito dos 50 Anos de Liberdade o site dezanove.pt foi auscultar o que várias figuras do nosso país têm a dizer em relação à Liberdade. A Liberdade de Ser.