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Um caminho longo e demorado

daniela f bento

O caminho das pessoas LGBTI+ tem sido longo. Longo e demorado. O 25 de Abril significou a oportunidade de se fazer uma mudança estrutural profunda na sociedade. Porém, apesar dos valores de Abril, sabemos hoje, que esse percurso tem sido difícil e resta-nos olhar para o passado para antever o que poderá ser o nosso futuro.

Nos últimos anos conseguimos grandes avanços em várias áreas da vida das pessoas LGBTI+, hoje lutamos para que nada volte para trás. Para que nada do que nos foi dado com tanto suor e lágrimas, nos seja retirado.

Nos últimos anos conseguimos grandes avanços em várias áreas da vida das pessoas LGBTI+, hoje lutamos para que nada volte para trás. Para que nada do que nos foi dado com tanto suor e lágrimas, nos seja retirado.

Conseguimos vários avanços legais como a consagração da orientação sexual no artigo 13º da Constituição, a aprovação do casamento igualitário, a adopção por casais do mesmo sexo, a PMA para todas as mulheres, uma lei de autodeterminação da identidade de género e a proibição de práticas de conversão. Sabemos que os retrocessos também são possíveis, vejamos o que aconteceu na Itália com a adopção homoparental ou o que aconteceu em Madrid com a lei de autodeterminação.

Acredito na mudança, mas para a mudança ocorrer é preciso quebrar resistências, ideias preconcebidas. É preciso ter a coragem de o fazer, lidar com o desconforto. Um desconforto que nos deixa muitas vezes em perplexidade sobre o mundo e aquilo que nos rodeia. Mas este é necessário. O desconforto de vermos o nosso privilégio em causa, de vermos aquilo que nos segura em questão, porque talvez, não seja assim um porto tão seguro. Ou melhor, talvez esse porto é apenas o de algumas pessoas. O que eu digo que segura a minha vida, não é aquilo que segura a vida de muitas outras pessoas. No entanto, estarei cá para lidar com esse desconforto, com essa dúvida e com esse medo não ter um porto seguro.

Sabemos que os direitos da comunidade LGBTI+ não estão escritos em pedra, mas sim em papel frágil. Ainda assim, assistimos a um crescente número de pessoas a reclamar o seu espaço, a exigir que a sua voz seja finalmente ouvida, a colocar a exigência onde ela deve estar. O activismo tem crescido e os movimentos sociais, ainda que muitas vezes sem quaisquer recursos, continuam a dar o seu melhor para sustentar a vida de muitas pessoas. Porque sim, infelizmente, muita vezes é o tecido social na sua base que trabalha arduamente para manter vivas as próprias pessoas, através do diálogo, dos grupos de apoio mútuo, dos serviços e de todos os outros mecanismos que conseguimos arranjar para garantir uma vida um pouco mais digna a quem precisa.

A violência combate-se, mas não é possível fazê-lo na inércia de não a reconhecer enquanto tal. É portanto importante dotar as pessoas de formas de reconhecimento da violência de que são alvo. Porque se na lei parece que há caminho percorrido, na prática tudo parece movimentar-se de forma muito lenta ou não se movimentar de todo. A violência está nas ruas, está nas casas de cada pessoa LGBTI+, está na escola, no emprego, na saúde, na justiça, na política e em tantas outras esferas da nossa vida. Não é possível combater a violência, fingindo que não a reconhecemos ou que não existe. Não é possível lutar por um mundo mais justo, ignorando as injustiças do mundo, principalmente as injustiças que recaem sempre nas mesmas pessoas, nos mesmos grupos de pessoas politicamente sub representados, nas mesmas vidas.

Porque se na lei parece que há caminho percorrido, na prática tudo parece movimentar-se de forma muito lenta ou não se movimentar de todo. A violência está nas ruas, está nas casas de cada pessoa LGBTI+, está na escola, no emprego, na saúde, na justiça, na política e em tantas outras esferas da nossa vida.

Porque a luta política não se faz a troco da vida de pessoas inocentes. Não podemos continuar a desculpar, a silenciar e a ignorar a voz de tantas pessoas. Simplesmente não podemos. Estas vidas de que falamos, não merecem isso.

Estamos a 50 anos do 25 de Abril, não podemos negar que movimentos de extrema direita e outras forças conservadoras têm responsabilizado as pessoas LGBTI+ pela destruição da família e dos valores tradicionais. Porém, nada disto tem acontecido. As únicas pessoas que são lesadas são as próprias pessoas LGBTI+ e as suas comunidades.

Resta-nos continuar a lutar e continuar presentes e com atenção. Queremos mudanças estruturais que nos permitam viver em harmonia connosco e com o mundo. Queremos políticas públicas que nos permitam existir em plenitude do nosso ser. Queremos reformas que nos permitam estar em comunidade e em segurança.

Continuamos.

 

Daniela Filipe Bento