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Nem na mata se encontram histórias assim

Liam Campbell: "Sou apenas um rapaz que encontra rapazes, os fotografa e depois os junta na Elska"

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Como é que um rapaz tímido perante as objectivas de uma máquina fotográfica se torna numa pessoa que vai à procura de rapazes para os fotografar (nus e vestidos)? A paixão pela fotografia venceu a timidez e de um hobbie surgiu a Elska Magazine. O dezanove.pt entrevistou Liam Campbell, o fundador da revista, um londrino que veio fotografar os rapazes de Lisboa e acabou maravilhado pela cidade.

 

elska12.jpgdezanove: Como é que Elska Magazine surgiu?

Liam Campbell: Embora tenha estudado fotografia na faculdade, fui sempre um autodidacta nessa área ao longo da minha vida. Há uns anos fiz uma pausa para trabalhar como comissário de bordo. Todas essas viagens pelo mundo reacenderam o meu interesse pela fotografia, e, nas viagens, comecei a ir à internet para conhecer rapazes em cada uma das cidade que ia visitando, não para engatá-los, mas para fotografá-los. Acabou por tornar-se de tal forma uma paixão que decidi reunir essas fotografias para publicar um livro… Essa ideia de livro transformou-se gradualmente numa ideia de revista, um álbum de fotos, que seria lançado a cada dois meses, cada número fotografado numa cidade diferente com os rapazes locais. De seguida, tive a ideia de incluir histórias para tornar tudo um pouco mais pessoal e íntimo. E a Elska é isso.

 

Como é que sentes o carácter da cidade através dos rostos e dos corpos dos Elska Boys?

Olho para cada edição como um diário de uma viagem pela cidade. Não procuro um tipo específico de rapaz, mas sim aqueles que sejam autênticos e que não tenham artifícios. Portanto, é uma forma de ter uma visão abrangente dos rapazes, que se podem ver a andar pela rua ou juntos num bar algures. Para os locais, não escolho especificamente as zonas turísticas, procuro também bairros comuns, e muitas vezes uso as próprias casas dos fotografados, com as suas coisas à volta, para se sentir uma maior proximidade. E depois há o estilo, que é apenas natural, em que usam as suas próprias roupas, e que é inspirado no local, no momento.

Ultimamente só tenho estado em cada cidade cerca de uma semana, e tendo um número limitado de páginas para cada edição, não posso mostrar tanto quanto gostaria, mas o que se pode ver é o mais real e honesto que consigo. Além disso, tento publicar algumas fotos que mostram os rapazes desprevenidos, como a rir ou apenas em movimento, o que ajuda a revelar um pouco mais as suas personalidades.

 

Os Elska Boys são contactados através das redes sociais. Como é que têm respondido ao teu desafio?

É realmente diferente consoante a rede social que é usada. Sites gays como o Planet Romeo e o Hornet podem ter muitos rapazes, mas muito poucos respondem, ou porque estão no site à procura de "romance" ou porque supõe que eu sou apenas um tarado que lhes quer tirar fotos. À medida que a Elska está a ficar mais conhecida, isso está a tornar-se mais fácil, mas continuo a achar que se obtém mais respostas positivas em sites como o Instagram, o Facebook e o Twitter, porque não há nenhuma conotação sexual associada. O melhor é quando os Elska Boys me contactam directamente ou através de um amigo, como aconteceu com dois dos rapazes de Lisboa. Nesses casos, já sabem do que se trata e até acabam por ser os mais entusiastas.

 

Encontras os Elska Boys através do Planet Romeo, do Hornet, etc. Existe alguma preferência por rapazes gay?

No início a Elska focava-se em ter homens, independentemente da sua sexualidade. Contudo, depressa ficou claro que a maior parte dos leitores da revista eram rapazes gay. Portanto, concentrei-me mais em fotografar rapazes que também fossem gays. Para além disso, a comunidade LGBT é habitualmente mais aberta e mais atrevida na sua exposição, o que eu aprecio.

 

Quem fotografa os Elska Boys para cada edição?

A maior parte das fotografias são tiradas por mim. Contudo, a cada edição também temos duas rubricas fotográficas de outros artistas, chamada 'Elska Dehors'. Na edição de Lisboa, o meu assistente, Andriy Melnyk, fotografou por conta própria um dos rapazes, o Dário P [na foto, à esquerda]. Esta foi aliás a edição onde houve mais colaboração até agora.

 

Tens sentido diferenças na receptividade dos rapazes em cada uma das cidades? Se assim foi, podes dar-nos exemplos?

O número mais difícil foi o de Lviv, a primeira edição. Há um grave problema de homofobia na Ucrânia e alguns dos rapazes ficaram descontentes com a cobertura mediática que a edição teve nos media gay locais. Mesmo que nem todos os homens dessa edição fossem gays (a maioria eu não sabia mesmo a sua sexualidade, porque nem sequer foi falada), eles temiam que pelo facto de serem referidos em artigos dos media gay que isso fosse considerado o seu 'outing'.

Foi por isso que depois de Lviv escolhi uma cidade mais liberal e gay, Berlim. Lá os rapazes estavam mais disponíveis e não se importaram com o que as pessoas pensam. Gostei disso e foi por essa razão que as seguintes cidades escolhidas foram Reiquiavique e Lisboa. Adoraria fazer uma edição sobre Moscovo, mas por enquanto tento ser mais cauteloso em relação à segurança. Este ano, contudo, haverá um número num país muçulmano, o que me deixa simultaneamente animado e prudente.

 

Tem existido parcerias, como por exemplo, bares, comunidade gay, outras publicações ou com a cena cultural local?

Até agora não tenho tentado fazer qualquer parceria ou publicidade, mas penso que isso possa vir a acontecer no futuro à medida que a Elska cresça, estou aberto a essa ideia. No entanto, até ao momento tenho feito parcerias com hotéis e guesthouses gay-friendly. Em Lisboa metade da minha estadia foi no MyStory Hotel Rossio e a restante na Casa Amora. A edição de Lisboa não teria sido possível sem essas ajudas, visto que não temos orçamento para hotéis, especialmente desde que deixei o meu emprego como comissário de bordo e passei a dedicar-me a tempo inteiro à Elska.

 

Como é que a revista tem sido recebida pelos leitores?elska13.jpg

A recepção tem sido fantástica e eu tento fazer com que os fãs da Elska se sintam como parte de uma família. É por isso que eu envio postais escritos por mim aos subscritores de cada cidade fotografada. Para além disso há o blogue com pelo menos dois posts por semana com os bastidores. E também publico auto-retratos que os fãs me enviam, sobretudo com uma cópia da Elska, às vezes também nus! Penso que apreciam a abordagem.

Quero também lembrar as pessoas que eu não sou a Vogue ou a GQ ou algo do género – eu sou apenas um rapaz que encontra rapazes, os fotografa e depois coloca-os todos juntos nesta ‘bookzine’ chamada Elska. Quero que sintam que sou uma pessoa acessível e humana, que não me vejam como uma corporação sem rosto que não quer saber. Eu quero. Até demais talvez.

 

Sobre Lisboa, como foi a experiência com os rapazes e a cidade?

Bem, primeiro que tudo Lisboa foi de todas a cidade mais bonita que fiz até agora, e é aquela onde mais quero voltar para fazer férias. Além disso, acho que foi o sítio onde me senti mais confortável com os rapazes do que noutro qualquer. Tinha na minha cabeça o estereotipo generalizado de um povo Mediterrânico apaixonado e vigoroso. No entanto, os rapazes revelaram-se mais calmos e reservados… Como eu. E também tive uma paixoneta por dois dos rapazes de Lisboa, o que ainda não aconteceu em nenhuma das outras cidades!

 

Fotografias: Elska Magazine

Entrevista de Luís Veríssimo