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“Moonlight” ou como a tristeza pode ser bela (com vídeo)

 

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O mote do filme é dado logo na abertura. Ainda antes de vermos qualquer imagem ouvimos a voz quente de Boris Gardiner a entoar “Every Nigger is a Star”. E todo o resto da película se pode resumir nesta frase: “Qualquer negro é uma estrela”.

 

E é também logo no início que ficamos a conhecer o rasgo de genialidade da realização de Barry Jenkins, que também assina o argumento conjuntamente com Tarell Alvin McCraney. Nessa primeira cena seguimos um dos protagonistas numa espiral angustiante e claustrofóbica ao longo da qual sabemos já o que irá acontecer. É também aqui que vislumbramos a exímia fotografia de James Laxton, que em todo o filme nos brinda com o uso correctíssimo da cor, sobretudo a azul. Ficamos presos à acção, tal como todos os personagens. E ficamos reféns até que sejamos libertados… Ou não…

Este filme conseguiu ser nomeado para oito Óscares da Academia: Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Actor Secundário (Mahershala Ali), Melhor Actriz Secundária (Naomie Harris), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Montagem (Joi McMillon e Nat Sanders) e Melhor Banda Sonora Original (Nicholas Britell), e isso já é uma grande vitória. Tudo o que conseguir conquistar é a cereja no topo do bolo. E é um daqueles filmes de elenco, em que o resultado da representação de um actor é o complemento da representação do outro e só assim se pode entender o porquê das interpretações serem como são.

“Moonlight” (2016) tem uma história simples, mas que não é de todo simplista. A forma, o conteúdo e a perspectiva da abordagem dessa história são a grande vantagem desta película. O filme relata a descoberta e a libertação interior de um jovem afro-americano, através das ligações interpessoais com as pessoas que o rodeiam, desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta por encontrar um lugar no mundo, à medida que cresce num bairro empobrecido de Miami, aprisionado a uma mãe dependente de amor, atenção e não só. O filme faz um retrato da vida contemporânea da comunidade afro-americana através da… segregação. Esta segregação não é apenas racial; é, na verdade, uma segregação interior, uma auto-exclusão, uma inadaptação aos cânones e convenções sociais. Se és preto tens que fazer e ser isto e aquilo. Se és paneleiro tens que te comportar desta e daquela maneira. E se és preto e paneleiro? Não! Não podes sê-lo… Nunca vais sê-lo…

É efectivamente um filme triste. E essa tristeza nunca havia sido tão bem filmada? Sim, provavelmente sim. Mas a tristeza fica, a eles e a nós, tão bem. E a beleza está nesta grande tristeza… Azul... Onde, à luz do luar, os miúdos negros são todos azuis…

 

Classificação: 4 estrelas em 5

 

Luís Veríssimo