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Nem na mata se encontram histórias assim

“Tom na Quinta” de Xavier Dolan ou uma versão dum livro da Anita

 Xavier Dolan é um prodígio! Quando um rapaz de 25 anos (sim, 25 anos) se debate em pé de igualdade com nomes como Jean-Luc Godard, os irmãos Dardenne, David Cronenberg, Mike Leigh e Tommy Lee Jones pela conquista da Palma de Ouro e sai de Cannes com o Prémio Especial do Júri, só pode ser um prodígio.

Mas esse acontecimento foi com o filme “Mommy” (2014), e esse só deverá estrear em Portugal no final deste ano. Fiquemo-nos então, para já, no seu filme de 2013, “Tom na Quinta” (“Tom à la Ferme”), que estreia esta quinta-feira, 19 de Junho, nas salas portuguesas e que já foi apresentado na sessão de encerramento do último IndieLisboa.

Sob a forma de um thriller, Dolan, filma-se a si como Tom na quinta e tudo é desconcertante, desequilibrado e desafiante. Esta é a história desse Tom, um jovem publicitário, que viaja até ao campo a pretexto do funeral do namorado. À chegada, dá-se conta que ninguém sabe quem ele é, nem que relação tinha com o falecido, cujo irmão rapidamente define as regras de um jogo doentio. De forma a proteger a honra da família e a mãe enlutada, Tom tenta manter a paz num lar cujo passado obscuro confere um negrume ainda maior a esta visita à quinta. Estradas compridas, grandes mentiras, uma outra forma de vida…

O título da película parece saído dos livros da Anita. E não é despropositado pensar-se isso. A peça de teatro passada a thriller psicótico e com um mau corte de cabelo, bem que se podia adaptar às aventuras e desventuras da personagem de Marcel Marlier e Gilbert Delahaye. Curiosamente, ou não, o primeiro livro da Anita, que no original se chama Martine, é “Anita na Quinta”, datado de 1954. Ora, este Tom de Xavier, poder-se-ia passar em 1954 ou noutro ano qualquer, é um filme sem tempo e sem espaço, é um aqui e agora, um portento vigoroso, como o sangue que corre nas veias e escorre na sua leveza inútil perante o declínio da morte, a nossa ou a doutrem.

O filme é a adaptação da peça de teatro com o mesmo nome de Michel Marc Bouchard, o autor trabalhou directamente com Xavier para esta adaptação. Esta é a sua quarta película e a primeira a ter competido na secção principal de um festival de cinema, o de Veneza em 2013. Saiu da cidade das gondolas, em Setembro último, com o Prémio da Crítica no Festival.

Xavier Dolan tem-nos conquistado, aos poucos, a cada filme, a cada gota. Com este “Tom na Quinta” confirmou que já é um cineasta, com “Mommy” confirmou que se prepara para voar mais alto e conquistar o mundo, basta-nos sermos pacientes e esperar…

 

 

Luís Veríssimo