Uma nova reedição de “Os Serões do Convento”, livro atribuído a José Feliciano de Castilho, está disponível em ebook e em papel, numa edição da Index Ebooks. O texto original de 1862 foi encontrado no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro e é considerado uma referência na historiografia literária LGBT em português.
As onze narrativas eróticas que compõem o romance são contadas, em três noites, pelas freiras de um convento português, para criarem entre elas uma “perfeita intimidade”, o que acontece logo no final do primeiro serão, quando as freiras saem ao beijos da cela de Soror Teresa de Jesus dirigindo-se às suas próprias celas.
O livro foi assinado com o pseudónimo M. L., mas a sua atribuição a José Feliciano de Castilho foi feita em 1926. Esta edição inclui prefácio dos brasileiros Helder Thiago Maia e Mário César Lugarinho, doutorados em Literatura Comparada e Letras. Segundo os autores do prefácio, “no caso de ‘Os Serões do Convento’, podemos dizer que a primeira comercialização do livro não acompanhou a liberdade experimentada pelos seus personagens. Enquanto a narrativa está marcada, em grande parte, por uma desterritorialização das normatividades de género e sexualidade, a forma de comercialização do livro, dentro da categoria ‘romance para homens’, não só indicava o conteúdo erótico da obra, como também sugeria uma limitação do público ao qual o gozo da leitura estava destinado. (…) Essa prateleira/categoria literária, no entanto, foi responsável pelas primeiras representações conhecidas, em português, de dissidentes de género e de sexualidade”, consideram. Os académicos acrescentam que “sob o signo da libertinagem e/ou da patologização, surgiram os primeiros personagens que se relacionam sexualmente e/ou afectivamente com personagens do mesmo género, assim como também aparecem personagens que transgridem as normatividades de género. Dessa forma, ‘Os Serões do Convento’ é também parte da historiografia literária LGBT brasileira e portuguesa, por apresentar personagens dissidentes, especialmente mulheres cisgéneras que se envolvem sexo-afectivamente com outras mulheres cisgéneras, assim como personagens que transitam entre a masculinidade e a feminilidade, ainda que seja com interesses principalmente sexuais”.
José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha (1810-1879) foi um jornalista, escritor e advogado português. Em 1846 estabeleceu-se como advogado no Rio de Janeiro, onde colaborou em diversos jornais.
2 Comentários
Anónimo
Sem querer ser muito irritante: “mulheres cisgéneras que se envolvem sexo-afectivamente com outras mulheres cisgéneras” não costumavam ser “lésbicas”? Ou a palavra agora passou a palavrão? Muito agradecido.
Amigo
A nossa Saudosa “Rogeria” quando lhe faziam a pergunta sobre Sexualidade, dizia que era Astolfo e mesmo quando tivemos no Brasil, a primeira mulher trans: Roberta Close, ele disse que manteria o “gênero” do Astolfo, já que “Rogeria” é o travesti que ele adorava “viver e atuar (como personagem)”! Nem todo homossexual que sinta atração pelo mesmo gênero se traveste! Os “afeminados” e as “machonas”, estereotipados dessa forma, por construção social, como “requisito” para ser gay ou lésbica, respectivamente, noutras épocas Não se sustenta mais! Sou Homem cis, mas nem por isso, vou deixar de sentir atração pelo mesmo gênero e também nunca cedi ao machismo de quem quis me presentear com “calcinhas” ou outra lingerie, explicando que sinto atração pelo mesmo gênero e aceito muito bem o gênero biológico que tenho, o vivendo plenamente no vestir e com todas as transformações havidas na adolescência!