Zami: Assim reescrevo o meu nome é uma obra semi-autobiográfica de Audre Lorde, poeta e figura incontornável do feminismo negro. Esta obra profundamente pessoal e sinestésica aborda temas como a descoberta da sexualidade, o racismo e a relação complexa com a mãe. Transcendendo os confinamentos dos géneros literários, a autora apelida o livro de “biomitografia” (entre o biográfico e o exercício de ficção).
Auto-intitulada de “Negra, lésbica, feminista, socialista, mãe, guerreira e poeta”, Lorde coloca no centro dos seus relatos o termo “Zami”, expressão caribenha que designa a comunidade entre mulheres enquanto amantes. Desde o início dos relatos das suas experiências, que começa com uma enumeração das mulheres que moldaram a autora, o amor entre mulheres está no cerne. É dentro desta “teia de mulheres” que Lorde encontra a força para resistir e afirmar a sua existência, apesar dos conflitos e da dor inerente a estas mesmas relações.
Ao longo do livro, são narradas experiências amorosas e afetivas com várias mulheres que marcaram profundamente o seu percurso, destacando tanto os momentos de descoberta e liberdade quanto as dificuldades impostas por uma sociedade homofóbica e racista. O lesbianismo, para Lorde, é uma forma de amor que vai além do desejo físico e se enraíza numa conexão profunda de cumplicidade, compreensão e resistência conjunta ao patriarcado, racismo e heteronormatividade.
Através desta “biomitografia”, captamos uma exploração íntima da identidade da autora enquanto mulher negra, lésbica e feminista, e as complexas intersecções entre estas identidades. Trata-se de uma obra singular repleta de ternura, erotismo e poesia que transcende os limites da autobiografia tradicional para se tornar uma obra de resistência, celebrando o amor como um ato político e a poesia como arma de transformação.
Cláudia Almeida