a saber

O poliamor tem lugar na comunidade LGBT? Opiniões dividem-se mais uma vez

A questão foi lançada pelo dezanove num inquérito online onde participaram 779 pessoas: “O poliamor tem lugar na comunidade LGBT?” Por uma curta margem, a maioria dos votantes (43,9%) considera que sim, enquanto 41,3% acha que não faz sentido incluir a causa do poliamor no movimento LGBT. Quinze por cento dos participantes no inquérito não se pronunciaram.

inquerito poliamor (2).jpg

Recorde-se que este foi o principal tema de discussão entre os colectivos LGBT neste Verão. Afinal, o poliamor também deve ser uma causa LGBT? As declarações de Manuel Damas no seu programa Sexualidades, Afectos e Máscaras do canal de cabo MVM puseram em polvorosa os activistas defensores do poliamor, bem como colectivos e duas associações de direitos LGBT. Houve até uma petição contra o sexólogo e presidente da associação CASA dirigida à Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Ordem dos Médicos, Canal MVM e à CASA. Os promotores da petição apontavam para a forma como Manuel Damas se referia ao poliamor: “prostituição emocional”. No texto da petição podia ler-se: “Afirmou que as pessoas poliamorosas são, pelo mero facto de estarem em relações poliamorosas, criminosas; Afirmou que pessoas do sexo e género feminino que estejam em relações poliamorosas são ‘servas, fazem parte de um ‘harém’, e que o facto de nelas estarem levanta dúvidas sobre se estão ‘no perfeito juízo e na posse das capacidades de análise’”.

A propósito destas queixas, Manuel Damas recordou em Julho entrevista ao dezanove que “há cerca de quatro anos, noutro canal de televisão, fiz também um episódio sobre Poliamor. Nessa altura fui insultado, grosseiramente, de tudo, desde ‘criminoso’, a ‘mentiroso’ e outros epítetos. Nessa altura os insultadores eram os mesmos. Houve alguma consequência concreta? Logicamente que não. O tempo de queimar o soutien na praça, com consequências concretas, já passou”. O mesmo responsável considerou que estava em causa um “núcleo muito pequeno, que são os directamente interessados e esses, logicamente, saltam em defesa do seu próprio interesse, do seu próprio establishement”.

O dezanove também ouviu o promotor da petição, o colectivo Poly Portugal, que sublinhou que “a maioria das organizações que organiza a Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa e do Porto, bem como outras organizações nacionais e estrangeiras, são co-signatárias do abaixo-assinado”. Em entrevista, o colectivo indicava que “a investigação mais recente feita até ao momento (de onde se destaca, por exemplo, o Loving More Survey) conclui inequivocamente que a grande maioria das pessoas poliamorosas são não-heterossexuais. O cruzamento entre a comunidade LGBT e a comunidade poliamorosa já foi o foco de vários estudos internacionalmente reconhecidos”.

15 Comentários

  • Jorge

    Não faz sentido. Poliamor ou poligamia é um comportamento, não uma orientação sexual. Não é a natureza ou identidade de alguém, é uma escolha. Não sou nada contra, mas defender os direitos da comunidade LGBT é uma questão de direitos civis e de igualdade, enquanto o poliamor é apenas uma questão de liberdade. É-se homossexual mesmo sem ter comportamentos homossexuais (existem crianças e adolescentes homossexuais), enquanto para ser-se polígamo tem de se estar numa relação com mais de uma pessoa. Ser homossexual é ter atração pelo mesmo sexo e não pelo sexo oposto. Já um polígamo não poderá dizer que a sua natureza é de apenas conseguir relacionar-se com várias pessoas ao mesmo tempo. Não misturem identidade com comportamentos. Os polígamos que lutem pelas suas liberdades, e deixem a comunidade LGBT lutar pelos seus direitos e pelo reconhecimento da sua natureza e da sua identidade que não controla, e de que não se trata de um comportamento que se escolhe ou de um estilo de vida.

  • David

    Concordo. Não me aperece que haja qualquer correlação entre monogamia/poligamia e alguma orientação sexual específica. Não digo que seja uma escolha, mas é certamente uma característica que não depende da sexualidade, exemplo disso é por exemplo a prestigiada poligamia (hetereossexual) em países árabes.

  • Junos

    Se poliamor (não poligamia) não deve fazer parte das questões LGBT, então devemos pensar melhor no que já faz parte dessas questões e é aceite sem se pensar duas vezes. Dou o exemplo dos cartazes de saúde sexual, particularmente o HIV, que aparecem nas marchas.
    Ter HIV não é uma orientação, é, maioria das vezes, uma (consequência de uma) escolha. As questões do tratamento e prevenção desta doença fazem parte do movimento LGBT desde a sua infância. Todos nós aceitamos e beneficiamos da inclusão deste tópico nas nossas lutas precisamente porque uma grande percentagem dos LGBT tem estas doenças ou está em maior risco de as ter.
    Então, do mesmo modo que as questões do HIV (por exemplo) se aliam às questões LGBT, também o poliamor se deve aliar.

    O Poliamor é uma escolha na medida em que uma pessoa pode, ou não, ter o background cultural e uma mentalidade que lhe permita libertar da imposição monogâmica. Ou seja, é-se poliamoroso mesmo não tendo comportamentos poliamorosos (saber que consigo amar e ter uma relação com mais que 1 pessoa, mas não o estar a fazer de momento, por exemplo).
    Citando os PolyPortugal, “a grande maioria das pessoas poliamorosas são não-heterossexuais”. O Poliamor é uma questão que afecta mais LGBT do que heteros! Parece-me natural que se associe.

    Alem disso, o Poliamor não possui questões de direitos civis e de igualdade? Quantas vezes já me disseram que esse tipo de amor não era real ou puro, só porque inclui mais que um! É preciso que haja bullying nas escolas a uma criança que diga que gosta de mais que uma pessoa?
    O Poliamor merece tanto respeito como a monogamia – Questão de igualdade.
    Ninguém merece ser julgado por estar numa relação poli – Questão de direitos civis.

    Alias, que mal faria esta inclusão? Que mal faz um cartaz a mais nas marchas? Que mal faz uma noticia ou outra quando, por exemplo, um “doutor” sugere suicídio aos que praticam poliamor?
    É para parecermos “certinhos”, “normais”, “bem comportados”? Pensando assim, já perdemos qualquer luta…

  • David

    É um erro associar o poliamor (que conduz à poligamia) à comunidade lgbt – ainda que seja aí que é mais comum – se a percentagem afeta não for significativa. É generalizar algo sobre o qual muitos LGBT não se revêem, logo deve ser evitado.

  • Junos

    “o poliamor (que conduz à poligamia)” …uh? não percebi, sinceramente, de onde essa louca afirmação veio.

    Então, já agora, acha um erro associar direitos LGBT a direitos humanos? Já que somos uma percentagem não significativa…

    Aponto-lhe, também, ao pequeno inquérito realizado neste site, cujos resultados estão acima publicados. Leu-o? Reparou que a maioria concorda com a associação do Poliamor aos direitos LGBT?
    Repare agora no quão engraçada e irónica é essa sua ultima afirmação, considerando que está apenas a uns pixeis abaixo da voz da maioria que discorda com os seus “factos”.

  • Marcia

    Sim Junos… Porque a MAIORIA tem sempre razão… e nós LGBTI’s podemos mesmo afirmar isso. Haja paciência…

  • Junos

    Isto é um inquérito, não um referendo. É uma questão a nível de opinião, não legislação. É uma forma de desarmar quem diz “mas os LGBT+ não querem saber disso”.
    Eu não disse que a maioria tem sempre razão, alias, se ler o meu segundo paragrafo percebe isso.
    É preciso muita paciência, concordo.

  • David

    Junos, penso que seja fácil a conclusão. A poligamia existe se um indivíduo mantiver uma relação com vários indivíduos, ou seja, se amar mais do que uma pessoa, logo, resulta de um caso de poliamor.

    Todos os LGBT são humanos. Por isso não é um erro associar direitos LGBT a direitos humanos. Mas nem todos os que sentem o poliamor são LGBT (muitos não são). Por isso acho que não deve ser feita essa associação. É a minha opinião.

  • Junos

    Poliamor está para homossexual como poligamia está para relação homossexual, parece-me.
    E nem todos os que defendem os direitos das mulheres são mulheres, nem todos os que defendem os direitos dos LGBT são LGBT…
    E, como disse, nem todos os LGBT sentem o poliamor, mas, como mostra o inquerio, muitos defendem-no.
    Usando o argumento da maioria, porquê associar o L, o B e o T aos LGBT? Sendo que a maioria (ou a maioria que tem mais voz) são os homens gay, porque não dividir? Ficamos com os direitos G, os direitos L, os direitos B, os direitos T, os direitos Poli (se continuasse a enumerar coisas que o + do LGBT + engloba nunca mais acabava)… prefere assim? Hey, porque não? Afinal, a maioria é que importa, não é?…

  • David

    Concordo, deste-me razão. Poliamor está para homossexual como poligamia está para relação homossexual. E ser-se homossexual motiva que se tenha uma relação homossexual. Isto é, o poliamor conduz à poligamia. Como eu havia dito antes.

    Os defensores dos direitos dos LGBT podem ser LGBT ou não ser, quem defende os direitos das mulheres são mulheres e alguns homens. Certo. Porém, notar que os heterossexuais apoiantes não são associados como LGBT nem os homens que defendem os direitos das mulheres associados como mulheres. Assim, e porque parte relevante dos que sentem o poliamor não são LGBT, o poliamor não deve ser associado à comunidade LGBT.

    Consideremos a população de cidadãos negros, em particular os negros americanos e os negros africanos. A percentagem de negros africanos é superior à percentagem de negros americanos. No entanto não podemos associar ‘negros’ a ‘continente africano’. Analogamente, não se pode associar poliamor aos LGBT.

  • Junos

    “Porém, notar que os heterossexuais apoiantes não são associados como LGBT nem os homens que defendem os direitos das mulheres associados como mulheres”.
    Sim, e? Não estamos a discutir se os poliamor são todos LGBT, estamos a discutir se devem fazer parte das lutas dos direitos LGBT. Claro que alguém que é poliamoroso não se transforma num L,G,B ou T! Nem precisa. É uma questão de liberdade sexual, de defender quem tem essas relações, o mesmo trabalho que os LGBT fazem.
    “Assim, e porque parte relevante dos que sentem o poliamor não são LGBT, o poliamor não deve ser associado à comunidade LGBT.”
    Cito novamente os PolyPortugal “grande maioria das pessoas poliamorosas são não-heterossexuais”. Qual a percentagem que considera “relevante”?
    Parte “relevante” dos trangéneros são heterossexuais, então porque estão associados aos direitos LGB? Parte relevante d@s bissexuais (alias, tod@s) não são gays/lésbicas, então porque estão associados aos direitos LG?

    A minha questão mantém-se, se é para andar a separar todas as lutas, onde paramos?

  • Don't Mention It

    Junos, tanto disparate silogístico para aí anda. Duvido também seriamente que a maioria dos poliamorosos sejam LGBT. A sua luta é muito válida, desde que não resvale para a típica situação de primazia masculina, mas não é inerente à luta LGBT. É mais um questão transversal e interseccional que vale a pena e merece ser referida, tal como a referência da existência de LGBTs de outras minorias, mais nada.

  • Junos

    As minhas questões mantêm-se.
    Movimento LGBT significa e significou sempre mais que o movimento pelos direitos d@s Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros; essa é apenas uma sigla que facilita a comunicação.O verdadeiro significado engloba muito mais que estes. Aliás, muitos dizem LGBT+, uma tentativa de incluir incontáveis diferentes tipos de sexualidades, identidades e géneros.
    Se é uma questão “que vale a pena e merece ser referida”, porque não a associar aos direitos LGBT? Têm problemáticas semelhantes, afinal…
    E, de novo, a questão mais importante – Porque não? Porque não tem que ver com orientação sexual? O T também não tem que ver. Porque a maioria não o quer? O inquérito é uma prova em contrario (além disso, se fossemos sempre pelo que a maioria quer nem estávamos aqui)…
    Já me estou a repetir…

  • Don't Mention It

    Junos, o LGB e o T têm em comum a expressão de género não normativa e o sexismo como fonte da homofobia e transfobia. É substancialmente diferente.

  • Miguel Moreira da Silva

    Não faz qualquer sentido incluir o Poliamor.
    Por este andar, qualquer dia, estamos a incluir as matrafonas do Carnaval de Torres Vedras, como heterossexuais crossdressers.