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“A Confissão de um Filho do Século” 

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A vida é um sono de que o amor é o sonho, e vós tereis vivido se tiverdes amado. Sonho!, Alfred Musset 

O presente livro, ao contrário do que se poderia esperar, não se insere na temática ou literatura queer, ainda assim, considero esta obra ser particularmente interessante para qualquer leitor, o  único requisito expectável é o prazer despertado por um bom romance. E por falar em bons  romances, A Confissão de um Filho do Século, da autoria de Alfred de Musset, espelha o que de  melhor o movimento romancista francês nos legou. A estória de um amor no séc. XIX, um amor que  embora idealizado acaba por cair nas façanhas de um estado de alma depressivo, suicida e até trágico.  

A estória que aqui se narra, de carácter autobiográfico, dá-nos conta do bon vivant, do dandismo que  caracterizou a vida de Alfred Musset e do seu trágico e flamejante amor com George Sand,  pseudónimo masculino de Amandine Aurore Lucile Dupin, poetisa francesa que terá servido de  inspiração para a obra do considerado "prodígio do romantismo francês”. Publicada em 1836, esta  obra conta-nos sobre o sofrimento e amadurecimento da vida amorosa de Octave, um jovem  burguês parisiense de 19 anos que traído pelo seu primeiro amor e, por convite do seu estrambólico  amigo Desgenais, ingressa numa decadente vida de ociosidade, rodeado de luxo e cortesãs  parisienses da época. Convicto em abandonar a cólera provocada por aquela tragédia amorosa, o  devassidão da sua amante com o seu melhor amigo e consequente humilhação pública, Octave  ingressa num caminho de libertinagem, num dandismo festivo que jamais conseguiriam preencher o  seu estado de alma. 

Junto do cansaço de uma vida de deboche, a morte do seu pai mostraria ser um acontecimento que  mudaria a sua vida. Entre a enfermidade da perda de um amor romântico e paterno Octave  encontraria mais tarde, na sua terra natal, o reencontro com os prazeres da vida. Porém, ainda que  apaixonado pela riqueza do campo e da inspiração que aquele lugar lhe trazia, foi pelos braços de  Brigite Pierson, uma jovem viúva pouco mais velha que ele próprio, que encontrara a força para  ultrapassar tais desgostos. 

Entre uma relação de amizade composta por momentos de ternura e de partilha, entre sonhos e  famigeradas confidências, descobrimos uma nova história de amor. Uma história de amor que  mostrava o seu desfecho da mesma fora como iniciara, rapidamente. Tomado pelas inseguranças, pelo trauma da rejeição de um primeiro amor, Octave deixa-se perder numa espiral de ciúme e desespero, perdendo o controlo sobre si e da sua vida. Aquele novo amor tornar-se-ia, então, o  materializar de uma enfermidade psíquica. 

É nesta contrariedade que o desfecho da estória se dá. Percebendo o risco em que se colocara a si e  à sua musa, movido pelas contrariedades de um destino que o encurralara, Octave decide por fim  aquela relação, prometendo conservar à distância o seu devoto e eterno amor a Brigite.  

Esta, é uma estória de amor intenso, complexo, marcado por alegrias e desavenças, exemplo do  amadurecimento necessário para determinar o fim de uma aventura desesperada de amor. Uma estória que nos mostra a tormenta, a fuga à realidade, a contradição de um sentimento que embora  fantástico tem também o seu lado de trágico. 

Deixando um vasto trabalho literário, entre o teatro, romance e poesia, Musset morre durante o sono  em 1857, após anos de uma vida marcada pelo álcool e por uma doença cardíaca grave. 

 

Edição/Reimpressão: 06-2022 

Editor: Cavalo de Ferro 

Idioma: Português 

Encadernação: Capa mole 

Páginas: 304 

Classificação Temática: Romance 

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.