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A Madonna faz 60 anos

Manuel Moreira foto de Joana Correia

A carreira e a vida da Madonna são, para a maioria das pessoas que conhecem o fenómeno  - e se há nome identificável em quase todas as partes do Mundo é o da Madonna - feitas de "antes de" e "depois de". Porque ela anda cá há muito tempo e toda a gente tem sempre alguma coisa boa ou má a dizer da Madonna e toda a gente tem a "sua" Madonna preferida. Antes e depois das plásticas, antes e depois dos filhos, antes e depois de ter deixado de fazer "bons álbuns".

Veremos, nos próximos anos, se haverá um antes e depois de ela se ter desligado por completo deste mundo, como alguns posts alheados (e às vezes, digo com tristeza, mesmo tone-deaf) começam a ameaçar. Por enquanto, está vivo ainda o contributo que ela continua a dar contra o idadismo misógino que condena as mulheres com mais de 40 anos a absterem-se do erotismo e da presença no mainstream. Não há um texto sobre a Madonna (incluindo este, mas porque hoje é o aniversário dela) que não comece por referir a sua idade, e toda a gente lhe refere a idade há mais de 20 anos, ou seja, ela construiu quase dois terços de uma carreira pop mainstream debaixo do rótulo "too old for pop", e por isso mesmo a idade dela é inevitável. Encher estádios no mundo inteiro aos 50 e muitos anos, sendo mulher e solo act é uma coisa que não existe, infelizmente, - excepção feita à incrível Tina Turner - além Madonna. Só em bilhetes de concertos, a Madonna movimentou 1 bilião e meio de dólares ao longo da carreira e, believe ir or not, mais de metade desse dinheiro foi feito nos últimos dez anos.

Venham mais 60. 


Dos 60 anos de pioneirismo, atitude punk e “bad feminism” que estão para trás, eu celebro, por exemplo:
A Blonde Ambition Tour, onde ela inventou o formato de espectáculo pop que hoje conhecemos, com os quadros temáticos e os palcos giratórios e a dança a entrar pelo formato concerto-rock sem pedir desculpa. E a cena da masturbação, e os polícias à porta do estádio no Canadá prontos para a prenderem no fim do show e ela a fazer a cena anyway. E o Girlie Show e aquele número orgiástico antes do "why's it so hard" e os bailarinos homossexuais, asiáticos, latinos e andróginos em lugar de destaque e as mamas de fora e a liberdade daquilo tudo. Ainda discutimos, hoje, a importância da diversidade e da representatividade nos meios mainstream e ela já lá tinha tudo há 25 anos atrás. E o ativismo pela luta contra a SIDA quando ainda nem o Presidente dos Estados Unidos dizia o nome da doença em público e nem os médicos chegavam perto dos doentes sem luvas mas ela ia visitar os amigos com SIDA aos hospitais e fazia daquilo uma festa e falava-lhes a todos de beijo na boca. E a ousadia de promover o sexo seguro (don’t be silly, put a rubber on your willy!) ao mesmo tempo que continuava a celebrar a liberdade sexual, recusando a “moralidade” como solução. O panfleto didático sobre a SIDA incluído no álbum Like a Prayer, que foi a educação sexual que a maioria dos jovens fãs, sobretudo os gays, não tiveram em mais lado nenhum.

 

E o ativismo pela luta contra a SIDA quando ainda nem o Presidente dos Estados Unidos dizia o nome da doença em público e nem os médicos chegavam perto dos doentes sem luvas mas ela ia visitar os amigos com SIDA aos hospitais e fazia daquilo uma festa e falava-lhes a todos de beijo na boca.


E quando só existia a MTV e mais nada, e ela fez o clip do Justify My Love e a MTV se recusou a passá-lo e ela foi a primeira cantora a lançar um video-clip para venda nas lojas porque o importante era que ele fosse visto e a Warner disse que isso não se fazia e que ninguém ia sair de casa para comprar um video-clip em vhs mas ela bateu com o pé e lançou o maldito video e vendeu milhões. Ou quando se fartou de responder a executivos e lançou a sua própria editora, fez-se CEO e passou a lançar a sua própria música e ainda teve tempo para lançar a Alanis Morrisette ou os Prodigy. E o sex book? O SEX BOOK. Aquelas fotografias lindas de morrer com mulheres lindas de morrer a comandarem as suas próprias fantasias e a reclamarem para si um poder que devia ter sido sempre seu, nosso, de todas as minorias, e isso é lindo.
E aquela história de como ela, ainda anónima e sem um tusto, vivia naquele bairro perigosíssimo em NY e aquele fotógrafo foi lá visitá-la por sugestão de um amigo e achou que ia ser assaltado mas quando disse o nome dela as portas do bairro escancararam-se e ele foi conduzido até ela por miúdos marginais de quem era amiga e que a idolatravam. Ou como ela assinou o seu primeiro contrato numa cama de hospital porque o presidente da editora estava doente mas ela não ia deixar escapar a oportunidade.
E quando o Papa quis opinar - eles opinam sempre - sobre os excessos dela e ela respondeu "if he wants to see me, he can buy tickets like everybody else".
E o middle finger que ela apontou às feministas que a celebraram nos anos 80 e 90 por tomar as rédeas da sua própria sexualidade mas que depois a condenaram por não envelhecer de forma "graciosa", tipo, as if, bitches. E aqueles grillz que ela põe nos dentes e que ficam medonhos nas fotografias mas que ela continua a usar, mesmo sabendo que toda a gente acha horroroso e que vão ser chacota do mundo inteiro. 
E a Madonna que não faz fretes:
 "I hate polite conversation. I hate it when people stand around and go, "Hi, how are you?" I hate words that don't have any reason or meaning. "
That’s my girl.
Happy Birthday.

 

Manuel Moreira, actor

 

Foto: Joana Correia

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