O João Pedro tem 24 anos, é natural de Lisboa, mas neste momento vive em Paris. “Decidi mudar de país pela experiência em si, porque gosto de novas experiências e conhecer outras realidades. Está a ser um teste a mim mesmo, a todos os níveis” diz ao dezanove.pt
dezanove: Há quanto tempo estás solteiro?
Há cerca de um ano e quatro meses.
Quanto mais nos aproximamos do Dia d@s Namorad@s parece que estar solteiro é uma pequena tragédia. Concordas? Pensas muito nisso?
Sou mais adepto do Natal e da Páscoa, do que propriamente do Dia dos Namorados. Estar solteiro não é, de todo, uma tragédia, ou pelo menos não deveria ser. O essencial é as pessoas saberem estar bem com elas próprias. Só assim poderão estar bem com os outros.
É fácil estar solteiro ou é difícil estar num relacionamento?
Pessoalmente prefiro estar solteiro, de momento, pelo menos. A partir do momento em que te encontras e estás bem contigo próprio, estar sozinho torna tudo mais fácil. Tens mais tempo para ti, para a tua família, para os teus amigos, para os teus objectivos pessoais, para tudo basicamente.
Tiveste e tens muitos pretendentes?
Sempre tive mais gente interessada do que interessante.
O que te faz apaixonar por alguém?
Para ser sincero, não sei. Todas as pessoas por quem me apaixonei são bastante diferentes. Não existe um padrão definido.
Contudo, sou uma pessoa que gosta de personalidades fortes e pessoas positivas que estejam de bem com elas próprias e com a vida.
O que não suportas noutra pessoa com quem gostasses de partilhar a vida?
Não suporto pessoas que dizem uma coisa e fazem outra, sem personalidade e pessoas rancorosas.
Já foste alvo de algum episódio de homofobia? Como lidaste com isso?
Felizmente, não. Toda a minha família e amigos aceitam-me como sou e em momento algum me julgaram por isso. Pelo contrário, dizem-me sempre que têm bastante orgulho em mim (e eu neles!).
Sei, porém, que existem muitos casos de homofobia em Portugal e que há muita gente que sofre com isso.
Na tua opinião o que faz falta a Portugal no que respeita à igualdade para pessoas LGBT? O casamento, a paternidade ou adopção estão nos teus planos?
Penso que o que falta em Portugal é a falta de avanços legislativos no que diz respeito à parentalidade. Em relação aos meus planos para o futuro, ainda não pensei muito nisso. Penso que ainda tenho algum tempo para decidir.
E afinal de contas o que vais fazer no Dia d@s Namorad@s?
Para mim será um dia como outro qualquer. Não tenho qualquer plano ainda para dia 14 de Fevereiro. Mas desejo a todos os casais um óptimo Dia de S. Valentim e que se repita (de preferência com a mesma pessoa) por muitos anos! O que importa é ser feliz!
Fotos: João Pedro
Entrevista de Paulo Monteiro
4 Comentários
Maxwell
Em si, não é mau estar sozinho. Contudo, é mau quando se usa vários pretextos para fingir que se quer estar sozinho, quando, na realidade, se quer estar com alguém.
Nos dias que correm, o preconceito dentro da comunidade gay parece-me ser exactamente o oposto: querer estar com outra pessoa.
Quantos de nós, nos poucos momentos em que vamos conhecer alguém realmente já ouvimos a conversa do ‘eu tenho uma personalidade forte’ ou ‘não quero ficar preso, sou independente’ quando se vê claramente que as atitudes são apenas de uma pessoa que, simplesmente, não sabe lidar com os outros, não sabe comunicar nem sabe perceber o que lhe é dito e responder honestamente.
Há pessoas que efectivamente gostam de estar sozinhas. Mas a moda é dizer que se gosta e quer estar sozinho como desculpa para não sair da zona de conforto sentimental nem investir noutros com medo de sermos magoados. Como costumo dizer, em jeito de brincadeira, fecham-se todos nas suas alvas torres de marfim com cantos doces cá para baixo mas sem escada para descer ou subir.
Acho que esse sim deve ser um problema que cada um tem que resolver em si (e não, não são os outros que têm que corresponder ao nosso ideal de perfeição inexistente). A vida é fazer compromissos entre o que idealizamos e a realidade. E cada um tem que perceber o que quer, tirar a capa de super-herói intocável e descer à terra de ego “desinsuflado”, pronto para se apaixonar, desapaixonar e até perceber que afinal quer outra coisa diferente.
Filipe
Estar sozinho é uma opção de vida tão legítima como estar acompanhado, no entanto parece-me que esta solidão na população LGBT portuguesa resulta com frequência de uma série de castelos que as pessoas construíram na sua mente, uns em cima dos outros, para não encararem de frente medos e preconceitos internos. Dou o exemplo de um ex, que tinha um medo doentio de ser visto comigo em locais públicos, não fossem os familiares ou amigos perguntar quem era o amigo que estava com ele. Este medo acabou com a relação, e ele está sozinho há vários anos, e lá continua com a sua colecção de medos.
Noutras situações, vejo as pessoas numa procura incessante por deuses gregos. O companheiro tem de ser musculado, alto, corpo de ginásio, umas vezes peludo e barbudo, outras vezes não pode ter pêlos, não pode ter mais de 30, ou alternativamente não pode ter menos de 25, etc. Como se uma relação se aguentasse com base em fetiches e caprichos. A procura nunca termina e a solidão persiste.
Mas o que mais me choca constatar é que muitos homossexuais e bissexuais portugueses recusam amizades com outras pessoas com a mesma orientação. Com quem irão partilhar os seus sonhos, receios, medos, dúvidas? Acham que um hetero os vai compreender? Em Espanha, é comum encontrar nas principais cidades muitos grupos de jovens LGBT, que saem à tarde e à noite para conviver nas ruas. Em Portugal esta dinâmica está quase ausente das nossas povoações.
Portugueses, percam o medo. Seremos todos mais felizes!
TP
Isso é tudo muito bonito mas a comunidade é gay é extremamente preconceituosa e superficial.
Tenho 25 anos e já desisti de encontrar o amor. Não acontece nem nunca vai acontecer. Só se pensa em sexo e em relações abertas.
Prefiro estar solteiro e aprender a viver com a solidão.
Anónimo
comentário muito lúcido, Filipe! concordo contigo. é muito triste constatar que as relaçoes afectivas entre pessoas homossexuais mantém-se numa polaridade de ‘sexo’ ou ‘indiferença’. falo com conhecimento de causa quando tenho muito dificuldade em ter amigos homossexuais, desempoeirados, que gostem de partilhar gostos e interesses comuns e cuja amizade não traga associada um quase sempre inevitável relacionamento sexual – o que no curto termo apaga a amizade e afasta os envolvidos! verifico também com surpresas a irredutibilidade das convições dos homossexuais no que tange ao ideal de um homem, de uma relação. sem exceção, concluo sempre que os gays (em especial os de lisboa) têm a cabeça cheia de nada…! que pena, mas espero que a realidade mude. eu vou fazendo por isso no meu círculo, mas é muito difícil.