Aguardando por finais cada vez mais longos,

Ansiando por demoras de luz, que sabemos só que chegarão mais tarde.

Hoje, como vinha a dizer desde que o ano rompera,

A Primavera deu um ar de sua graça, chegando num dia de chuva,

Numa varanda larga de Coimbra.

Não sei, agora, quanto tempo durará,

Mas senti, pela primeira vez em tempos demorados,

Que as flores nascem a seu tempo,

Independente do tempo que guardamos as sementes.

E se esta não é a metáfora mais perfeita?

Parece um conto, e quando sentimos que parece um conto, 

Nem que seja só por instantes,

Temos que agarrar essa oportunidade.

Vivemos a Primavera poucos dias nas nossas vidas,

Alguns só a vivem no primeiro e no último.

Sentimo-la chegar, naturalmente, e partir, 

Muitas vezes esquecendo de a viver em pleno.

A maturidade confere-nos a experiência de saber que,

Nesta existência,

Morremos tristes se vivermos só de momentos.

É tempo de ser completo, de viver completo,

Pelo êxtase e pelo medo que é natural.

É Primavera. 

João

Este texto é ficção e pertence ao projecto Voz Arco-Íris.