André Duarte editou o seu novo single Nossa Canção. Este é o “cartão de visita” do primeiro álbum de André Duarte, Complexos. Álbum esse que, nas palavras do compositor, “aborda a complexidade humana trazendo à vida 11 personagens com personalidades contrastantes e cores correspondentes que, na sua soma, criam o artista completo.” Fomos falar com ele nesta entrevista:
No teu novo single “Nossa Canção” fala sobre amar incondicionalmente, mas também evolui para um amor mais melancólico. Como foi para ti transformar estes sentimentos tão pessoais em canto?
Foi terapia. Escrever sobre o que sentimos obriga-nos a dar estrutura e organização a todas essas emoções. É um arrumar as ideias e acalmar a mente. Mas também é um bocado assustador, porque somos forçados a encarar tudo com verdade, a mergulhar nessa dor e a abraça-la até que deixe de doer.
Sabemos que “Nossa Canção” foi gravada duas semanas após o término de uma relação afectiva. Podes partilhar connosco como foi o processo criativo durante esse período emocionalmente intenso?
Tinha pensado inicialmente em tornar esta música algo feliz e fofo – o eterno apaixonado – mas com o término da relação, quando cheguei a estúdio nada do que estávamos a escrever me fazia sentido. Não estava a sentir aquele amor feliz. Sentia dor. E depois de algumas horas a tentar manter o conceito inicial percebemos que tínhamos de mudar de direcção e aceitar a verdade da situação. Nasceu assim o conceito de degrade, a transição do rosa para o azul, do bonito para a dor. Passei a escrever de coração partido, mas cheio. Cheio das memórias que se criaram e da aprendizagem que foi feita. Este tema é um guardar do que foi bom, enquanto fez sentido.
Mencionaste que o álbum “Complexos” explora a complexidade humana através de 11 personagens com personalidades contrastantes. Como foi o processo de criação para dar vida a essas personagens?
A indústria tem esta pressão sob o artista de agarrar um tópico e defender esse mesmo tópico repetidamente. Mas eu sempre tive alguma dificuldade em reduzir-me a um só tema. Sou um ser completo. Tenho dias felizes, tenho dias tristes, tenho dias de frustração, dias de gratidão, sou calmo e sou caótico, sou amor e sou trauma…Quero escrever sobre tudo o que sinto. As 11 personagem surgem como um partir a minha personalidade em pequenas partes isoladas e caricaturadas. É um entender completo de mim.
As cores parecem ter um papel importante no conceito do teu álbum, com cada personagem a representar uma cor diferente. Como escolheste as cores para cada personagem e o que representam?
As cores surgem da bandeira LGBTQIA+ como um abraço à comunidade e a todas as pessoas que têm sofrido ódio e repressão. Quando escrevo tenho sempre associada uma ideia visual do que estou a tentar passar, portanto a escolha das cores para as personagens tornou-se muito natural.
Consideras que o single “Nossa Canção” marca o início de uma nova fase na tua carreira. Quais são as tuas expectativas para este álbum e como se diferencia dos teus trabalhos anteriores?
Este tema marco o início de uma nova fase, um André mais maduro, mais consciente de si e mais honesto. Todos os temas deste álbum precisaram de muita introspecção e auto análise para ganharem vida. Vai ser ainda um álbum sonoramente mais completo e com muito mais energia do que tudo o que tenho editado até agora. Quero trazer cor, quero trazer dança, quero trazer drama, performance vocal, arte.
A música sempre foi uma forma de expressar sentimentos e emoções. Como esperas que o público se identifique e reaja a “Nossa Canção” e ao álbum “Complexos”?
Espero que as pessoas se encontrem e identifiquem nestas canções. Se conseguir ajudar uma pessoa que seja a entender-se melhor e a aceitar a sua complexidade sinto que o meu dever enquanto artista está cumprido.
Como gostarias que a temática de “Nossa Canção” e do álbum “Complexos” tocasse a comunidade LGBTQIA+ na sua diversidade e diferentes pontos de vista?
Qualquer música que eu escreva vai ter sempre uma conotação queer. As minhas canções são um reflexo da forma como eu percepciono o mundo e eu, enquanto homem gay, vivi situações e experiências que me moldaram sob um filtro queer. Para além da representatividade, este tema traz ainda uma história sobre um amor real e eu sinto que, dentro da comunidade gay, ainda existe muita dificuldade em encontrar conexões verdadeiras. Espero que outras pessoas encontrem nesta música um aconchego de que sim, existem todas as formas de amor dentro da comunidade.
“sinto que, dentro da comunidade gay, ainda existe muita dificuldade em encontrar conexões verdadeiras.”
Em “Nossa Canção”, falas sobre amar no passado. Como achas que esta perspectiva pode ajudar as pessoas a lidar com as suas próprias experiências de amor e perda?
Cada luto é único e próprio, mas acho importante olhar para o fim de uma relação com carinho, guardar os momentos que foram bons e tirar as aprendizagens que foram feitas, deixando de lado qualquer rancor ou mágoa que surja do motivo pelo qual terminou.
Entrevista de André Soares