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Angelita Correia encontrada morta em Matosinhos

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Angelita Correia foi encontrada sem vida numa praia de Matosinhos esta segunda-feira dia 11 de Janeiro.

Esta mulher trans de 31 anos estava desaparecida desde o dia 2 de Janeiro. Desde essa altura os familiares no Brasil pediam qualquer informação sobre seu paradeiro.

Oriunda de Goiânia, no estado de Goiás, no Brasil, Angelita imigrou para o Porto, em 2016. Em 2018 casou com um cidadão português. Profissionalmente estava ligada às áreas da ginástica fitness e à dança.

Ao JN o marido declarou ter falado com Angelita pela última vez perto da uma da manhã do dia do desaparecimento. "Ela estava na área da Rotunda da Boavista [no Porto], onde tinha ido visitar uma amiga e falamos ao telefone. Quando lhe voltei a ligar, era já 1h12m. O telefone dela já deu sinal de desligado", revelou Jorge.

Suzana Alcântara, irmã, revelou ao portal brasileiro G1 que tinha visto “uma notificação no Instagram dela fazendo uma live. Ela disse que estava sendo ameaçada, mas que não tinha medo. A minha sobrinha chegou a ligar para ela depois e contou que a Angelita estava muito nervosa, olhando para os lados e pedindo para ligar para o marido dela” A irmã de Angelita ainda não sabe se vai conseguir viajar para Portugal devido à pandemia de covid-19: “As fronteiras estão fechadas. E, se eu conseguir viajar, não sei se consigo voltar. Também não sei se vou conseguir trazer o corpo dela nessa situação e se o marido também vai autorizar". 

Segundo o JN, na manhã de dia 2 de Janeiro foram encontrados vários dos seus pertences pessoais, precisamente no areal da Praia de Matosinhos. Segundo o mesmo jornal também a Capitania do Douro avançou desde então com buscas, mas sempre sem sucesso.

"É tudo muito misterioso, mas alguém quis fazer mal à nossa Angelita. Acreditamos, eu e a família dela, que pode ter sido sequestrada" disse o marido ao Jornal de Notícias no passado dia 6 de Janeiro, numa altura em que se equacionava a hipótese de rapto. "Não lhe conhecíamos qualquer inimizade ou mesmo inimigos", continuou. Ultimamente andava “angustiada”, porque estava a tirar o curso de "personal trainer", mas não conseguia colocação para fazer o estágio de fim de curso, “mas era só isso”.

O caso está sob a alçada do Ministério Público, com investigação a cargo da Polícia Judiciária. A autópsia ao cadáver será determinante para apurar as causas da morte desta mulher.

 

Reacções da comunidade LGBTI

Membros da comunidade LGBTQI+ no Porto e em Matosinhos, foram os primeiros a dar o alerta e a mobilizar-se para ajudar a encontrar Angelita, distribuindo e colando cartazes com a sua fotografia nas duas cidades.

O Queer Tropical, colectivo de apoio à comunidade LGBTQI+ brasileira em Portugal publicou esta segunda-feira uma nota de pesar em que "lamenta imensamente este falecimento e envia os mais sinceros sentimentos de solidariedade à família". Já esta quarta-feira o colectivo informou publicamente que até ao final das investigações não se irá pronunciar mais sobre o caso nem fazer especulações acerca da sua morte. “Angelita foi uma mulher maravilhosa e merece ter a sua memória respeitada”.

 

Esta terça-feira o grupo Fado Bicha mostrou a sua indignação nas redes sociais: “Depois de fazer um vídeo live mostrando estar assustada com ameaças de origem incerta. Foi encontrada morta ontem numa praia em Matosinhos.

A Angelita era uma mulher trans e migrante a viver em Portugal e sabemos TODXS o que isso significa: perante a sociedade, perante a imprensa, perante a justiça.

Não deixaremos que se faça silêncio, não deixaremos que caia o manto da invisibilidade sobre estes corpos, mais uma vez! Não esperaremos oito meses para que se exija TUDO de um estado de direito que se diz igual para todxs e sem preconceito institucional.”

 

A deputada do Bloco de Esquerda Fabíola Cardoso enfatiza: “Apesar dos contornos do ocorrido ainda não serem completamente conhecidos é impossível não pensar num crime de ódio. O nome de Gisberta é uma triste memória sempre presente.

As pessoas trans continuam vulneráveis e expostas a níveis de violência inadmissíveis.

Urge esclarecer a situação e atuar para combater este flagelo.

Uma palavra de conforto a todes quantos choram a sua morte.”

 

Numa nota de pesar a rede ex aequo alertou: "A rede ex aequo lamenta o falecimento de Angelita Correia, uma mulher trans brasileira residente no Porto e apelamos às autoridades Portuguesas e à comunicação social que encarem esta tragédia com respeito pela vítima.

Lembramo-nos de como foi tratado o caso trágico de Gisberta, também uma mulher trans brasileira residente no Porto, que foi brutalmente assassinada em 2006. Somos constantemente relembrades, através de novos casos e denúncias, como são tratadas as pessoas imigrantes em Portugal, ainda mais evidenciados depois do caso de Ihor Homeniuk. Sabemos também que, em Portugal, a violência contra as mulheres não é tratada como um problema sério e não param de surgir casos de crime.

A violência machista, a violência transfóbica e xenófoba são vastamente ignoradas em Portugal e cabe a nós, expô-la e exigir respostas.

Apelamos às autoridades que investiguem este caso diligentemente e saibam apontar culpados, e também à comunicação social que noticie este caso com responsabilidade e respeito pela vítima. Não podemos permitir que o caso da Angelita seja tratado com desdém por parte da comunicação social e das autoridades!

Estamos solidáries e enviamos as nossas condolências à família e amigos da Angelita Correia.

Chega de violência! Chega de abusos contra as pessoas trans, as mulheres e as pessoas imigrantes!"

 

Uma carta aberta dirigida às mais altas figuras do Estado Português, aos candidatos às eleições presidenciais e aos responsáveis pelos grupos parlamentares da Assembleia da República,  entre outros, foi hoje dada a conhecer publicamente. A carta é assinada pela API -  Ação Pela Identidade e subscrita por 21 colectivos e associações exige uma investigação adequada e tomada de acção contra a transfobia. "Vivemos tempos de ascensão do ódio pelas comunidades de pessoas LGBTI e de pessoas imigrantes que vivem em Portugal, estado que iniciou o ano de 2021 não só abalado pela pandemia de covid-19, como abalado pelo crescimento da extrema-direita, que depois de conquistar assento no parlamento, apresenta um candidato à Presidência da República. Exige-se, portanto, um posicionamento por parte do Presidente da República em funções, assim como por parte das candidaturas à presidência que afirmam reger-se pelos princípios dos Direitos Humanos! Exige-se ainda um posicionamento por parte do Governo português, que assumiu o compromisso de combater a discriminação em razão da orientação sexual, da identidade de género, da expressão de género e das características sexuais, por um Portugal mais igual."

 

Apesar de todos os contornos desta história ainda não serem conhecidos, soubemos ao fim de 10 dias que o fim foi trágico. Se tens conhecimento de alguma situação de violência, desigualdade, se és alvo de bullying homofóbico ou transfóbico, ou presenciaste algum episódio de ódio ou simplesmente precisas de desabafar, recorre a alguma das seguintes organizações de apoio às pessoas LGBTI+ em Portugal.

API – Associação Plano i (Matosinhos)

APAV - Associação Portuguese de Apoio à Vítima - Rede Nacional de Gabinetes 

API - Acção Pela Identidade

AMPLOS - Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género

Casa Qui - Associação de solidariedade social pela inclusão e bem-estar da população LGBT

ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero

Linha LGBT - Linha Telefónica de Apoio e Informação LGBT

rede ex aequo -  Associação de jovens LGBTI e apoiantes: geral@rea.pt

Panteras Rosa - Frente de Combate à LesBiGayTransfobia

SOS Voz Amiga - um serviço de ajuda pontual em situações agudas de sofrimento causadas pela Solidão, Ansiedade, Depressão e Risco de Suicídio: 21 354 45 45,  91 280 26 69 ou 96 352 46 60. (entre as 16 e as 24h00)