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António Serzedelo: “Importaram para a causa gay os piores vícios da luta política”

A Opus Gay veio outra vez a público apontar para a sua exclusão da Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa. Um argumento para ouvir o seu presidente, António Serzedelo.

 

dezanove: A Opus Gay refere que tem sido excluída da marcha de Lisboa. Por que razão acontece isso?

António Serzedelo: Isso devia ser perguntado aos organizadores. Acho que é por puro sectarismo, intolerância, radicalismo, umbiguismo e como  tentativa de impor um discurso único, porque importaram para a causa gay os piores vícios da luta política partidária nacional. Enfim, pela ambição desmesurada de alguns responsáveis para ascender política, social e economicamente através do predomínio da comunidade LGBT e do nicho de mercado gay, como é o caso do Arraial, e por invejas, intrigas ou questiúnculas pessoais, que não interessam nem à comunidade, nem à causa gay. 

 

Em termos gerais concorda com os manifestos da Marcha?

Ignoro de que base partiram. Concordo com as ideias, de resto, muitas das que lá estão expressas já as vimos defendendo, mesmo antes de conhecer o manifesto, há muito tempo. Mas a prática depois, não coincide. Onde se vê a tolerância, a abertura à diversidade e a prática da cidadania?

 

Por várias vezes tem defendido um maior diálogo inter-associativo. Em termos concretos o que devia ser feito?

Exactamente o contrário do que se vem fazendo. Há muito que o digo e tento exercitar: maior partilha de dados, de informações; entabular o diálogo através de instâncias formais ou informais onde todos de todo o país se pudessem expressar; menos secretismo; mais solidariedade; mais discussão e abertura à sociedade; menos dogmatismos; perceber que a crise grave que aí vem exige que estejamos unidos nas questões básicas e saibamos criar novas formas de luta; perceber que a luta contra a homofobia é uma luta global travada em vários patamares, e de vários modos, conforme as circunstâncias e os meios, e pôr de lado questões pessoais e os ódios de estimação; tentar perceber e valorizar o que alguns já fazem bem, e não duplicar trabalho, poupando esforços e gastos e enveredar por novos caminhos; abrir novos canais de diálogo de formas horizontais e verticais. Além disso, temos de perceber que se usamos dinheiro público temos de dar satisfações públicas aos cidadãos, rentabilizando-os da melhor forma, e podendo  re ou utilizar meios uns dos outro como  espaços ou alguns  conteúdos .

 

5 Comentários

  • Andreia

    Estamos “naquela altura do ano” em que o senhor António Serzedelo vem dizer mais do mesmo. Acha que se impõe um discurso único na marcha? Então as Panteras Rosa, a Ilga Portugal, a rede ex aequo e o Poly Portugal (para mencionar alguns) têm o mesmo discurso?
    Ascenção política, económica e social? Parece-me que já cá andamos há anos suficientes para vermos a “ascenção” de muitos dos activistas LGBT em Portugal…
    Enfim, julgo que tinha mais a ganhar ao mostrar o trabalho da associação que representa.

  • António

    Opiniões de facto há muitas e é sempre melhor apresentar trabalho. Mas acredito que se a Opus Gay quisesse de facto participar, então, tratava de tomar a iniciativa dessa “proximidade” associativista e fazia por participar.
    Não é atirando pedras ao vizinho que a Opus Gay, ou qualquer outra associação, contribui positivamente para a sociedade. Lá no fundo não concordam com o que a marcha representa, ou desconhecem o que representa, ou ainda, acham que já não os representa; de qualquer das forma era importante dizê-lo com todas as letras. A falta de coragem em tomar uma atitude transparente quanto às motivações e valores da associação é que desvirtuam a causa e o associativismo, perpetuando o separatismo.
    Eu, ainda estou para ver no nosso país, uma associação LGBT que trabalhe para munir os cidadãos, quaisquer cidadãos, com as armas, argumentos, orgulho e respeito de que precisão no seu quotidiano para fazer acontecer a tolerância e aceitação da diferença, toda a diferença; porque a causa LGBT pode ser a inspiração para muitas outras causas que dignifiquem o ser humano.

  • Anónimo

    Oh, António, ao fim de 10 anos, já te deixavas de lamúrias e vinhas participar… continuas a dizer que todas as outras associações são do bloco de esquerda, e nem sequer vês que o movimento mais institucional está hoje comprometido é com o PS. Felizmente, a maioria do movimento lgbt é realmente INDEPENDENTE. Quanto à organização da Marcha do Orgulho, é aberta, como sempre foi, à participação de todos os colectivos e associações que combatem a homofobia, e há vários anos que não se entende porque é que a Opus Gay e a Ilga Portugal deixaram de estar presentes nas reuniões de preparação ao longo do ano.