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Aos 50 Anos do 25 de Abril

anabela risso

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Aos 50 anos do 25 de Abril a democracia vê-se, novamente, em perigo. Um pouco por todo o mundo vemos ressurgir das cinzas regimes de extrema-direita, partidos que põem em causa direitos já conquistados, que destroem liberdades alheias com o argumento da sua própria liberdade.

Aos 50 anos do 25 de Abril a democracia vê-se, novamente, em perigo. E a memória é curta e selectiva. Poucos são os que hoje ainda se lembram de que há 50 anos éramos considerados doentes, internados em hospícios e submetidos a procedimentos como choques eléctricos e operações cerebrais.

Em 50 anos conquistámos direitos que em muitos países continuam a ser uma mera ilusão inalcançável: o casamento, a adopção, o acesso aos devidos cuidados de saúde. Direitos com que os membros da comunidade que viveram no tempo dos nossos avós não podiam sequer sonhar. E nós estamos a esquecê-lo.

Hoje, aos 50 anos do 25 de Abril estamos, tal como a democracia, em perigo.

Os nossos direitos foram conquistados no papel, mas as mentalidades não se desconstroem e constroem ao mesmo ritmo das leis. Podemos andar na rua de mãos dadas sem ser presos, mas continuamos a temer o preconceito dos vizinhos. Podemos casar, mas continuamos a questionar-nos se o juiz de paz que nos vai calhar em sorte será extremista. Podemos ter filhos, mas sabemos que vamos ter de os preparar para as más reações da sociedade. Podemos mudar de sexo nos documentos, mas sabemos que muita coisa nos será vedada.

Agora, aos 50 anos do 25 de Abril, continuamos a não poder baixar as defesas. 

O facto de um determinado sector político querer trazer de novo ao escrutínio público temas que já foram abordados e decididos, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a interrupção voluntária da gravidez, não é em vão. Eles crêem que se postas à consideração da população em geral estas leis seriam revogadas. E a verdade é que possivelmente seriam.

Porque as mentalidades não evoluíram ao mesmo ritmo das leis.

Continuamos a ouvir comentários homofóbicos e transfóbicos na rua. Continuamos a cruzar-nos com profissionais extremistas e os nossos filhos continuam a ter de enfrentar o preconceito. Continua a não se falar sobre orientação sexual e identidade de género oficialmente, no currículo escolar. Continuamos, muitas vezes, a ser discriminados por familiares e colegas, por conhecidos e desconhecidos. Todos os anos ouvimos notícias de crimes de ódio e de ataques a eventos LGBTQIA+.

Por muito estranho que possa parecer, por muito impossível que isto soe (principalmente à camada mais jovem da comunidade) a verdade é que os nossos direitos são recentes e estão numa situação frágil. Estamos em crise e esta crise pode, num abrir e fechar de olhos, transportar-nos 50 anos para trás. 

Agora, nos 50 anos do 25 de Abril precisamos de continuar unidos. E de continuar a lutar.

 

Anabela Risso