Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Dezanove
A Saber

Em Portugal e no Mundo

A Fazer

Boas ideias para dentro e fora de casa

A Cuidar

As melhores dicas para uma vida ‘cool’ e saudável

A Ver

As imagens e os vídeos do momento

Praia 19

Nem na mata se encontram histórias assim

Ary dos Santos: O poeta da liberdade

ary dos santos.jpg

Nem um poema  nem um verso  nem um canto

     tudo raso de ausência  tudo liso de espanto

     e nem Camões  Virgílio  Shelley  Dante

 --- o meu amigo está longe

     e a distância é bastante.

 

 

     Nem um som  nem um grito  nem um ai

     tudo calado  todos sem mãe nem pai

     Ah não  Camões  Virgílio  Shelley  Dante!

 

 --- o meu amigo está longe

     e a tristeza é bastante.

 

     Nada  a não ser este silêncio tenso

     que faz do amor sozinho o amor imenso.

     Calai  Camões  Virgílio  Shelley  Dante:

     o meu amigo está longe

     e a saudade é bastante! 

                    Ary dos Santos

 

Poeta e declamador, José Carlos Ary dos Santos nasceu a 7 de Dezembro de 1937, em Lisboa, no seio de uma família da alta burguesia. Cedo se notabilizou na poesia, tendo vencido o seu primeiro concurso literário aos 14 anos, altura que viu também publicados pela primeira vez alguns dos seus poemas. Aos 16 anos Ary dos Santos saiu de casa e começou a trabalhar para se sustentar, afastando-se da família.

Assumidamente homossexual, a sua orientação sexual está longe de ser o tema central da sua escrita, notando-se apenas em alguns exemplos como O meu amigo está longe. Nos versos de Ary lemos acima de tudo a reivindicação pela liberdade, a denúncia e a resistência. Era um claro activista contra o Estado Novo e após a revolução do 25 de abril de 1974 envolveu-se fortemente no processo democrático, tornando-se inclusive afiliado do Partido Comunista Português.

Publicou diversos livros de poesia, mas foi nas canções que mais se notabilizou, tendo escrito mais de cem letras para músicas. Dessas destacam-se duas que foram levadas ao Festival RTP da Canção, Desfolhada interpretada por Simone de Oliveira em 1969 e Tourada interpretada por Fernando Tordo em 1973. O autor trabalhou ainda com outros nomes sonantes da música como Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Paulo de Carvalho.

Ary dos Santos trouxe à música e à poesia da época uma dimensão nova e um alcance político e social inovador. A exemplo disso temos a letra de Tourada que passou incólume pelo lápis azul da censura mas que é um claro exemplo de reivindicação contra o regime; e poemas como As Portas que Abril Abriu e Tríptico do Trabalho

José Carlos Ary dos Santos faleceu a 18 de Janeiro de 1984, aos 46 anos. Poeta do povo e de causas, as suas obras mantêm-se até hoje como exemplos de liberdade e resistência. Foi, para a sua época, um vanguardista nato, incontornável poeta e letrista e que desmistificou, à sua maneira, muitos preconceitos. Era um homem directo e arrojado, que não temia dizer o que precisava de ser dito. 

 

 

 

 

 

 

 

Anabela Risso

 

1 comentário

Comentar