Bissexualidade, uma reflexão
Por vezes, é difícil aceitarmos o que sentimos. E isto não é um desabafo, é efectivamente, uma constatação.
Pedem-nos, deste cedo, para sermos sinceros com os outros e dizermos sempre a verdade. No entanto, quando e quantas vezes aplicamos estas regras a nós próprios? Quantas vezes e quando é que somos verdadeiros com a nossa pessoa?
Questiono-me se de facto vivemos num Mundo assim tão cego a nível de nos preocuparmos maioritariamente mais com o parecer do que com o ser.
Assumirmos uma posição na nossa vida é assumirmos uma posição no Mundo, nem que seja no nosso (Mundo).
Ser bissexual é só e apenas gostarmos de pessoas do mesmo género e do género oposto. É só isto, e nada mais que isto. Custa-me deveras e devia de custar a nós enquanto sociedade, esta proliferação de falta de informação, este preconceito desmedido e esta ignorância atroz e lancinante.
Diz-se por aí, que bissexualidade é gostar apenas de pessoas do mesmo género, é ser-se gay ou lésbica. No fundo, não é assim tão descabido porque ao fim e ao cabo existe a atracção por pessoas do mesmo sexo, contudo sem esquecer que também é a atracção por pessoas do sexo oposto.
Quero acreditar que a falta de informação será combatida, muito em breve, com a existência destas plataformas, sites, etc.
Há muitas pessoas que fazem parte da letra B, que são efectivamente, bissexuais e têm medo do julgamento alheio e são muitas vezes confundidas como lésbicas, gays ou pessoas indecisas, que ainda não saíram do armário.
Isto não quer dizer que de facto não existam pessoas ainda a descobrirem-se, no entanto, regra geral, quando uma pessoa se considera bissexual, então é porque, sem sombra de dúvida, já se "encontrou", já se conhece e sabe aquilo que sente e age de acordo com isso mesmo.
É tão difícil fingir sermos o que não somos, ficarmos inibidos de sentir, será tão complicado dizer "Eu sou bissexual?", "eu gosto de homens e mulheres?".
Sim, é duro, porque sabemos que há pessoas importantes para nós que não vão compreender, que mesmo que não nos julguem, vão sempre julgar no seu íntimo, porque vão pensar que somos diferentes. Mas afinal de contas, não somos todos diferentes?
E já agora, quantas pessoas já sabem o que são e ignoram-no por vergonha e medo? Às vezes, medo delas próprias e não propriamente dos outros ou do que estes possam dizer.
Gosto de pensar que estamos a evoluir, de qualquer das formas, ainda há um longo caminho a percorrer na história do Mundo e na comunidade LGBTQIA+.
Eu sei que com tudo o que está a acontecer mundialmente (a pandemia, a guerra, a crise económica e da saúde mental) "não há tempo" ou grande espaço nos OCS ( órgãos de comunicação social) para falar da comunidade LGBTIQA+, mas é urgente não usarmos desculpas, até porque há tempo e tem de haver para falar do que é importante. É absolutamente crucial não descurarmos este tema, é imprescindível pôr o dedo na ferida quantas vezes forem necessárias, nunca é demais defenderemos as nossas causas.
Quantas pessoas já se suicidaram por não serem aceites, pela sua orientação sexual ser alvo de chacota e piadolas no bairro, no trabalho, nas escolas e universidades? Nem tenho coragem de consultar as estatísticas, porque acredito que os resultados sejam penosos.
Temos de continuar a lutar: falar, gritar, manifestar, debater, criar músicas, rebelarmo-nos pelos nossos direitos, pelos direitos que são de todos, sem excepção. 🌈
LGBTQIA+ é amor, é igualdade, é verdade, é autenticidade, é originalidade e luta pela igualdade em sermos diferentes.
Ana Rodrigues
PS: Dedico este texto a todos quanto o lerem mas sobretudo a quem ainda possa ter medo. Não tenham medo de ter medo. Por vezes, precisamos do medo para nos encontrarmos. Sejam vocês próprios. Sejam felizes.