Brasil: Morreu Paulo Vaz, activista trans
Paulo Vaz faleceu esta segunda-feira, 14 de Março, aos 36 anos. Conhecido como Popó Vaz, era um dos únicos homens trans activos na Polícia no país onde exercia funções de investigador.
Paulo vivia desde 2018 com o influencer Pedro Henrique Mendes Castilho (Pedro HMC), do Canal Põe na Roda, com quem era casado. Ambos protagonizaram vídeos sobre temática LGBTI.
A Antra Brasil (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) já emitiu uma nota de pesar que reproduzimos abaixo. A causa da morte não foi revelada.
"Com muita triste recebemos a notícia que o Paulo Vaz @popo_vaz nos deixou.
Paulo era querido e amado por todas a sua volta. Ativista engajado e dedicado a luta trans, sempre fez questão de construir pontes, atuar no enfrentamento da transfobia e em defesa das pessoas transmasculinas.
Homem trans gay, policial civil, sempre abordava questões sobre sexualidade e gênero de forma leve e descontraída. Era uma alma doce e um coração lindo demais.
Foi protagonista de uma de nossas campanhas pelo dia da visibilidade trans. Além de fazer diversas publicidades e participações em mídias e televisão sobre a visibilidade transmasculina.
Paulo não estará mais entre nós ou em nossos Story falando com aquele sotaque mineiro tão marcante. Infelizmente perdemos mais um de nós que não suportou continuar em uma sociedade tão violenta e desumana.
A ANTRA se solidariza a familia e amigos do Paulo, em especial ao querido Pedro HMC com o qual eram casados. Recebam nosso mais sincero abraço e nossos sentimentos.
🦋 Rest in Power Paulo 🦋
Obrigada por tudo! Seguiremos em luto, na luta.
💛 Cuidar da saúde mental é um compromisso diário que devemos manter, especialmente as pessoas trans."
A agência Mosaico que representava Popó Vaz lamentou a sua morte: "Um homem trans gay na Polícia Civil de SP, um militante e herói LGBTQIA+ que compartilhou sua história, inspirou e encorajou tantas pessoas. Você será pra sempre lembrado!"
Trans desde criança
Em 2018 Paulo Vaz concedeu uma entrevista ao portal brasileiro G1 a explicar como foi crescer enquanto criança trans. Na entrevista fala da angústia que sentiu por só saber da possibilidade da transição aos 25 anos.
“Eu sempre fui diferente. Sentia uma angústia o tempo todo. Fui uma criança bem masculina. Tem criança feminina que se identifica com o universo masculino, mas é mulher mesmo. Eu não me sentia assim. Na adolescência, quando começaram a nascer os seios, comecei a me sentir mais desconfortável. Eu queria ser homem, mas na época não sabia que isso existia. Tinha medo das pessoas acharem que eu era doido se dissesse isso”, contou Paulo.
“Fui olhar vídeos de meninos [trans] tomando testosterona e via a transformação no corpo deles em dois, três meses. Falei ‘Meu Deus, eu sou isso, sou homem trans’. Até amadurecer a ideia foram uns seis meses, porque eu estava prestando o concurso na polícia. [Pensei] deixa eu passar [no concurso], e depois vejo o que faço”, disse.
“Hoje eu me olho no espelho e não tem mais aquela angústia. Estou onde eu queria estar profissionalmente. Me sinto realizado. Faltam algumas coisas ainda para chegar aonde quero, mas estou no caminho”, concluiu.
Se estás a ler isto e estás a atravessar um período complicado não te isoles.
Se alguém em teu redor não te parece bem mostra-te disponível para ouvir e conversar sem julgar. Recomenda informação de associações LGBTI+ e contactos úteis como os da lista abaixo:
Linhas de apoio e de prevenção do suicídio em Portugal
SOS Voz Amiga
213 544 545 - 912 802 669 - 963 524 660 (das 16h às 24h)
Linha Verde gratuita - 800 209 899 (das 21h à 24h)
Conversa Amiga
808 237 327 - 210 027 159 (das 15h às 22h)
Voades - Vozes Amigas de Esperança
222 030 707 (das 16h às 22h)
Telefone da Amizade
228 323 535 (das 16h às 23h)
Voz de Apoio
225 506 070 (das 21h às 24h)
SOS Estudante
915246060 - 969554545 - 239484020 (das 20h à 1h)
Todas estas linhas são de duplo anonimato — garantido tanto a quem liga como a quem atende. Para encaminhamento, a linha do SNS24 (808 24 24 24) é assumida por profissionais de saúde.