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“Call Me By Your Name”: Cinco coisas que o filme me disse

O novo filme de Luca Guadagnino “Chama-me pelo teu nome” é baseado no livro da autoria de André Aciman. Com estreia marcada para 18 de Janeiro em Portugal, este filme já traz consigo algumas nomeações e prémios em vários festivais de cinema. 

Foi em Londres, no lendário Curzon do Soho que, a convite de amigos, assisti ao filme. Sem ainda conhecer o livro. Nada me fez preparar para a “viagem” que se seguiu. Menciono de seguida cinco momentos que o filme me suscitou:

 

VISÃO – A história de Elio e de Oliver é passada em 1983 tendo como pano de fundo a cidade natal do realizador no norte de Itália. A  técnica de filmagem de Guadagnino leva-nos pela intensidade do movimento das duas personagens principais, em que as acções de cada um se assemelham a uma dança e em que ambas personagens se vão aproximando no decorrer do filme. A luz tem um factor muito importante em todo o filme. Essa mesma luz que nos fala em vários momentos do filme. Ficamos a entender as várias situações de clareza, angústia e de introspecção através do uso das cores e reflexos que Guadagnino expõe nesta obra.

 

AUDIÇÃO – É incrível o poder do som neste filme. Não só os sons naturais que decorrem nas acções do filme, mas também a banda sonora que o acompanha. 

Desde o som das cigarras que indicam a hora de maior calor, ao som da mítica motorizada Vespa, a correia da bicicleta, assim como o soalho velho  de madeira que nos permite deambular com as personagens pela casa. Existe também a ausência de som, aquele que nos pausa o pensamento e que chega a ser desconfortável de tão intruso e verdadeiro que se torna.

A excelência do músico e compositor Sufjan Stevens, o grande criador de música para os nossos momentos nostálgicos. Entra em cada momento com uma precisão afiada que nos corta as nossas íntimas barreiras e nos deixa entregar aos sentimentos e memórias reprimidas em nós.

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TACTO – Se há momento de cortar a respiração no filme,  é o toque. O toque quente que trás consigo a promessa de pele. A necessidade de tocar e ter tocado. A descoberta de novas texturas e arrepios de pele em situações de pura tensão sexual. Desde a brisa de Verão a tocar os fios de cabelo até ao intenso toque da ponta dos dedos que transcende e faz um pedido mais íntimo de puro desejo.

 

PALADAR – Ao longo do filme a expressão “água na boca” não nos abandona o pensamento. Desde a memória dos sabores de um summertime sadness ao paladar “daquele beijo”, ao agridoce das primeiras desilusões combinadas com a exploração de novos sabores. Todo se torna uma iguaria de paladares que nos relembra o sabor do Verão. Nunca o desejo de tanta fruta se acrescentou a um filme.

 

OLFACTO – O sentido do olfacto neste filme é despoletado através das nossas memórias e pela imaginação perpétua em que nos pomos no mesmo local das personagens. Onde para além de todos os sentidos explorados no filme será o cheiro aquele me mais desejamos sentir aquando das várias tensões vividas entre Elio e Oliver.  

 

Pedro Arrayano, colaborador do dezanove.pt

 

5 Comentários

  • Anónimo

    É um filme que não pode deixar de ser visto e mostrado a todos os nosso(a)s amigo(a) independentemente da sua orientação sexual.

    É acima de tudo uma história de amor de uma beleza indescritível.

  • Van

    Vi o filme na net e gostei bastante. Sou lésbica mas realmente creio que qualquer pessoa pode apreciar o simbolismo do filme. A intensidade da descoberta, uma paixão de Verão. O cenário mediterrânico do filme….tudo isso contribui para o interesse. É daqueles filmes que não se esquecem.

  • Francisco

    Não consigo entender o fascínio com este filme (pelas nomeações e crítica). Só não desisti a meio porque o meu namorado tinha grandes expetativas (e acabou desiludido).

    Para mim é um filme belo nos locais e na música e os atores e atrizes estiveram bem para o material que tinham. Contudo a história (no ritmo morto e nos temas e mensagem algo problemáticos), a edição (nas transições de cena repentinas e sem sentido e em alguns planos estranhos) e as personagens (cujos motivos e ações são muito duvidosos moralmente e cujos backgrounds e comportamento me são demasiado estranhos para sentir empatia) estiveram mal.

    Acho estranho este filme estar a ser tão popular numa altura em que tanto se tem falado sobre abuso e se glorifica esta relação problemática entre um adulto e um adolescente de 17 anos (o Oliver e o Elio do filme). Eu senti-me muito desconfortável com o rumo da história. Algumas cenas enojaram-me. Preocupa-me que adolescentes lgbt+ (e não só) tomem esta história como modelo e não reconheçam os problemas de uma relação como a destes dois personagens (que o filme tentou minimizar).

  • Anónimo

    A idade do consentimento é de 16 anos. Como tal não vejo onde está o problema numa relação entre um adulto e um jovem quase adulto de 17 anos.