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…E a Marcha não aconteceu

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Gostava de começar por deixar duas palavras a todas as pessoas que ao longo de meses se dedicaram, deram do seu tempo, por vezes do seu dinheiro, a planear o acontecimento maior da Família Arco-Íris, a Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, Bem-Hajam e Obrigado.

 

Medidas preventivas de combate à pandemia Covid-19 foram impostas na área Metropolitana Lisboa, abrangendo 18 concelhos.

A Comissão Organizadora (CO) da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa (MOL) reagiu atempadamente, reduzindo em muito os meios nesta 22ª Marcha, habitualmente usados no desfile.

Foram retiradas as presenças de autocarros e carros de som, a fim de evitar aglomerados em seu redor, foram reduzidos cartazes, faixas e a emblemática bandeira gigante, comum a muitas Marchas do Orgulho do Mundo.

Foi ainda preocupação da CO, todas as medidas de protecção pessoal contra o covid-19, como o uso obrigatório de máscara, o distanciamento de dois metros, a recorrente desinfecção das mãos e a proibição de bebidas alcoólicas.

Não se compreende que ao fim de vários contactos com a Câmara Municipal de Lisboa, Polícia de Segurança Pública e a própria Direcção Geral de Saúde, esta só tenha dado parecer desfavorável ao final do dia, véspera da realização do evento e ao arrepio de autorizações dadas a clubes de futebol, partidos políticos e sindicatos.

A CML engalanou a praça dos Restauradores para o evento, a PSP planeou o seu dispositivo visto que o trânsito iria ser limitado na avenida nobre da cidade e outras medidas necessárias para um evento desta evergadura.

Assim a  CO da Marcha do Orgulho de Lisboa mostrou-se responsável e consequente ao acatar o parecer da DGS, cancelando o evento.

Apesar de tudo isto o Dia do Orgulho foi assinalado.

Numa iniciativa do Bloco de Esquerda já programada, teve lugar no Campos Mártires da Pátria uma acção com a finalidade de abordar a história das Marchas do Orgulho e dos 20 anos da Marcha de Lisboa.

Também entre o Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores foram umas centenas de pessoas equipadas com as cores do arco-íris e de bandeiras em riste que, apesar da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa ter sido cancelada, fizeram questão de marcar presença no espaço que lhe era reservado.

Assim fruto da reacção tardia da DGS, em vez de uma manifestação organizada cumprindo as regras de protecção pessoal, acabou por se realizar um ajuntamento desregulado, sem organização e sem cumprimento de regras por parte de alguns.

Toda esta situação mostrou-nos também que, se não existir união entre as associações, colectivos, activistas e membros da comunidade LGBTQI+, sairemos sempre perdedores.

Toda esta situação mostrou-nos também que, se não existir união entre as associações, colectivos, activistas e membros da comunidade LGBTQI+, sairemos sempre perdedores.

Tenho apelado várias vezes à união para enfrentarmos o futuro que se avizinha complexo e perigoso para os direitos LGBTQI+, basta olhar para o que se passa em certos países da Europa.

Ficou bem visível essa falta de união, de orientação comum e de ‘cada um falar por si’. Isso torna-nos mais frágeis.

O grande desafio que, por estes acontecimentos, nos foi colocado é sem dúvida a UNIÃO, deixando para trás pequenas divisões internas. Esse é o primeiro e grande desafio que temos pela frente.

Não estamos livres de ideais políticos, que podem pôr em causa esses direitos, ganharem força e de um dia para o outro e começarmos a ver ameaçado o que dava-mos como certo.

As pessoas LGBTQI+ devem também ter presente que a visibilidade traz a naturalidade e que isso depende de todas e cada uma por si. É urgente dar as mãos em público, não ter receio de gestos de afecto, de roubar um beijo ou envergar um pin, um crachá, uma peça de roupa alusiva à comunidade e às suas causas.

Além da luta contra o covid, que é transversal à sociedade, temos de retomar as nossas lutas com toda a esperança de que mais uma vez vamos conseguir.

Vamos a meio do ano e apelo que façamos para que no final, o balanço deste ano seja melhor do que 2020.

Vamos continuar a lutar, para que um dia mais ninguém tenha de sair do armário por não ter necessitado de estar dentro dele.

 

Miguel Rodeia

 

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