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Na semana passada foi noticiada a descoberta de uma “cura” para a homossexualidade. O líder do grupo responsável por tal “descoberta” foi o Dimitri Yusrokov Slamini do Instituto Russo para as Ciências Médicas em Novosibirsk.

A abordagem sugerida por estes “investigadores” assenta na administração de testosterona em jovens desde tenra idade. Segundo o senhor Dimitri, a homossexualidade tem origem num desequilíbrio hormonal provocado pela poluição por Xenoestrogénios (substâncias semelhantes aos estrogénios - produzidos de forma artificial) que tem efeitos nocivos no sistema endócrino (este sistema, em termos simples é: o conjunto de órgãos no nosso corpo que produzem hormonas). No meio desta história toda, só uma coisa está cientificamente correcta: Existem, sim, poluentes que se assemelham aos estrogénios e são responsáveis por provocar distúrbios endócrinos. Contudo, não existe nem um único estudo que relacione estas substâncias com as causas da orientação sexual. Assim sendo, estes pseudo-cientistas estão a cometer uma enormíssima gafe científica, ou seja, desenvolver um tratamento com base numa hipótese nunca antes esmiuçada.

 

Para além disso, foi referida, nessa mesma comunicação, o INAH-3 (uma parte do hipotálamo que, por sua vez, é região do cérebro que comunica com o sistema endócrino), que tem uma dimensão inferior nas mulheres em comparação com os homens. No caso dos homens homossexuais, O INAH-3 tem dimensões intermédias àquelas verificadas nos homens heterossexuais e mulheres. No caso das mulheres homossexuais, não foram encontradas tais diferenças. Deste modo, estes escravos da política, alegam que existe um substrato biológico para a origem da homossexualidade. Acredito que isto seja verdade. Da mesma maneira que há um substrato biológico para o nosso humor, inteligência, personalidade, etc. No entanto, estes substratos não têm uma localização singular. Na verdade, este substrato consiste num complexo e intricado conjunto de circuitos neurais. Para além disso, não existe ainda nenhuma evidência que o INAH-3 esteja verdadeiramente correlacionado com a homossexualidade uma vez que é baseado numa amostra muito reduzida que consistia em 16 cadáveres de homens declaradamente homossexuais.

 

Revoltantes são as tentativas de arrombar com as barreiras éticas com base numa conjuntura político-cultural de profunda cegueira e ignorância. Admitamos agora que se conseguiria atacar com precisão os circuitos neurais implicados na orientação sexual. Tal coisa, por motivos éticos, não seria legítimo executar por diversas razões que vou passar a expor. Em primeiro lugar, a homossexualidade não é considerada (pela Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) uma doença desde de 1973. Todas as terapias utilizadas até agora, que incluíam histeroctomias (remoção do útero), injecções de estrogénios, lobotomias (remoção de certas áreas do cérebro – muito usada durante a Segunda Guerra Mundial), terapia de aversão e até mesmo castração, foram, sem excepção, cientificamente provadas como ineficazes. E porquê? Porque a orientação sexual, tal como a nossa personalidade, inteligência, entre outras características psicológicas, tem origem na combinação de factores genéticos, hormonais e ambientais, e assim sendo, qualquer tentativa de alterar tal perfil psicológico é, eticamente, considerado um atentado ao direito à autonomia e à autodeterminação de um indivíduo.

Perdoem-me os leitores pela adjetivação agressiva utilizada na descrição do panorama político-cultural contemporâneo. Mas a questão aqui é que a história, a arqueologia e antropologia já nos mostraram que a homossexualidade é uma variante dentro da normalidade da nossa espécie. Apenas um exemplo: Nas tribos xamanistas da Sibéria, os homens gays eram considerados como indivíduos mais sensíveis e também possuidores de poderes mágicos, entre os quais o poder de sentir a vontade dos deuses, e por isso mesmo, eram nomeados como líderes espirituais, ou seja, os xamãs, e tinham o direito de se vestirem de mulher e casar com o homem que desejassem. Agora, deixo aos leitores a liberdade para concordarem ou não com a minha falta de resignação com a sociedade contemporânea. Uma sociedade onde até a ciência se vende ao diabo para cumprir agendas políticas fascistas, absolutistas e vergonhosamente desprovidas de inteligência social.

Existe uma parcela considerável da população privada de direitos fundamentais. Todos nós devemos saber usar os argumentos aqui citados para nos defender. Não devemos ter vergonha. Não devemos achar que estamos mal. E, acima de tudo, não devemos discriminar outros que, tal como nós, estão no mesmo barco. Talvez não seja na nossa geração, mas isto vai mudar.

Enquanto cientista, não me calarei enquanto os meus Direitos e o meu Amor à Ciência forem violados por investigadores e políticos energúmenos.

 

César Monteiro

 

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