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Nem na mata se encontram histórias assim

"Episódios de Fantasia e Violência" de p. feijó

p feijo

“Acontece de novo. 

Desço a rua e passo por três gajos a falarem em frente a um restaurante. 

Dá-se um silêncio - e, mal lhes dou as costas, um deles diz algo e todos riem. 

Não oiço, mas sei que é sobre mim.

Há uma cadência muito específica na conversa, no quebrar do silêncio, no irromper do riso. 

Por mais que não se queira, aprende-se a reconhecer estas coisas.”

 

"Episódios de Fantasia e Violência", publicado pela Orfeu Negro (2024), é a mais recente obra poética de p. feijó e conta com concepção gráfica de Rui Silva e revisão de Nuno Quintas.  

Para quem não a conhece, p. feijó é escritora, investigadora e militante da monstruosidade, enquanto teoria e práxis de lutas minoritárias (deficiente, feminista, cuir, anti-racista, de classe), pode ler-se na sua bio. Licenciada em Estudos Gerais na Universidade de Lisboa, concluiu mestrado em História e Filosofia da Ciência na Universidade de Cambridge. É doutoranda em Retórica na Universidade da Califórnia, Berkeley, e publicou Bichxs de Merda: Aristóteles, Fêmeas e Outros Monstros De-generativos (maio edições, 2023), é autora do prefácio das edições portuguesas do Manifesto Contra-Sexual, de Paul B. Preciado (Orfeu Negro, 2019; Unipop, 2015), e tem colaborado com as revistas Electra, Umbigo e Bestiário.

Nesta obra, Episódios de Fantasia e Violência, ensaio-poema autoerótico, leitura performance apresentada em diferentes salas entre Lisboa e Porto, podemos encontrar um relato da artista sobre um mundo violento para com quem não obedece a ordem binária de género, mais especificamente, para quem não se encaixa na experiência masculina dominante.

Por meio da revisita autobiográfica de episódios do seu dia-a-dia, p. feijó traz-nos um testemunho importante sobre o que o título logo em si anuncia, “episódios de fantasia e violência”. Rapidamente encontramos pontos de referência à obra de Paul Preciado sobre o que este teoriza sobre a monstruosidade, a transformação, metamorfose de corpos e identidades facilmente remetidos para o “erro” e violência ao não encaixarem nas definições dominantes e legalmente reconhecidas de identidade e expressão de género e orientação sexual.

Um livro de bolso que nem por isso perde o seu poder, merecendo ser lido e relido, lançando-nos a curiosidade sobre o trabalho da artista.

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.