Espelho meu, espelho meu…
Tal como prometido, a crónica desta semana é acerca de Narcisismo.
Pode parecer um tema um bocadinho inesperado, uma vez que a maioria das minhas confissões têm sido acerca de coisas que correm mal na minha vida amorosa (quando eventualmente já passou tempo suficiente para eu me rir delas), mas uma das conclusões às quais cheguei nos últimos dias, é que eu sou um íman para narcisistas disfuncionais.
Como sou curioso por natureza, andei a pesquisar acerca do assunto (recomendo o canal de YouTube da Dra. Ramani Durvasula, uma psicóloga perita nisto) e achei que valia a pena partilhar convosco algumas das coisas que aprendi. Desta forma, nós manas providas de empatia, podemos “ajuntar-nos para parecer que somos mais” (quem não reconheceu a citação é porque nunca viu a Bicha do Demónio, motivo pelo qual eu acabei de vos revogar a licença para serem gays).
Em traços muito gerais, há a tendência a considerar um Narcisista como uma pessoa extremamente vaidosa, “com a puta da mania”, etc.
No entanto, há uma linha (mais ou menos ténue, dependendo das circunstâncias), que separa o Narcisismo Funcional: vaidade e auto-confiança em doses saudáveis, um bom sentido de auto-valor e um pescoço capaz de levantar o olhar acima do próprio umbigo; do Narcisismo Disfuncional. No caso do Narcisismo Funcional, uma pessoa tem algumas características narcisistas mas em doses saudáveis e revestidas de um sentido grande de empatia pelos outros que mantém essas características controladas.
No caso do Narcisismo Disfuncional, a pessoa basicamente tira selfies ao espelho a olhar para o telefone em vez de olhar para a câmara do telefone… fora de brincadeiras, Narcisismo Disfuncional é o que acontece quando os traços funcionais desejáveis não têm qualquer sentido de empatia para os manter controlados, e quando há uma insegurança patológica tão grande que a única forma de colmatar essa insegurança é através da criação de uma ideia insuperável de ‘eu acima de todos’. Há vários sub-tipos de Narcisismo Disfuncional (uma leitura interessante para quem tiver curiosidade) mas, de uma maneira geral, as consequências para o outro são as mesmas: joguinhos de manipulação psicológica, exploração emocional, possessividade, etc. Muito sucintamente, praticamente todas as formas de abuso emocional que se conhecem.
Narcisismo Disfuncional é o que acontece quando os traços funcionais desejáveis não têm qualquer sentido de empatia para os manter controlados, e quando há uma insegurança patológica tão grande que a única forma de colmatar essa insegurança é através da criação de uma ideia insuperável de ‘eu acima de todos’.
Infelizmente, e porque como em tudo na vida, a regra de que “os opostos se atraem” também se aplica a isto, narcisistas e pessoas empáticas tendem a atrair-se mutuamente de uma forma extremamente intensa: o narcisista porque vê no empático uma fonte quase inesgotável de afecto e validação, e o empático porque vê no narcisista alguém que precisa de “ser salvo” e “se o Luke Skywalker redimiu o Darth Vader no final, eu também consigo fazer isto funcionar”.
No entanto, as coisas não funcionam bem assim.
A minha experiência até agora depois de dois narcisistas me terem enrolado durante meses (o Fantasma do Verão Passado acerca do qual nunca escrevi e se calhar devia, e o “Jamie”), é que não é possível mudar estas pessoas. A própria Psicologia diz que é muito difícil “curar” um Narcisista Disfuncional porque além de terem o “músculo” da empatia completamente atrofiado, têm uma ideia tão vincada que “eu sou assim, e os outros têm que aceitar” que não conseguem perceber a necessidade de desenvolver esse músculo. É a definição perfeita de Ciclo Vicioso.
“Então mas ele disse tantas vezes que gostava de mim…” e isto é mais uma ideia interessante: quando um narcisista diz isso, não quer dizer que gosta realmente da outra pessoa. No mundo deles, aquilo que eles realmente gostam é de haver uma pessoa que gosta deles, que os valida e eles gostam da forma como a outra pessoa os faz sentir. Nunca há um afecto genuíno pelo outro e daí as reacções explosivas quando a outra parte diz que se vai embora, ou quando tenta confrontar um narcisista.
No mundo deles, aquilo que eles realmente gostam é de haver uma pessoa que gosta deles, que os valida e eles gostam da forma como a outra pessoa os faz sentir. Nunca há um afecto genuíno pelo outro e daí as reacções explosivas quando a outra parte diz que se vai embora, ou quando tenta confrontar um narcisista.
No caso do “Fantasma do Verão Passado”, eu devia ter percebido que não havia ali nada para mim quando no segundo encontro a primeira coisa que ele me pediu (até antes de me dar um beijo ou um abraço), foi para lhe ir tirar umas fotos num sítio por onde ele tinha passado e onde a luz era óptima… No caso do “Jamie”, eu devia ter percebido quando dei por mim a achar que a melhor maneira de me afastar era “ficar amigo, porque se eu cortar completamente, não o ajudo a crescer e ele vai continuar a fazer isto a outras pessoas”… Complexo de Salvador ao rubro.
Por isso, manas, a deixa com que vos deixo é que percebam bem a diferença entre “ele causa-me um friozinho na barriga” e “ok, isto não é só um friozinho, esta pessoa deixa-me ansioso”. Se for ansiedade, como diz o José Castelo-Branco: “FUJAM!! FUJAM DAS DROGAS!!”
E vejam o canal de YouTube da Dra. Ramani.
R. J. Ripley