Estereotipar é um acto de censura
Desde que me recordo que tenho contacto com estereótipos de género. As típicas frases de “azul é para os meninos e rosa é para as meninas”, “os meninos brincam com carros e as meninas com bonecas”, “os rapazes não choram”. Estes são apenas três meros exemplos e poderia passar este artigo todo a enumerar outros tantos que ouço desde que tenho memória, mas esta questão não se trata unicamente da minha experiência pessoal.
Convenções sociais e de género, como referi anteriormente, sempre existiram e tem vindo a ser desconstruídas e postas em desuso, mas esta rotulagem continua a afectar principalmente as crianças e os adolescentes.
Muitas pessoas tardam a perceber a discrepância entre o significado de sexualidade e expressão de género, essa fracção de pessoas precisa de entender que a forma de uma pessoa amar outras pessoas, nada tem a ver com a forma como essa pessoa age, como fala, como se veste, que acessórios usa, se usa maquilhagem ou não,… e ao associar estes dois conceitos formam-se estereótipos de género.
Estes estereótipos dão a entender, maioritariamente aos jovens, que estes tem de se enquadrar segundo os padrões que a sociedade tenta impingir, ou seja, separar o que é conceptualmente “normal” para uma mulher e para um homem, não querendo dar espaço para haver uma combinação de ambos ou a “inversão de papéis”.
Seja um encarregado de educação, seja um professor, quem quer que seja, impedir uma criança ou adolescente de experimentar e explorar algo que não é “normal” para o seu sexo biologicamente adquirido à nascença é limitar a sua liberdade de expressão; não é a forma correcta de educar, é a forma de fechar portas à inocência de um menino que quer usar uma saia ou maquilhar-se ou de uma menina que quer jogar futebol e andar com os seus amigos rapazes.
Apesar de tudo o que a sociedade (em demasia) preconceituosa e conceptualista já fez e continua a fazer, sempre houve pessoas que desafiaram a binariedade e que rejeitaram os padrões de género, mas a obsessão constante de certas pessoas entre dois conceitos que estão tão afastados um do outro faz-me questionar a evolução que tivemos.
A expressão de género não pode ser interpretada como uma característica específica da sexualidade de alguém. Estereotipar é um acto de censura. Não gera evolução, gera mais preconceito, mais ódio, menos liberdade e menos felicidade na vida das pessoas.
Continuar integralista e expectante de uma “sociedade perfeita” e cheia de caixas que as pessoas sentem a necessidade de integrar, não nos vai levar a bom porto; não vai ajudar as crianças de amanhã a sentirem-se seguras para serem quem querem e a expressar-se da forma como entendem, vai sim cortar-lhes as asas. Não só a elas, mas também a nós.
Miguel Máximo, Estudante e Activista