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Eva Brown: "Temos muito boas artistas no transformismo em Portugal"

Eva Brown

É a grande vencedora do título Melhor Actuação da 26ª Gala Abraço que decorreu no passado Sábado em Lisboa. Eva Brown chega-nos de Leiria e começa agora o seu reinado de um ano.

dezanove: Como e quando chegaste ao transformismo? Há quantos anos és transformista? Consegues fazer desta arte uma profissão a tempo inteiro ou tens de complementar?
Eva Brown: Cheguei à arte do transformismo em 2007 quando a minha madrinha de palco andava em busca de alguém para fazer parte do grupo de residentes do antigo Moinho de Vento, no Porto, e juntamente com um amigo que me maquilhava, fiz uma experiência e gostei. Acabei por ficar na equipa residente dessa casa. Se dá para fazer disto uma profissão a tempo inteiro? Infelizmente não, na zona centro existe apenas uma casa com espectáculos (Glitz Club) onde actuo alguns fins-semana por mês é difícil viver apenas disso. E nas grandes cidades, como Lisboa ou Porto, a oferta já é muita sendo difícil ser-se chamado para essas casas.

 

Por que razão escolheste esse nome artístico?
O meu nome foi escolhido pela minha madrinha de palco (Barbara Santoro), tendo como referência a amante de Hitler (Eva Braun) que segundo reza a história era uma mulher de forças.

 

Então quem são as tuas divas de palco?
As minhas divas de palco… se formos a falar fora do transformismo, teria que ser sem dúvida a Beyoncé, mas também me identifico com muitas outras como a Lady Gaga, Jennifer Lopez, Celine Dion e Cher, por exemplo. Dentro do meio artístico do transformismo, também tenho várias artistas com as quais me identifico e por vezes até me inspira, como é o caso da Cláudia Fux, Susana Mastroianni, Wanda Morelly entre muitas outras. Temos muito boas artistas no transformismo em Portugal. 

 

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As pessoas ainda confundem muito a arte do transformismo com orientação sexual? Queres ajudar a esclarecer isso para quem te vai ler?
Ui, é algo que já tentei explicar várias vezes e que a melhor forma de o fazer é usando o teatro como exemplo. Um actor de teatro que vista a pele de uma mulher numa peça ou revista, não o faz pela sua orientação sexual, mas sim pelo prazer que tem em representar seja de que forma for. Eu vejo o transformismo da mesma forma, não é obrigatório um transformista ser homossexual visto que o que fazemos é representar num palco como um actor de teatro. Mas numa vertente mais musical, mais excêntrica e focada no mundo feminino, mas não é uma regra, já temos bastantes artistas (drags) que usam a arte numa vertente mais masculina, mais andrógena. 

 

Como está a ser a tua experiência artística em Leiria? E como é viver no dia a dia em Leiria? Sente-se uma boa aceitação das pessoas LGBTI?
A minha experiência artística em Leiria foi quase como começar do zero, comecei em Março do ano passado na antiga casa (Royal Club) por “insistência” de uma artista, a Jessy Pedroza, porque como ela dizia, via o brilho nos meus olhos quando conversávamos sobre isso. Um dia cedi ao seu pedido de fazer um dueto em palco com ela, e pronto, daí em diante não parei. A experiência em Leiria é muito mais familiar do que a que tive no Porto, por exemplo. O público é mais regular e acabamos por formar bastantes laços afectivos com eles, mas também a exigência acaba por ser maior. Quanto à  aceitação, na minha experiência é bastante positiva. Desde muito novo que sou assumido, tenho uma relação bastante longa, não me escondo e até hoje nunca tive uma reacção mais negativa ou qualquer tipo de homofobia. 

 

O que pensas que esta nova discoteca pode trazer ao centro do país?
O objectivo do Glitz Club, casa da qual eu faço parte desde o seu início, é criar um espaço para todas as pessoas, onde todos se sintam bem e possam agir de forma natural. Um espaço onde se podem divertir, conversar, dançar e assistir todas as semanas a um espectáculo diversificado de transformismo. A zona centro já teve alguns espaços do mesmo género e a meta do Glitz é tornar-se numa referência da noite na região.

 

Para além de Leiria, onde é que te podemos encontrar a actuar em Portugal?
Neste momento sou residente da casa de Leiria o que faz com que actue todas as semanas nesta casa.

 

Qual foi a sensação de ser a vencedora da 26ª Gala Abraço?
Até hoje ainda me sinto meio incrédulo. É difícil gerir o acontecimento de Sábado. Toda aquela experiência que vivi durante todo o dia e noite de foi fantástica. De realçar que foi a primeira vez que actuei num teatro e para um público tão grande o que fez com que os nervos fossem imensos. Conheci imensa gente, várias artistas que só conhecia das redes sociais e que tive a oportunidade de conhecer e conversar, isto aliado ao título no final da gala foi inacreditável. Estou muito feliz e desejoso de poder ajudar a Associação Abraço no que puder. Acredito que o título não seja só um título, mas uma forma de levar o nome do transformismo mais à frente e em todas as vertentes possíveis.

 

O que te levou a escolher aquela prestação?
A prestação não podia deixar de ser Beyoncé,  é uma artista que venero bastante e me inspira em todos os espetáculos que faço. Daí fazer-me sentir mais à vontade na tarefa que tinha pela frente, e com a ajuda de dois grandes amigos, João Ferreira e Leandro Noronha, autores da coreografia apresentada na Gala - e a quem agradeço o companheirismo e a disponibilidade que tiveram em aceitar o desafio que lhes propus.

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Que conselhos queres deixar aos jovens queer que estão agora a descobrir-se?
Sou péssimo a dar conselhos, mas posso dizer uma coisa que segui durante toda a minha vida:  Sejam vocês mesmos, vivam a vida à vossa maneira, mas sem esquecer o respeito pelos outros. Lutem pelos vossos objectivos para conseguirem todas as vitórias que desejam.  E acima de tudo, sejam felizes!

 

Fotos cedidas por Eva Brown
Entrevista de Paulo Monteiro